Quando se
foi preparado para um tipo de atividade, seja profissional ou religiosa, e, ao aparecer
uma interpelação para deixar este modo de proceder e iniciar-se em outro
diametralmente distinto, aparece, de imediato, a auto-defesa capaz de repelir a
interpelação feita e de demonizar quem a emitiu.
Assim
podemos entender críticas ao nosso Papa Francisco, por amplos setores de padres
e leigos, e podemos entender porque Jesus começou a receber ameaças dos
escribas e até dos seus parentes: simplesmente não admitiam que lhes apontasse
um caminho messiânico diferente daquele que estavam acostumados a pensar e a
pregar. Como Jesus foi condenado por estar possesso pelo demônio por apontar
possibilidades de vida para além daqueles hábitos oficializados, o Papa
Francisco vem sendo duramente atacado porque convida a romper com o quadro
estabelecido de um imagético religioso mais próximo da ornamentação principesca
do que da missionariedade apontada por Jesus Cristo.
O empenho do
Papa para trazer periferias humanas, tanto de pessoas, de grupos, quanto de países,
para o centro das grandes preocupações, leva muita gente a defender seus
privilégios corporativistas e a esquece literalmente o evangelho, para efetuar
um acirrado combate com a inevitável
demonização do Papa ou de quem tenta aproximar-se do Evangelho. Sustentam que é
preciso evadir-se da perversa ação diabólica (que separa, divide e afasta) tudo
o que possa questionar um status estabelecido.
Tudo bem que
a interpelação do novo assusta. No entanto, não justifica qualificar quem é
coerente com o Evangelho a ponto de exorcizá-lo como sendo um agente do
demônio.
O quadro religioso do tempo de Cristo
havia classificado anjos e demônios e estabelecera que demônios eram anjos decaídos.
Sentia-se, com tal atribuição, no direito de desclassificar os gestos e
procedimentos de Jesus Cristo, através da afirmação de que estavam sendo feitos
em nome do pior demônio. No entanto, como aparece no Evangelho de Mc (3,20-35),
Jesus fez os escribas perceber que o procedimento deles é que, na verdade, se
constituía nesta perversa ação diabólica.
Jesus manifestou misericórdia, mas, disse
que não seria perdoável a maldade de perseguir a quem estava implantando a bondade
entre os que se orientavam no jeito de Jesus: tal perseguição, sim, era
literalmente diabólica! Vemos, pois, que muita demonização feita em tantas
pregações religiosas pode estar ocultando uma efetiva e eficaz ação demoníaca
de quem defende suas vantagens conquistadas ou suas presumidas funções nas seguranças
estabelecidas, mas que divide, confunde e desintegra.
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