Nos idos
tempos em que ainda funcionava, a plenos vapores, o Hospício São Pedro, no
bairro Partenon de Porto Alegre, ocorreu um episódio interessante. Ali estavam
confinados muitas e muitas centenas de homens e mulheres, internados como pessoas
loucas.
Quando
alguém virava a “ovelha negra da casa” e todos descarregavam raivas e culpas
sobre esta pessoa, ela acabava psiquicamente transtornada. Outros vinham de
predisposições psicopáticas, maníacas, neuróticas, psicóticas, paranoicas e
tantas outras morbidades insanas do seu ambiente familiar. A solução automática
era a de encaminhar tais pessoas ao Hospício São Pedro, um império imenso de
gente desvairada, andando por todo lado, entre muitos prédios. Uns andavam sem
roupa, outros faziam cocô na porta de entrada do dormitório e assim por diante.
Era um fenômeno que interpelava o juízo de quem se considerava lúcido e normal.
Pessoas com transtornos psíquicos de todo Estado do Rio Grande do Sul eram
internadas neste famoso Hospício São Pedro.
Num dia
destes, do alto de um dos prédios, pessoas da direção olhavam através de uma
enorme janela a movimentação das pessoas internadas, andando para lá e para cá,
nos imensos pátios arborizados. Um pouco adiante, via-se um lago majestoso, com
entorno romântico de flores e arbustos, e uma movimentação deslumbrante de
pássaros.
Observaram
que um dos internados, conversava com outros, ao lado do lago, e segundo
informação posterior dos que ali se encontravam, este internado falou que iria
suicidar-se. Sem muita cerimônia, jogou-se no lago, quando
sequer sabia nadar. Um dos homens que estava ao seu lado, ao perceber o colega já
estava se afogando, saltou imediatamente na água e conseguiu agarrar o pretendente
do suicídio pelo cabelo e o trouxe para fora do lago.
Sem demora,
um dos funcionários foi até lá e chamou o socorrista para elogiar sua conduta e
o seu gesto ajuizado e de bom-senso. Falou que já estava progredindo tão bem,
que poderia ser liberado para sair do hospício muito em breve. Lamentou, no entanto, que apesar do seu empenho
edificante pela salvação do vivente, ele acabou morrendo por enforcamento, pois,
estava ali perto, pendurado num galho de árvore.
Foi, então
que o ajuizado socorrista respondeu: não, ele não se enforcou! Eu apenas o
pendurei no sol para que pudesse secar a sua roupa.
Verificou-se,
então, que a normalidade de juízo ainda estava muito aquém do nível suficiente
para que o dito socorrista pudesse ser devolvido ao seu ambiente familiar.
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