quarta-feira, 3 de junho de 2015

Demonização da adversidade



            Quando se foi preparado para um tipo de atividade, seja profissional ou religiosa, e, ao aparecer uma interpelação para deixar este modo de proceder e iniciar-se em outro diametralmente distinto, aparece, de imediato, a auto-defesa capaz de repelir a interpelação feita e de demonizar quem a emitiu.
            Assim podemos entender críticas ao nosso Papa Francisco, por amplos setores de padres e leigos, e podemos entender porque Jesus começou a receber ameaças dos escribas e até dos seus parentes: simplesmente não admitiam que lhes apontasse um caminho messiânico diferente daquele que estavam acostumados a pensar e a pregar. Como Jesus foi condenado por estar possesso pelo demônio por apontar possibilidades de vida para além daqueles hábitos oficializados, o Papa Francisco vem sendo duramente atacado porque convida a romper com o quadro estabelecido de um imagético religioso mais próximo da ornamentação principesca do que da missionariedade apontada por Jesus Cristo.
            O empenho do Papa para trazer periferias humanas, tanto de pessoas, de grupos, quanto de países, para o centro das grandes preocupações, leva muita gente a defender seus privilégios corporativistas e a esquece literalmente o evangelho, para efetuar um  acirrado combate com a inevitável demonização do Papa ou de quem tenta aproximar-se do Evangelho. Sustentam que é preciso evadir-se da perversa ação diabólica (que separa, divide e afasta) tudo o que possa questionar um status estabelecido.
            Tudo bem que a interpelação do novo assusta. No entanto, não justifica qualificar quem é coerente com o Evangelho a ponto de exorcizá-lo como sendo um agente do demônio.
O quadro religioso do tempo de Cristo havia classificado anjos e demônios e estabelecera que demônios eram anjos decaídos. Sentia-se, com tal atribuição, no direito de desclassificar os gestos e procedimentos de Jesus Cristo, através da afirmação de que estavam sendo feitos em nome do pior demônio. No entanto, como aparece no Evangelho de Mc (3,20-35), Jesus fez os escribas perceber que o procedimento deles é que, na verdade, se constituía nesta perversa ação diabólica.

Jesus manifestou misericórdia, mas, disse que não seria perdoável a maldade de perseguir a quem estava implantando a bondade entre os que se orientavam no jeito de Jesus: tal perseguição, sim, era literalmente diabólica! Vemos, pois, que muita demonização feita em tantas pregações religiosas pode estar ocultando uma efetiva e eficaz ação demoníaca de quem defende suas vantagens conquistadas ou suas presumidas funções nas seguranças estabelecidas, mas que divide, confunde e desintegra.

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