quinta-feira, 31 de março de 2016

Entre ver e crer



            A imagem de Tomé é talvez a que mais se aproxima da identificação do nosso momento religioso. Assim como a comunidade primitiva do cristianismo, especialmente da segunda geração de cristãos, desejamos conhecer o ressuscitado. Prendemos o foco naquele que pode salvar, mas, não reparamos o testemunho Dele, que é dado pelas pessoas de fé e prática religiosa que estão ao nosso redor.
            Nem sempre os sinais são os melhores naquilo que as outras pessoas de fé nos irradiam, no entanto, tendemos a esperar que elas deem primeiramente provas convincentes, para depois, e com cautela, seguirmos seus passos ou exemplos.
            Um dos dados mais evidentes da Páscoa de Jesus Cristo é o de que Ele não deveria ser procurado onde não se encontra: no meio dos mortos! É na comunidade de fé que Ele assegurou presença salvadora, em muitas ocasiões antes de ser crucificado. Como Tomé, manifestamos nossa incredulidade diante do que se explicita nas pessoas que fazem acontecer uma comunidade cristã. Assim, demoramos muito tempo para admitir que o ressuscitado possa estar vivo, e, facilmente o procuramos onde nunca será encontrado. Esperamos provas, e que sejam muito persuasivas e convincentes.
            Tomé representa um itinerário bonito de quem participa das celebrações eucarísticas, pois, se num momento esperava provas do ressuscitado, em outro, revela seu amadurecimento na fé e faz uma profunda profissão de fé. Sinal de que as celebrações amadureceram sua capacidade de crer no Cristo ressuscitado. Se o evangelista São João salientou este aspecto importante em sua reflexão teológica, certamente desejava animar a vida das comunidades a quem escreveu seu evangelho (Jo 20,19-31). Da mesma forma, pode ajudar-nos, em nossos dias, a nos dar conta de que na participação das celebrações eucarísticas o processo pessoal de Tomé passa do nível de fé de exigir provas, para a experiência que decorre do quanto Jesus fez e falou antes de ser morto.

            Por conseguinte, já não se requer como primeira condição a prova para depois crer. É crendo na palavra que se chega a experimentar que ele é “meu Senhor”, ou seja, aquele que redime. Tal experiência provavelmente não ocorre nas formas intimistas, meramente devocionais e de fanatizada busca de milagres. Na participação da comunidade podem alargar-se os grandes sinais da profissão de fé, que amadurecem para uma definição pessoal como a de Tomé. 

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