No tempo de
muitos séculos do primeiro testamento da Bíblia revelou-se, na experiência
religiosa do povo de Israel, uma reincidência muito seguida de desvio da memória
do passado. Foi facilmente substituída por encantamentos momentâneos ou
exterioridades inócuas dos reais ou supostos momentos de crescimento econômico.
O livro do Deuteronômio, por exemplo, ilustra bem como a Aliança celebrada no
monte Sinai, foi relegada com rapidez de poucos anos.
O autor do
livro do Deuteronômio, possivelmente um grupo sacerdotal, tentou mostrar que a
antiga aliança não constituía nem algo inalcançável do céu, nem algo distante
na Terra, de formas a implicar em travessia de mar e outras dificuldades de
acesso. Procurou mostrar que a orientação das regras da aliança também não era
muito difícil de ser vivida. Poderia emergir do coração e da palavra, ou seja,
um modo com algumas características no agir com pessoas e com o meio-ambiente.
Hoje,
estamos num momento em que inúmeras formalidades religiosas e morais estão
sendo veiculadas e apregoadas como caminho especial de felicidade. Podemos
constatar que parece ser mais fácil falar de coisas divinas e celestiais do que
da contingência da vida no sofrido dia-a-dia, sobretudo no que tange justiça.
Ao mesmo tempo, somos seduzidos por novidades, mas, que na prática constituem
exterioridades secundárias da religião, muitas vezes já caducas e superadas
pelo tempo, como se constituíssem o essencial da experiência religiosa.
Constata-se
um interesse quase doentio por milagres e acessos especiais aos segredos
divinos para obtenção de muitas vantagens, mas não se cultiva a mínima simpatia
em torno das regras elementares para o entendimento humano. Importa comprar e
acessar os segredos de Deus, mais do que praticar algumas normas para sentir-se
bem diante de Deus.
Nas
narrativas sobre Jesus Cristo, Lucas (10,25-37) apresenta um diálogo entre
Jesus e um jurista religioso. Bom sabedor das regras estabelecidas, o jurista,
no entanto, não deseja vivenciá-las, mas, quer saber como assegurar o alcance
da vida eterna.
Na
historinha pedagógica contada por Jesus destaca-se o que é muito importante na
fé: mais do que a função religiosa, importa o agir humanitário em favor da
vida. Na estrada da vida, diante de um homem ferido em assalto, um sacerdote e
um levita, viram o agonizante e não se importaram com ele. Um samaritano, sem
conhecimento das regras religiosas judaicas, e, movido por outra forma de rezar
e relacionar-se com Deus, foi atencioso e humanitário...
São tantas
as campanhas, as obras, os serviços e celebrações, feitas muito mais para obter
popularidade e elogio do que por efetiva solidariedade humana. Assim, o antigo
risco de desvincular os ritos religiosos dos gestos humanitários pode nos
envolver na mesma incoerência. Ao tornar-nos mais próximos podemos
aproximar-nos de Deus em “espírito e verdade”, como acontecia com os
samaritanos, desprezados pelos judeus.
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