Nosso
momento de copa mundial de futebol faz com que narradores dos jogos e
comentaristas falem muito de heróis e de salvadores. Um lance pode transformar
alguém, instantaneamente, em bajulado “salvador da pátria”.
O povo do
primeiro testamento da Bíblia também teve seus momentos de euforia em torno de
um rei herói, como ocorreu com Davi. Mesmo assim, séculos mais tarde, quando
podiam apenas falar de rei como fato de uma recordação do passado, persistiram
os desejos de que a governança fosse feita por alguém realmente imponente e
poderoso.
Alguns
séculos antes de Jesus Cristo, quando nem mesmo um sonho de um possível rei se
apresentava à expectativa popular, Zacarias fez memória dos poemas de Isaías
que falavam de um servo sofredor e apontou para novas possibilidades de um
reinado. Ele já não sonhava com um rei todo-poderoso, mas, com alguém que fosse
humilde e até capaz de ser oprimido pelo povo, mas que, no entanto, pelo seu
vínculo com Deus e pelo seu modo de ser reto e justo, teria a virtualidade de
salvar pelo menos um pequeno resto daquele povo.
O Evangelho
de Mateus salienta Jesus Cristo como salvador, mas, com características bem distintas
daquelas esperadas pelo profeta Zacarias e por outros profetas: a forma não
violenta e a humildade, proeminentes nos gestos de Jesus, foram capazes de
revelar um salvador, não para restaurar o país ou alguns interesses políticos,
mas, por apontar um salvador aos humildes e fracos. Estes podem encontrar no
caminho da libertação traçado por Jesus Cristo uma possibilidade de organização
humana, incomparavelmente menos pesada e turbulenta do que aquela vigente
naquele momento difícil dos primeiros cristãos diante do império romano e do
poder religioso de Jerusalém. Jesus até
fez uma comparação: o peso da canga, ou do jugo do seu programa de vida, era
muito mais leve e suave do que aquele que os governantes estavam imputando ao
povo, especialmente aos empobrecidos.
Nas
expectativas de nossos dias ainda tende a expressar-se uma ansiosa espera de
salvação por parte de Deus, mas, geralmente é esperada de forma imediatista,
mágica e sensacionalista. Com esta nuance as pessoas de fé, cada vez mais
submissas, passivas e acomodadas, esperam que alguém faça as coisas e que o
paternalismo dos governantes, tão hábil para explorar com mil sutilezas esta
dependência, sabe como destinar o mínimo do que deveria investir, e, ainda
assim, usufruir desta concessão para fazer-se merecedor de suas manipulações
paternalistas.
Enquanto que
humildes e pobres esperam passivamente que as coisas caiam, se não do céu, pelo
menos do governo, os mais favorecidos pela acumulação de bens, tendem a ignorar
literalmente uma eventual necessidade de ajuda superior. Tornam-se tão
auto-suficientes e tão orgulhosos em torno do que conquistaram que já não
revelam as ínfimas características de humildade e de capacidade para partilhar
algo do que amealharam. Com certeza, o jugo das ambições desmesuradas não lhes
aufere boa qualidade de vida.
Bom é
perceber que pessoas bem dotadas de recursos materiais e econômicos ainda se
revelem solidários e humildes na partilha de seus bens. São salvadores de um
pequeno resto, mas, que se aproximam do reinado traçado por Cristo. Esta
mansidão de firmeza em favor da vida, produz possivelmente mais efeitos do que
o jugo da prepotência.
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