quinta-feira, 17 de março de 2016

Humildade e obediência



            Proscritos desde os tempos modernos, tanto a humildade quanto a obediência, não desfruta de boa consideração, porque se valoriza precisamente o contrário: ser cada dia mais autônomo, determinado e objetivo na perseguição dos sonhos, metas e desejos.
            Em tempos antigos e medievais dava-se particular ênfase à condição de humildade para poder ser obediente aos planos de Deus, geralmente interpretados no agir das autoridades constituídas, civis ou religiosas, pois se entendia que um dos melhores caminhos para aproximação de Deus, se manifestava sob a docilidade da obediência.
            Alguém incapaz de ser humilde e obediente era visto como incapaz de acolher a Deus, porque o orgulho levava à desarmonia, pois, levava as pessoas a se colocarem no lugar de Deus.
            Hoje não queremos sugerir uma obediência cega e passiva a pessoas constituídas em dignidade de poder, mas, uma capacidade de “escutar” e “auscultar” para que o melhor plano de Deus possa viabilizar-se. Significa, portanto, um ato de responsabilidade diante do que se pode fazer. Assim, não significa estimular a desistência de capacidade de ação e colocar-se num servilismo dependente.
            A entrada da celebração da festa de Páscoa nos remete ao que os evangelhos destacam de forma muito especial: a morte de Jesus não foi um ato compensatório de Deus, que o deixou morrer a fim de expiar nossas faltas e fraquezas. Jesus teve consciência dos fatos e dos interesses que o encurralavam para a morte. Por isso, ao invés de fracasso ou de vitimalismo diante de Deus, Ele representa um caminho de abertura para Deus, sobretudo pelo modo como viveu, ensinou e fez. Foi uma culminância do que tanto manifestou como sinal de Deus presente na vida humana.
            A morte de Jesus Cristo não foi causada nem por sadismo de Deus, mas, significa a elevação do que fez progressiva e paulatinamente em maior amplitude na vida. Basta lembrar que os piores adversários eram políticos e religiosos, do mesmo jeito como muitos políticos e religiosos tramam contra quem aponta um caminho diferente do que aquele traçado pelos seus planos presunçosos.
            Nossos dias carecem de pessoas humildes que conseguem abrir espaço para Deus e escutar que nem toda autossuficiência, nem toda autodeterminação ajudam as pessoas a conviver melhor e de forma mais digna. O orgulho e a negação de uma vida mais fraterna e justa continuam a matar aos milhões em nosso planeta, que poderia ser uma boa casa comum para todos serem mais felizes.

            

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