Desde pequeno, via andarilhos,
Poçeiros a falar sobre os brilhos,
De pedras preciosas e achados,
Nos muitos caminhos andados.
Com botinas velhas e estragadas,
E vestindo roupas bem surradas,
Com a suja sacola nos ombros,
Sabiam mentir sobre assombros.
Ditos procuradores de nascentes,
Garantiam com os olhos ardentes,
Água farta a pouca profundidade,
Para vida confortável à saciedade.
Criavam o ar místico e exotérico,
De algum acesso oriental cármico,
Para um estado de concentração,
Capaz de achar água em profusão.
Com a forquilha, pêndulo e arame,
Sob o persuasivo ritual de alarme,
Que convencesse com a consulta,
Encenavam pela criteriosa ausculta.
Sempre que a escavação frustrava,
E a esperada água sequer jorrava,
Alegavam ter desviado um palmo,
Da preciosa vertente do ensalmo.
Um dia, apareceu um outro vidente,
Com garantia de poder clarividente,
E ao ouvir lamúrias pelo poço seco,
Foi até o local com ar de gelo-seco.
Para esnobar a capacidade superior,
Contou ocorrido no vizinho anterior,
Onde corrigiu erro de outro poçeiro,
Que falhou por um engano grosseiro.
Desceu ao fundo do poço escavado,
E com o olhar atento pelo resultado,
Puxou a bela adaga da sua cintura,
E ciscou a parede com rara bravura.
Fez pequena incisão no lado direito,
E de repente gritou por rápido jeito,
Para ajudá-lo a sair do grave perigo,
Daquele profundo e perigoso abrigo.
Alegou que saía e jorrava tanta água,
Que parecia enorme cabeça-d’água,
E, para evitar subsumir ali, afogado,
Alcançassem corda para sair alçado.
No exagero da sua bela encenação,
Alegou que o concorrente de ação,
Cavou o poço só 5cm da nascente,
E ele resolveu problema candente.
Sua exotérica ritualização por água,
Não verteu nada de similar deságua,
Mas levou uns trocos no seu andejo,
Na rota para algum outro lugarejo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário