quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O LOUCO AJUIZADO

 

 

            Nos idos tempos em que ainda funcionava, a plenos vapores, o Hospício São Pedro, no bairro Partenon de Porto Alegre, ocorreu um episódio interessante. Ali estavam confinados muitas e muitas centenas de homens e mulheres, internados como pessoas loucas.

            Quando alguém virava a “ovelha negra da casa” e todos descarregavam raivas e culpas sobre esta pessoa, ela acabava psiquicamente transtornada. Outros vinham de predisposições psicopáticas, maníacas, neuróticas, psicóticas, paranoicas e tantas outras morbidades insanas do seu ambiente familiar. A solução automática era a de encaminhar tais pessoas ao Hospício São Pedro, um império imenso de gente desvairada, andando por todo lado, entre muitos prédios. Uns andavam sem roupa, outros faziam cocô na porta de entrada do dormitório e assim por diante. Era um fenômeno que interpelava o juízo de quem se considerava lúcido e normal. Pessoas com transtornos psíquicos de todo Estado do Rio Grande do Sul eram internadas neste famoso Hospício São Pedro.

            Num dia destes, do alto de um dos prédios, pessoas da direção olhavam através de uma enorme janela a movimentação das pessoas internadas, andando para lá e para cá, nos imensos pátios arborizados. Um pouco adiante, via-se um lago majestoso, com entorno romântico de flores e arbustos, e uma movimentação deslumbrante de pássaros.

            Observaram que um dos internados, conversava com outros, ao lado do lago, e segundo informação posterior dos que ali se encontravam, este internado falou que iria suicidar-se. Sem muita cerimônia, jogou-se no lago, quando sequer sabia nadar. Um dos homens que estava ao seu lado, ao perceber o colega já estava se afogando, saltou imediatamente na água e conseguiu agarrar o pretendente do suicídio pelo cabelo e o trouxe para fora do lago.

            Sem demora, um dos funcionários foi até lá e chamou o socorrista para elogiar sua conduta e o seu gesto ajuizado e de bom-senso. Falou que já estava progredindo tão bem, que poderia ser liberado para sair do hospício muito em breve.  Lamentou, no entanto, que apesar do seu empenho edificante pela salvação do vivente, ele acabou morrendo por enforcamento, pois, estava ali perto, pendurado num galho de árvore.

            Foi, então que o ajuizado socorrista respondeu: não, ele não se enforcou! Eu apenas o pendurei no sol para que pudesse secar a sua roupa.

            Verificou-se, então, que a normalidade de juízo ainda estava muito aquém do nível suficiente para que o dito socorrista pudesse ser devolvido ao seu ambiente familiar.

 

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