A crueldade
com que muitas pessoas destratam outras pessoas da comunidade, quando percebem
que seus interesses são contrariados, revela uma contradição escancarada de fé apenas
ostensiva e aparente. Ódios profundos por pequenas ninharias refletem que a fé
de muitas pessoas não pode ser medida pelas suas piedades, nem pelos seus zelos
exagerados, e, muito menos ainda, pelos seus formalismos. Os frutos desta fé somente
resultam em mágoa, ressentimento e calúnia sobre outras pessoas da comunidade.
Volta sempre
de novo uma pergunta inquietante: como vivenciar uma religião que seja
realmente redentora, e não cultivo de ódios e de procedimentos que se aproximam
dos atos hediondos que atentam contra a vida?
O apóstolo
Tiago, quando constatou esta dificuldade nas primeiras comunidades cristãs,
ponderou sobre os modos de agir de Cristo, e deduziu que a fé sem caridade é
morta. Significa, pois, que não produz nada de bom e de positivo. Ele mesmo se
reportou à observação de um caso ilustrativo: não basta desejar paz para alguém
sem facilitar ou melhorar as condições que facilitem processos de paz e, os
tornem, realmente, mais abrangentes e mais profundos na convivência humana.
Tiago
observava que no caminho do discipulado, que implicava na cruz, não poderia a
adoração do ego sobrepor-se aos outros, e tampouco deveria fazer parte do
itinerário dos cristãos. Com isso, o apóstolo do senso prático, passou a
orientar as comunidades a fim de que não se movessem por meras noções
intelectuais.
Hoje, parece que predomina uma
tentação de fé nem muito intelectual, mas, eminentemente devocional e movida
pela autorreferencialidade. Assim, pessoas que se proclamam religiosas,
transformam a fé em mera mediação para o favorecimento de sim mesmas, e, se mostram
pouco capazes de dar ouvido para algo que é maior do que o mundo do seu ego.
A fé, para
poder constituir-se em força, requer algo mais do que simples religiosidade,
baseada simplesmente em hábitos, tradições e execução de pequenos detalhes exteriores.
Pela capacidade de caridade, como Tiago (2,14-18) insistia, é que se demonstra
a fé. Bem sabemos que caridade também é muito mais do que simples oferta de algum
pequeno donativo para algum carente. É essencialmente um modo de lidar com as
pessoas e implica em atitudes que as favoreçam.
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