sábado, 11 de junho de 2016

Contrição e perdão



            As duas palavras tendem a desaparecer da conversa e da experiência pessoal de nossos dias, porque somos induzidos ao contrário de seus significados: focar sempre novos produtos de consumo e não pensar sobre fatos passados. Assim, nem desenvolvemos consciência de atos e condutas inadequadas; e, tampouco sentimos necessidade de perdoar ou de pedir perdão por algo.
            Da mesma forma como tanta gente contrai dívidas e em nada as assume, parece aumentar o número de devedores de grandes dívidas, mas, que se revela meticuloso na cobrança detalhada das pequenas quantias que outras pessoas estão devendo. É parecida com aquela regra de muitas crianças pequenas: “tudo quero e nada dou”.
            No entanto, quando uma dívida grande é perdoada, a tal ato geralmente corresponde um sentimento de alívio. Na orientação que Jesus dava aos discípulos (cf. Lc 7,36-50), ele os ajudava a entender que alguém perdoado em grande dívida, deveria produzir muito mais amor do que alguém perdoado em dívida de pequenas proporções. 
            Na parábola contada por Jesus, alguém perdoado por uma grande dívida, mostrou-se pouco acolhedor à chegada de quem merecia muita consideração. Mas, também salientou que outra pessoa, publicamente condenada e discriminada por atos de prostituição, ao se sentir perdoada por Jesus, demonstrou extraordinário amor e, de tão contrita que se sentia diante do que fizera na vida, lavava os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugava com os cabelos.
            Os que observavam a cena logo se meteram a julgar e a incriminar Jesus porque ele não poderia perdoar uma situação como a daquela mulher. Na verdade, Jesus certamente quis destacar que, qualquer um daqueles discípulos, já tinha aprontado muitas coisas merecedoras de grande perdão por parte de Deus e que, apesar disso, eles não produziam sinais de amor e de bem-querer. Diante do imensurável perdão de Deus, os discípulos, ao invés de produzirem sinais de compaixão e crescente capacidade de amar, somente focavam a cobrança dos mínimos detalhes dos erros alheios.
            Quando alguém não tem consciência de contrição diante de algo que praticou ou deixou de fazer, provavelmente não mudará em nada a sua vida para ser melhor, porque irá conformar-se com os hábitos e praxes do que vem fazendo. Tampouco sentirá necessidade de ser mais respeitoso e humanitário porque esta perspectiva sequer aparece no horizonte dos projetos.

            O amor de uma pessoa pecadora carece da experiência de que outro amor maior a perdoa. Por isso, mais do que observar regras, importa transcender-se!

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