À parte das
deficiências auditivas, a capacidade de ouvir ou de não ouvir das pessoas, sem
estas deficiências, molda muito o assunto que se emite pela boca. Apreciações
boas e informações agradáveis permitem que ecoem da boca conversas benfazejas,
revelando a capacidade de ver as coisas com esportividade e otimismo.
Existe uma condição
surda-muda, que se manifesta com funcionamento orgânico normal dos ouvidos,
sobretudo a que envolve humilhações, torturas físicas e psicológicas,
adversidades sistemáticas, perseguições e agressões injustas.
A surdez
forçada pode ser pessoal, grupal ou coletiva. Uma ilustração de surdez coletiva
foi experimentada pelo povo da bíblia, quando estava exilado na Babilônia. Além
da condição escrava, pesava a consciência do fracasso como povo, pois, o que
fora conquistado com enormes dificuldades, se esvaiu com a memória da perda de
unidade em torno da aliança dos 10 Mandamentos: tudo isto e mais sentimentos de
culpa e de desencanto, silenciavam aquele povo disperso.
Uma voz profética, atribuída a
Isaías, apontava àquele povo disperso, a capacidade de ouvir e de falar,
porque, com a ação de Deus, poderia ocorrer o retorno da justiça! Nas
comparações que vão além dos ouvidos e da boca (surdos, voltar a ouvir, mudos,
voltar a falar...) os aleijados também teriam a capacidade de saltar. Até a
natureza poderia voltar à condição de constituir-se novamente num paraíso. No
alento e na esperança do profeta estava uma certeza: a de que o povo poderia restaurar-se
e renovar-se.
Nossa experiência atual, como povo,
vem passando por uma experiência que também faz muita gente calar-se diante da
corrupção, dos desmandos e das injustiças. Perde-se gradualmente o horizonte
das esperanças cristãs, some a perspectiva de que existimos no meio de um
imenso paraíso, e bloqueia-se a capacidade da fala espontânea, e, quando esta
ocorre, vem carregada de mágoas, raivas incontidas e ódios estranhos.
Antever dias melhores, não é nada
fácil para quem se situa num mundo “cego, surdo, mudo e paralítico”, que gera
perda da integridade social, grupal e pessoal.
Como Jesus Cristo, em momento de extraordinária prepotência, soube
apontar o caminho de Deus para além do desencontro humano, também nos indica a
perspectiva do olhar da fé para além do que silencia e emudece. A antevisão de
um sentido e de uma relação mais justa com as pessoas e com a natureza,
certamente nos aponta, como em outros momentos da história, que este planeta
Terra ainda possa ser considerado como o paraíso que nos envolve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário