A região do
Rio Morocó, perto do Pacoval, no município de Santa Rita do Trivelato, MT, era
conhecida pela valentia de onças, queixadas e sucuris. Com brejos e grandes matas
nativas, era um santuário de muitos bichos. Pouca gente se arriscava a acampar
na beira do rio ou, a fazer uma pescaria naquelas águas. Por lá, também
existiam lavouras férteis e de muita produção agrícola, como a do seu Domingos.
Seu “Mênego”
nem era conhecido pelo seu nome de batismo, que era Domingos. Homensarão
grande, corpulento, com quase dois metros de altura e pesando em torno de 110
quilos bem distribuídos, chamava atenção por toda parte, não só pelo tamanho e pela
farta musculatura, mas, também, porque tratava bem seus cabelos pretos, longos
e ondulados sobre os ombros. Além disso, usava sempre um chapéu de pano e barba
comprida. Encaixava-se legitimamente no imaginário de um profeta. Conversava
até pelos cotovelos e sabia engrandecer suas múltiplas aptidões. Era do tipo
“Joãozinho que faz tudo”. Bom pedreiro, bom mecânico, bom pescador, bom
agricultor e extraordinariamente generoso para ajudar em festas e promoções da
comunidade. Aparentava uma idade de cinquenta anos.
Num ano seu
“Menego” planejou plantar uma enorme lavoura de melancia. Calculava, por toda
parte onde ia, quanto esperava tirar de lucro, uma vez que naquela região,
melancia e abacaxi, além de outras variadas frutas, rendiam muito e eram muito
saborosas. Na medida que as melancias iniciaram a fase de amadurecimento, as
conversas do seu “Mênego” se espalharam pela cidade e como ele era falastrão,
comentava que lá ninguém iria roubar nenhuma melancia. E falava que seu rifle
iria espalhar muito chumbo em cima de quem tentasse entrar na sua lavoura de
melancia.
A
publicidade com ameaças a eventuais ladrões, despertou uma rapaziada malandra,
para furtar algumas melancias e provar se aquele tamanho de um trator do
“Mênego”, realmente seria tão valente no tiro. Combinaram fazer uma janta de
polenta com passarinhada, prato que seu “Mênego” adorava como bom descendente
de italiano.
A tática
funcionou, e, enquanto seu “Mênego” animado com a janta contava causos e falava
de pescaria e caçadas, alguns do grupo foram na sua lavoura e roubaram em torno
de dez melancias grandes e boas.
Dias depois,
seu “Mênego” constatou que haviam sido furtadas algumas melancias. Mandou
confeccionar um painel bem grande com o letreiro em cor azul: Tem melancias
envenenadas. A rapaziada não perdeu a oportunidade de acrescentar mais um
capítulo ao enredo. Mandaram confeccionar outro painel com letras vermelhas e
vistosas e a colocaram ao lado do outro painel: “As outras melancias também
foram envenenadas”.
Seu “Mênego”
vasculhava e auscultava, durante dias, toda conversa para descobrir quem fez a
arte, pois iria manda-los para a cova com seu rifle. Como não descobriu, entrou
em depressão, porque seu lucro estimado virou em pesadelo: todas as melancias
apodreceram na lavoura, uma vez que a eventualidade de ingestão daquelas
melancias poderia ser fatal. Por outro lado, ninguém sabia se as melancias
foram ou não foram envenenadas. Na dúvida, prevaleceu a segurança de não
consumir melancia daquela lavoura.
Com o enorme
prejuízo, faltou até dinheiro para tratar a depressão, e, o seu “Mênego” ficou
mais de ano sem sair de casa, num estranho lusco-fusco de desejar a morte e de
querer achar um motivo para continuar vivo. Depois do longo período depressivo,
virou pescador a andar sozinho com seu bem equipado barco pelo rio Teles Pires,
sem mais ninguém dos velhos companheiros.
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