Como grande
parte das lidas cotidianas depende de hábitos adquiridos, estes tendem a
cobrar, cada dia mais, para não ousar e nem fazer algo que seja diferente. Se
os hábitos ou costumes tendem a bitolar-nos para não sair da rotina, porque,
então gastar energias para mudar e ser diferente?
A capacidade
de inovar diante dos hábitos requer um cultivo de sensibilização da consciência
a fim de captar, perceber ou intuir algo que aponte razões mais profundas. No
entanto, mesmo desejando algo novo, distinto e mais significativo para a vida,
o rotineiro se torna um obstáculo que desperta muitos medos e sentimentos de
incapacidade.
Do evangelho de Lucas (5, 1-11)
emerge este processo de medo nos quatro primeiros discípulos que Jesus convidou
para que o ajudassem na construção do reino novo, o reino de Deus.
Jesus primeiramente ajudou aqueles
homens a se darem conta de que poderiam fazer algo mais importante do que ficar
pescando nas “margens rasas do mar”. Apontou-lhes a possibilidade de melhores
frutos de vida em águas mais profundas, mas, esta guinada somente se tornou
visível porque aqueles quatro homens se deram conta dos seus limites e das suas
fraquezas. Confiaram na palavra de Jesus e atenderam sua convocação.
A relutância para aceitar a proposta
de Cristo teve que reverter o pensamento que os pescadores já adquiriram em
torno da pesca nas águas, pois, passaram a noite sem nada pescar. A narrativa
de Lucas apresenta dois detalhes muito interessantes: quando os quatro
aceitaram a proposta que os convocava, tiveram êxito extraordinário no pescar,
isto é, na confiança de Jesus, sentiram a necessidade de gritar para que outros
os ajudassem.
A experiência dos quatro primeiros
chamados por Cristo, nos deixa uma interpelação: o êxito das respostas que
damos ao mesmo chamado convida para agir positivamente em favor de melhor
qualidade de vida, sobretudo, para formas mais solidárias e menos fechadas,
individualistas e presas a rotinas que prendem às dificuldades. Os naturais
medos da efetiva capacidade de ser capaz de obter estes resultados podem inibir
e bloquear a grande missão que Jesus deixou para uma vida e uma religião não
regida por meras rotinas e formalismos, mas, para estar sensível a algo novo
que possa gerar outros frutos de satisfação.
Mais do que ficar esperando
manifestações excepcionais de Deus como intervenção intimista diante de
soluções subjetivas, podemos encontrar interpelações em tantos acontecimentos e
intuições para algo diferente.
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