quinta-feira, 24 de julho de 2014

O peso do não dito



De tanto cultivar o convencimento,
Os termos, feitos mero instrumento,
E usados para persuadir pelo efeito,
Impregnam-se de um ignóbil defeito.

Já não explicitam o estado de alma,
Nem a serenidade que tudo acalma,
Mas o insistente ardor para possuir,
Tanto quanto é possível de usufruir.

O não dito acaba bem mais explícito,
Do que o aparente discurso solícito,
E mais do que o conteúdo de termos,
Contagia até velados espaços ermos.

O não dito revela variados sintomas,
Das sociais e massacrantes redomas,
Bem como a causa efetiva das dores,
Do bloqueio dos genuínos pendores.

O não dito tende a explicitar o fervor,
Que emerge com incomum pundonor,
Do âmago das entranhas da existência,
E ali não espera nenhuma subserviência.

A geral negligência em torno do não dito,
Mais do que a contrariedade do interdito,
Tende a despertar mui variegadas tensões,
Vindas dos planos e metas de instituições.





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