sábado, 6 de fevereiro de 2016

Ousadia e rotina



            Como grande parte das lidas cotidianas depende de hábitos adquiridos, estes tendem a cobrar, cada dia mais, para não ousar e nem fazer algo que seja diferente. Se os hábitos ou costumes tendem a bitolar-nos para não sair da rotina, porque, então gastar energias para mudar e ser diferente?
            A capacidade de inovar diante dos hábitos requer um cultivo de sensibilização da consciência a fim de captar, perceber ou intuir algo que aponte razões mais profundas. No entanto, mesmo desejando algo novo, distinto e mais significativo para a vida, o rotineiro se torna um obstáculo que desperta muitos medos e sentimentos de incapacidade.
Do evangelho de Lucas (5, 1-11) emerge este processo de medo nos quatro primeiros discípulos que Jesus convidou para que o ajudassem na construção do reino novo, o reino de Deus.
Jesus primeiramente ajudou aqueles homens a se darem conta de que poderiam fazer algo mais importante do que ficar pescando nas “margens rasas do mar”. Apontou-lhes a possibilidade de melhores frutos de vida em águas mais profundas, mas, esta guinada somente se tornou visível porque aqueles quatro homens se deram conta dos seus limites e das suas fraquezas. Confiaram na palavra de Jesus e atenderam sua convocação.
A relutância para aceitar a proposta de Cristo teve que reverter o pensamento que os pescadores já adquiriram em torno da pesca nas águas, pois, passaram a noite sem nada pescar. A narrativa de Lucas apresenta dois detalhes muito interessantes: quando os quatro aceitaram a proposta que os convocava, tiveram êxito extraordinário no pescar, isto é, na confiança de Jesus, sentiram a necessidade de gritar para que outros os ajudassem.
A experiência dos quatro primeiros chamados por Cristo, nos deixa uma interpelação: o êxito das respostas que damos ao mesmo chamado convida para agir positivamente em favor de melhor qualidade de vida, sobretudo, para formas mais solidárias e menos fechadas, individualistas e presas a rotinas que prendem às dificuldades. Os naturais medos da efetiva capacidade de ser capaz de obter estes resultados podem inibir e bloquear a grande missão que Jesus deixou para uma vida e uma religião não regida por meras rotinas e formalismos, mas, para estar sensível a algo novo que possa gerar outros frutos de satisfação.

Mais do que ficar esperando manifestações excepcionais de Deus como intervenção intimista diante de soluções subjetivas, podemos encontrar interpelações em tantos acontecimentos e intuições para algo diferente.

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