quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Convocação animadora



            Em tempos de raras notícias alentadoras, torna-se valioso lembrar o início da atividade pública de Jesus Cristo, que, segundo Mateus (4, 12-23) salienta o anúncio do Reino de Deus, e, já acompanhado de gestos que indicaram um rumo aos que ele convocava para que o ajudassem a alargar a comiseração e os sinais indicadores de um tempo novo.
            Mateus certamente lembrava que o antigo sonho despertado com a deportação das tribos de Zabulon e de Neftali, - que estavam estabelecidas na região da Galileia, e que foram deportadas para a Assíria no ano 732 antes de Jesus Cristo, - e se encontravam em plena escuridão e ausência de razões para estarem contentes com a vida, foram, naquela ocasião, convidados pelo profeta Isaías a cultivar uma esperança na ação eficaz de Deus agindo no meio deles.
            Mateus viu no início da atividade de Jesus a confirmação daquela antiga esperança. Se Jesus começou a fazer curas, certamente não as efetuou na perspectiva curandeirista, mas, como sinal que apontava para um tipo de organização solidária entre as pessoas, capaz de mostrar Deus presente no meio dos acontecimentos.
            O eixo do discurso de Jesus, no entendimento de Mateus, era o da conversão. Por isso os sinais realizados indicavam que a mudança de vida constituía uma condição necessária para uma vida mais feliz. As pessoas teriam que sair do clima de desânimo fatalista de apenas esperar que as autoridades estabelecidas efetuassem as aguardadas ações humanitárias.
            O que surpreende na narrativa de Mateus é o do perfil dos primeiros convidados. Eram pobres pescadores. Jesus, no entanto, lhes apontava uma vida de mais ação humanitária, com vistas a “pescar” pessoas, e, com a novidade do que Jesus apontava, esta ajudaria a serem mais felizes através da constituição de grupos de solidariedade para rezar, partilhar a vida, e, através de nova forma de celebrar o culto a Deus, gestar comunidades de boa convivência.
            Os pobres pescadores tiveram a capacidade de fazer renúncias do seu cotidiano e se engajaram no anúncio dos traços mais importantes para que pudesse acontecer um reino, - não de imperialismos e prepotências como estavam acostumados a suportar, - mas, tratava-se de um reino de salvação. Assim como aderiram ao projeto messiânico de Jesus Cristo, foram, progressivamente, adaptando seu modo de ser e de lidar com as múltiplas fragilidades humanas que encontraram pela frente, e foram se dando conta de que o discurso de Jesus era portador de uma novidade da parte de Deus.

            Relembrar este episódio destacado por Mateus pode indicar-nos um discernimento para que a renúncia a certas praxes cotidianas, pode nos abrir um caminho mais solidário e de perspectivas renovadoras diante de um quadro social com poucas evidências de salvação para os sonhados dias melhores.

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