sexta-feira, 17 de junho de 2016

Hedonismo e antevisão de sofrimentos



         Estamos sendo intensamente estimulados para a obtenção do máximo de prazer, de satisfação e, com acesso a recursos que evitem toda dor, todo desconforto e até mesmo o surgimento dos sinais de decrepitude. O grande altar da adoração social é o da eterna juventude e o das aparências para demonstrar bem-estar e felicidade.
            Difícil mesmo é alguém conseguir convencer outras pessoas a respeito da necessidade de uma “com-versão”, ou seja, que percebam a necessidade de mudar a rota de suas lidas, mudar de jeito e encontrar sentido a partir das dores e dos sofrimentos vivenciados.
            O quadro hedonista oferece analgésicos, estimulantes, tonificantes, enfim, o que se pode imaginar para ampliar a beleza, a capacidade de sedução e de venda da imagem, que, afinal, sempre precisa ser encantadora. E o que acontece com o mundo real e objetivo que envolve tantos sofrimentos?
            O profeta Zacarias (12,10 ss) viveu num tempo de decadência moral e religiosa e também de muito desencontro com os países do entorno de Israel. Ao antever a possibilidade de que a piedade e a forma de súplica religiosa não seriam capazes de levar a uma mudança para algo realmente melhor, apontou a graça e a consolação do que Deus poderia ajudar a fazer acontecer. Mas, simultaneamente, indicava um remédio impreterível: passar por muito sofrimento para fazer acontecer uma conversão de vida.
            Quando os discípulos expressaram, diante de Jesus Cristo, sua expectativa de uma salvação fácil e isenta de dificuldades, ele os surpreendeu e falou a respeito do que ele teria pela frente: muito sofrimento, muita rejeição, sobretudo das autoridades dos velhos obcecados pelo poder, bem como diante dos sumos sacerdotes e dos legisladores da época. Mesmo assim, convocou os discípulos a carregar esta cruz de cada dia para segui-lo. Nada de vida fácil e anestesiada, nem por drogas barbitúricas e nem por privilégios de mordomias.

            A indicação do caminho de Cristo deve ter causado tremenda dificuldade para os discípulos continuarem a pensar que poderia ser um Cristo, isto é, o caminho que redime e salva. Assim, mesmo para além dos desconfortos físicos, muitas pequenas mortes precisam ser integradas a fim de permitir que a decrepitude final possa elevar ao amor maior de Deus.

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