sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Um programa de vida



            Vasto programa de consumo nivelou as diferenças humanas para despertar em todas as pessoas a mesma necessidade de comprar coisas para ser feliz. Enquanto governantes disputam a hegemonia de maior poder de venda, cada vez mais, pessoas vão se dando conta de que a esperança humana mais profunda clama por outras coisas e que não fazem parte deste determinismo de ficar atrelado ao poder de pessoas e organizações fortes.
            Ainda que possa ser um pequeno resto, há pessoas que encantam com seu programa de vida e, impregnados por princípios cristãos, agem sem a obsessão de poder e de levar a consumir. Constituem-se em portadores de um fermento capaz de levedar valores para relações humanas que ainda são muito desejáveis: atenção à vida das pessoas, mais do que a voracidade de acumulação e controle.
            Antigas deportações de proprietários de terras das proximidades do mar da Galiléia, em Israel, ensinaram aquele povo sofrido a não desanimar diante das prepotências imperialistas, como a dos romanos no tempo de Jesus Cristo. Curiosamente Jesus não dirigiu sua primeira atenção aos influentes de Roma, mas àquela gente sofrida que tinha sido espoliada de seus pertences e de suas terras.
            Jesus reconheceu naquela gente uma virtude rara: em vez de internalizar a maldade romana, ainda cultivava a esperança de que Deus poderia ajuda-la. Manifestava-se ainda uma retidão de coração. Por isso, Jesus declarou feliz aquela multidão. Esta abertura ao agir de Deus, levava-a à solidariedade e à coesão para não sucumbirem em resignação fatalista.
            Jesus salientou naquela gente o grande desejo de justiça, sem recorrer aos meios violentos para obtê-la. Esta pobreza interior de desejar ardentemente algo melhor, não visava uma exploração dos semelhantes para ascender socialmente à custa deles.
            Se Jesus felicitou o modo de ser daquele povo das margens da Galiléia, estava, simultaneamente, elogiando o senso de justiça que reinava naquele ambiente. Tratava-se, evidentemente, de uma justiça muito diferente desta que nos guia nos dias atuais. Por isso, da Galiléia espoliada de nossos dias, gente pobre, humilde simples, de favelas e de tantas comunidades sem relevância social, ainda se pode encontrar merecedores de elogio pelo seu senso de retidão, pelo seu desvelo em favor da paz e da solidariedade. Parece que este modo de ser ainda se revela mais simpático e eficaz para a construção de uma convivência menos atribulada que a dos grandes gestores da vida pública.
            Como nas situações declaradas felizes por parte de Jesus Cristo, evidencia-se que hoje estas mesmas situações apontam esperanças mais eficazes do que o da grande e perversa manipulação humana para a felicidade e riqueza de poucas pessoas.


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