sexta-feira, 24 de junho de 2016

Entre crer e aderir



            Com tantos pregoeiros a apontar os melhores segredos de Deus através da sua palavra e da meticulosidade nos rituais de tantos movimentos religiosos, o essencial de ser cristão acaba como elemento secundário e nem muito significativo.
            O desejo de despertar muitos adeptos para um modo de ser meramente fixista e submisso para acatar orientações categóricas, certamente não se coaduna com a adesão ao caminho de Jesus Cristo. Basta ver que tanta expressão piedosa e devocional se desenvolve sem nenhuma adesão ao projeto proposto por Jesus Cristo.
            Como a maior parte das piedades devocionais sequer se aproxima da capacidade de “carregar a cruz e seguir Cristo”, também não nos aproxima a imagem antiga em torno do profeta Elias, que, segunda a crença tradicional teria sido arrebatado aos céus. Elias, na iminência da morte delegou sua função a Eliseu com a recomendação de rápida despedida dos pais para acompanha-lo e agir como homem de Deus em seu lugar. Eliseu também abateu primeiro os seus bois de arado e os assou na festa de despedida da sua vida de lavrador.
            Para o evangelista Lucas, o seguimento de Cristo apresenta outras exigências: para começar, requer abandono radical, sem primeiro festar e despedir-se, mas, na imagem do lavrador, precisa agir para que os sulcos do arado não fiquem muito irregulares, e, para tanto pede, que quem está arando, não fique olhando muito para trás (e como tem gente com o olho fito apenas em tradições secundárias de alguns séculos atrás!).
            Jesus expressou o convite não pela imposição das estolas e condecorações de honra, mas pelo convite de carregar a cruz no dia-a-dia. Tal proposta requer, por sua vez, uma grande capacidade de abandono. Em primeiro lugar, da autorreferencialidade. Como Eliseu foi convidado a continuar a atividade de Elias e não a do seu gosto e da sua auto-promoção, os convidados a seguir Cristo, precisam de uma grande capacidade de renúncia a fim de poderem tornar-se capazes de carregar a cruz de cada dia.
            Na adesão a Cristo também se supõe outro contraste em relação a Elias: não desejar fogo do céu, nem matar e nem vingar-se, mas, cultivar a paciência, tal como pediu a Tiago e João: que não desprezassem e nem se impacientassem com os samaritanos...

            Mais do que multidões de pessoas piedosas, espera-se que o seguimento de Cristo produza desprendimento dos legalismos a fim de se alargar a capacidade em favor de mais salvação, nas relações humanas e no modo de lidar com a vida do planeta.

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