Se os
ambientes sociais nos ensinam a buscar gozo intenso na apropriação de bens,
sejam eles materiais ou de satisfação dos apetites sexuais, somos, cada dia
mais, despertados para nos tornar concupiscentes, porque a tal condição se
associa o alcance da felicidade. E quem não quer ser mais feliz?
Não
precisamos nem sequer culpar o capeta porque o ambiente social e humano é quem
nos leva a verdadeira obsessão pela concupiscência. Trata-se, pois, de não combatê-la
por atos mágicos, exorcismos e de exploração de transes emocionais e supostamente
milagreiros, mas, de um discernimento capaz de evitar que a concupiscência tome
conta da vida.
No evangelho
de Lucas consta (4,1-13) que Jesus sentiu as tentações depois de ser batizado. O
evangelista relacionou a lida com as tentações da concupiscência à condição da
história humana, pois entendeu que, desde as suas raízes humanas, a
concupiscência sempre foi cultivada entre as pessoas. Por isso, Jesus,
simbolizado no novo Adão, e, que também vivenciou a concupiscência da carne (da
condição humana), diante dos sonhos elevados ao potencial da capacidade de
transformar pedras em pães (hoje se falaria em tirar leite da pedra!). Sentiu
igualmente de perto a sedução da concupiscência dos olhos, a fim de chegar a
muita glória, com acúmulo de bens. Por fim, experimentou na carne a tentação,
tal como nós ainda continuamos a experimentá-la, para tornar-se senhor sobre muitas
pessoas e coisas.
O
evangelista Lucas destaca que Jesus não entrou passivamente na onda destas
humanas tentações, porque soube manter fidelidade a Deus. Hoje esta
interpelação ainda permite ponderar sobre o que mais nos propicia momentos de
felicidade: seria o poder, a fama, a honra, ou um modo peculiar de nos sentir
bem na grande casa que é o planeta Terra?
A
responsabilidade diante da falsa tentação de felicidade, também hoje nos cobra
fidelidade a Deus para que o direito de todas as pessoas brote como as fontes
de água límpida e que a capacidade de uma vida justa e reconciliada corra como
rio em terra seca, numa alusão ao que o profeta Amós (5,24) já sonhava muitos
séculos antes de Jesus Cristo, com melhor condição para o entendimento humano.
Cabe-nos,
mais do que culpar e maldizer o demônio, educar-nos e educar outras pessoas para
a responsabilidade de cultivar um espírito mais comunitário e de bem comum do
que exclusiva busca de felicidade pessoal. E acima de tudo, num tempo de tanta
corrupção e roubalheira dos que dizem trabalhar intensamente a nosso favor, - mas
que se locupletam nas tentações de muitas posses, de muita fama e de vistosas
honras para serem adorados e bajulados – somos interpelados a uma consciência
de responsabilidade pela promoção humana a fim de que que a sociedade possa vir
a ser mais justa e solidária.
Se o
alargamento das tentações humanas já vem colocando em grave risco a convivência
entre os hominídeos, precisa-se, com urgência, pensar e agir para que o planeta
não entre em exaustão antes que os humanoides se aniquilem entre si.
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