quinta-feira, 24 de julho de 2014

Discernimento entre procedimentos valiosos



Estamos mergulhados num tempo histórico-cultural de rápidos avanços técnicos. O legado destas descobertas faz olhar, cada dia mais, para as novidades advenientes. Ao mesmo tempo, a rapidez das informações e a facilidade da comunicação, propiciadas pelos recursos eletrônicos, ampliam espantosamente os incontáveis desejos em torno de mudanças, de novidades e de fontes de consumo. Esta indução cultural tende a direcionar nossa atenção com precípua atenção para os desejos, com uma correspondente perda da memória do passado.
Como o voo de um pássaro requer harmonia entre o batimento das asas e simultânea sincronia de inclinações das asas para melhor chegar ao alcance dos seus intentos, nós, de uma forma parecida, necessitamos harmonizar e sincronizar, não asas de vôos, mas, algo tão importante para nós como as asas são para os pássaros: precisamos bater com certo equilíbrio e harmonia a memória do passado e os desejos, a fim de nos estabilizar diante das turbulências que a vida apresenta e das mil ofertas de consumo.
Corremos o risco de bater apenas uma asa – a do desejo - e isto compromete o êxito do voo, ou seja, nossa mobilidade existencial, apenas movida em torno dos desejos, pode desequilibrar gravemente o alcance do que realmente é significativo para a vida. Emerge dali importante necessidade de não descuidar nem a memória do passado e tampouco os desejos para que não ocupem a centralidade da vida. Sem o equilíbrio da memória com os desejos, tende-se a perder a capacidade de discernir sobre o que é realmente bom para a vida. Será como um pássaro pretender voar, batendo apenas uma das asas.
Jesus Cristo ao interpelar os discípulos, a respeito do que era primordial para a vida, apontava a importância do desprendimento de coisas que não eram essenciais para a satisfação da existência. Através de parábolas deixou evidente que é importante saber desprender-se de certas coisas, a fim de que o alcance de bens mais elevados, como salientou na imagem de um tesouro maior e bem mais valioso, seja capaz de deixar para trás outros bens e valores. Ademais, para que os discípulos pudessem investir no que realmente era importante (o tesouro), ser-lhes-ia necessário cultivar uma sabedoria capaz de levá-los a distinguir valores que não eram merecedores de crédito.
O investimento para fazer acontecer o Reino – também em nossos dias - implica na mobilização das duas asas com vistas a um razoável equilíbrio. No entanto, como desprender-se de algo, quando sequer se conhece o novo no qual se possa investir? Em outras palavras, para se investir numa causa boa, como a do Reino anunciado por Jesus Cristo, torna-se fundamental conhecê-lo. Ao mesmo tempo, faz-se necessário ter consciência do que se precisa deixar de lado por ser secundário diante do Reino.
Como o almejado “tesouro” do Reino de Deus vem misturado com os muitos enfeites, bricolagens e coisas que imitam as “aparências do tesouro”, Jesus soube orientar os discípulos para o discernimento, através de outra historinha: a de que do baú da vida podem ser tiradas coisas novas e velhas.  Ele ainda acrescentou aludindo a pesca que captura peixes bons e maus. É só na praia que os pescadores escolhem os bons. O passado e sua memória permitem a emergência de discernimento a respeito de quais são bons. Por outro lado, a parábola pode indicar que a separação fica por conta da incumbência de Deus e não nossa.





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