Tendemos a
valorizar intensamente o ambiente cordial e de boa acolhida. Pelos efeitos que
causa, pode-se constatar, com facilidade, que evita eventuais perspectivas de
violência e maldade.
Da
experiência bíblica temos registro da memória de tempos muito antigos,
reportados aos gestos de Abraão e que refletem o quanto faz bem a atenção dada
a visitantes (Gn 18,1-10).
Nós também
sabemos dos efeitos benéficos no humor e nas motivações básicas da vida, oriundos
dos momentos em que nos sentimos bem acolhidos. No entanto, pessoas desconhecidas
podem despertar medos e inseguranças, pois, delas pode advir qualquer coisa no
lugar da gratuidade e da cortesia. O medo de ser assaltado, de ser usado ou
agredido e violentado, facilmente povoa nosso imaginário diante das virtualidades
de acolher alguém fora do círculo fechado de amizades.
Por outro
lado, mesmo diante das pessoas conhecidas, corremos riscos de não acolhê-las
adequadamente, porque desviamos demais o foco dos desejos de agradar e impressionar
da melhor forma. Com isso, passamos a planejar os mínimos detalhes do que
fazer, do que ornamentar e do que apresentar para lhes causar impressão marcante
e agradável.
Como a vida
urbana tende a substituir a cordialidade e as formas espontâneas de acolher as
pessoas pela imposição cada dia maior das etiquetas de status, - com vistas a
angariar admiração, - relegamos, igualmente, uma característica central das
raízes cristãs. Desta forma, o importante já não é acolher bem, mas,
impressionar intensamente pelos bens acumulados, seja no aparato da casa, nos
utensílios, ou pelo tipo de cardápio.
A excessiva
preocupação de tornar-nos importantes por etiquetas e por apresentar pratos
especiais, passíveis de serem admirados com muitos elogios, acaba transformando
o encontro em ritual de muitas bajulações e de muita compra de elogios, sem que
se toque no que é vital: a partilha do estado de alma.
Ao se perder a dimensão cordial da partilha,
que mistura dores, mágoas, decepções, alegrias e encantamentos, fica-se refém
da pressuposta solenidade que estabelece posturas, vestes, e, muitas
minudências em torno da ornamentação dos talheres, das travessas, taças e mil
outras minúcias secundárias.
Os muitos
afazeres com vistas a muito agradar, anulam o tempo para acolher e escutar.
Sobra, então, apenas o memorial das etiquetas para impressionar, e com isso,
enche-se o psiquismo de um vento oco sem conteúdos para assimilar ou ruminar em
síntese, com vistas a alargar os sentimentos de bem-estar advindos do momento
de comunhão.
Aos nossos
dias torna-se, por conseguinte, muito oportuna uma declaração de Jesus ao
visitar pessoas amigas (Lc 10,38-42). A melhor parte, escolhida por uma delas,
foi a de liberar seu tempo para “fazer sala” e acolher bem o visitante.
No campo do
cultivo da fé, tendemos a fazer algo similar: bajulamos Deus em vista de
interesses precípuos e não criamos nenhum momento para o silêncio da escuta e
da acolhida do que Dele possamos auscultar e integrar como valor humanitário.
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