quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A relação da audição com a fala



            À parte das deficiências auditivas, a capacidade de ouvir ou de não ouvir das pessoas, sem estas deficiências, molda muito o assunto que se emite pela boca. Apreciações boas e informações agradáveis permitem que ecoem da boca conversas benfazejas, revelando a capacidade de ver as coisas com esportividade e otimismo.
            Existe uma condição surda-muda, que se manifesta com funcionamento orgânico normal dos ouvidos, sobretudo a que envolve humilhações, torturas físicas e psicológicas, adversidades sistemáticas, perseguições e agressões injustas.
            A surdez forçada pode ser pessoal, grupal ou coletiva. Uma ilustração de surdez coletiva foi experimentada pelo povo da bíblia, quando estava exilado na Babilônia. Além da condição escrava, pesava a consciência do fracasso como povo, pois, o que fora conquistado com enormes dificuldades, se esvaiu com a memória da perda de unidade em torno da aliança dos 10 Mandamentos: tudo isto e mais sentimentos de culpa e de desencanto, silenciavam aquele povo disperso.
Uma voz profética, atribuída a Isaías, apontava àquele povo disperso, a capacidade de ouvir e de falar, porque, com a ação de Deus, poderia ocorrer o retorno da justiça! Nas comparações que vão além dos ouvidos e da boca (surdos, voltar a ouvir, mudos, voltar a falar...) os aleijados também teriam a capacidade de saltar. Até a natureza poderia voltar à condição de constituir-se novamente num paraíso. No alento e na esperança do profeta estava uma certeza: a de que o povo poderia restaurar-se e renovar-se.
Nossa experiência atual, como povo, vem passando por uma experiência que também faz muita gente calar-se diante da corrupção, dos desmandos e das injustiças. Perde-se gradualmente o horizonte das esperanças cristãs, some a perspectiva de que existimos no meio de um imenso paraíso, e bloqueia-se a capacidade da fala espontânea, e, quando esta ocorre, vem carregada de mágoas, raivas incontidas e ódios estranhos.

Antever dias melhores, não é nada fácil para quem se situa num mundo “cego, surdo, mudo e paralítico”, que gera perda da integridade social, grupal e pessoal.  Como Jesus Cristo, em momento de extraordinária prepotência, soube apontar o caminho de Deus para além do desencontro humano, também nos indica a perspectiva do olhar da fé para além do que silencia e emudece. A antevisão de um sentido e de uma relação mais justa com as pessoas e com a natureza, certamente nos aponta, como em outros momentos da história, que este planeta Terra ainda possa ser considerado como o paraíso que nos envolve.

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