Com a ambição cultivada de ficar rico com venda de pedras preciosas, as conversas sobre velhos que
esconderam algum tesouro começaram a despertar curiosos e interessados.
Na beira do
Rio Morocó, em Santa Rita do Trivelato, no Mato Grosso, a vizinhança lembrava o
velho Tomé e dizia-se que ele tinha enterrado uma panela de barro com pedras
preciosas e muito ouro.
As conversas
foram criando enredos e, de repente o neto do velho Tomé começou a sonhar com o
possível acesso às supostas preciosidades enterradas. Os vizinhos, pensando em
poder haurir, pelo menos uma pequena partilha do eventual achado, animaram o
neto, apelidado de Fiuca, a fazer uma sondagem. Comentaram que o Pedro Mané
havia adquirido um sensor para localizar pedras preciosas.
Fiuca foi
até Pedro Mané para pedir-lhe uma verificação de possíveis minérios de valor,
e, este como andava vibrante com a possibilidade de também ficar muito rico, combinou
para ir lá, no dia seguinte.
Assim que o
sol começou a despontar, estavam ali, Fiuca e alguns vizinhos, esperando Pedro
Mané. Sem demora, apareceu numa velha Kombi e a encostou no pátio, ao lado do
velho galpão. Escancarou as portas da Kombi e puxou para fora aquele trambolho
cheio de fios e aparentando algo bem sofisticado e misterioso. Não andou três
metros e aquele aparelho começou a emitir sinais com sons estranhos e luzinhas vermelhas
piscando. Na medida que chegou mais perto do velho galpão, estes sinais
passaram a aumentar de intensidade e o nível mais alto se manifestava ao redor
do poste de aroeira, com mais de um metro de grossura, e, alguém já sugeriu que
deve ter sido ali, ao lado do cepo, que o velho enterrou sua panela. A
expectativa tornou-se animadora e vibrante.
Entusiasmados,
começaram a escavar com picareta e enxadão, mas, depois de mais de duas horas,
já estavam cansados e resolveram chamar o homem da retroescavadeira. Veio
rápido e começou a alargar a cova e a aprofundá-la até o limite possível de
três metros de profundidade. Muita terra removida, ciscada, e observada por muitos
olhos, que nada identificaram além do normal daquele solo. O homem da sonda, a
cada pouco acionava seu aparelho e este aumentava os sinais na medida que se
aproximava do poste.
Mais uma vez,
uma voz de opinião elucidativa de outro vizinho despertou os ânimos. Achou que
o velho deveria ter enterrado o ouro dentro do cepo. Resolveram escorar o
galpão e extrair o cepo, pensando que ali deveria estar a fonte da riqueza, mas,
nada foi constatado, mesmo com o cepo cortado em pequenas porções com motosserra.
No entanto, no lugar do poste, no alto da imensa cova é que o sensor emitia
sinais mais intensos e fortes.
Foi então
que um terceiro vizinho, curioso e desconfiado, entrou dentro do galpão para
verificar se a suposta pipeta de preciosidades não estivesse escondida, bem no
cantinho do galpão. Ao chegar ali, viu um tonel velho, quase cheio de cacarecos
de ferro e ferramentas estragadas. Trouxeram o aparelho de sondagem e
verificaram, - decepcionados, - que o sinalizador de metais reagiu frente a
poucos pedaços de cobre que estavam no meio do ferro velho jogado no tambor.
Além do desencanto, restou fechar a imensa cratera, arrumar outro cepo e
custear as despesas de sondagem e serviço de máquina escavadeira.
O sonho
grande, alargado com fantasia exuberante, renderia apenas alguns reais em cobre.
Assim, seguiu-se silêncio sobre riqueza fácil na beira do Rio Morocó. Fiuca,
prostrado, teve que engolir seco o acalantado sonho de ficar rico com histórias
contadas sobre seu avô.
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