quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Fé desprovida de caridade



            A crueldade com que muitas pessoas destratam outras pessoas da comunidade, quando percebem que seus interesses são contrariados, revela uma contradição escancarada de fé apenas ostensiva e aparente. Ódios profundos por pequenas ninharias refletem que a fé de muitas pessoas não pode ser medida pelas suas piedades, nem pelos seus zelos exagerados, e, muito menos ainda, pelos seus formalismos. Os frutos desta fé somente resultam em mágoa, ressentimento e calúnia sobre outras pessoas da comunidade.
            Volta sempre de novo uma pergunta inquietante: como vivenciar uma religião que seja realmente redentora, e não cultivo de ódios e de procedimentos que se aproximam dos atos hediondos que atentam contra a vida?
            O apóstolo Tiago, quando constatou esta dificuldade nas primeiras comunidades cristãs, ponderou sobre os modos de agir de Cristo, e deduziu que a fé sem caridade é morta. Significa, pois, que não produz nada de bom e de positivo. Ele mesmo se reportou à observação de um caso ilustrativo: não basta desejar paz para alguém sem facilitar ou melhorar as condições que facilitem processos de paz e, os tornem, realmente, mais abrangentes e mais profundos na convivência humana.
            Tiago observava que no caminho do discipulado, que implicava na cruz, não poderia a adoração do ego sobrepor-se aos outros, e tampouco deveria fazer parte do itinerário dos cristãos. Com isso, o apóstolo do senso prático, passou a orientar as comunidades a fim de que não se movessem por meras noções intelectuais.
Hoje, parece que predomina uma tentação de fé nem muito intelectual, mas, eminentemente devocional e movida pela autorreferencialidade. Assim, pessoas que se proclamam religiosas, transformam a fé em mera mediação para o favorecimento de sim mesmas, e, se mostram pouco capazes de dar ouvido para algo que é maior do que o mundo do seu ego.

            A fé, para poder constituir-se em força, requer algo mais do que simples religiosidade, baseada simplesmente em hábitos, tradições e execução de pequenos detalhes exteriores. Pela capacidade de caridade, como Tiago (2,14-18) insistia, é que se demonstra a fé. Bem sabemos que caridade também é muito mais do que simples oferta de algum pequeno donativo para algum carente. É essencialmente um modo de lidar com as pessoas e implica em atitudes que as favoreçam.

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