O passado da
nossa história humana, ao lado dos valores humanitários, dos inventos e da rica
complexificação da cultura, nos legou um modo peculiar de lidar com as coisas e
com os acontecimentos: é a tendência de interpretar fatos e pessoas a partir de
polarizações, tais como “Alma-corpo”, “Bom-ruim”, “Bonito-feio”,
“Amigo-inimigo”, “Caos-cosmos”, “Material-espiritual”, “Sagrado-profano” e
muitas outras.
De acordo
com o que desejamos, pode algo muito significativo e valioso ser visto como
ruim, feio, contrário e merecedor de eliminação.
No campo
religioso esta polarização também leva a muitas dificuldades porque em nome de
Deus se deseja muito mal e se maldiz tanta coisa das outras pessoas, vistas como
opostas, como inimigas ou como adversas ao que é bom.
Quando bate
a vontade de estabelecer vingança, apela-se com facilidade à intervenção de
Deus para que Ele execute uma vingança maior do que aquela que seríamos capazes
de imputar. Fica a impressão de que nem Deus é bom, porque Ele se presta para
nossas baixarias de ódios e desejos de vingança.
Pelo menos
uma constatação muito evidente é a de que Deus nunca se mostra rápido para nos
socorrer frente a desejos vingativos ou de ação prejudicial a outras pessoas.
Da herança bíblica vem a rica noção de que Deus é extremamente paciente, e, com
isto, nos ajuda a adequar melhor nossas propensões à violência.
Muitas
pessoas até titubeiam diante de Deus e deduzem que Ele está muito lerdo ou
inativo no que lhe suplicam. Esta demora ajuda a constatar que Deus, com
certeza, não se interessa pelo nosso mundo de vinganças, mas deseja muito mais
que sua misericórdia nos salve diante dos atos e fatos pecaminosos. Ele é o
Deus que espera a fim de que aconteça a nossa redenção.
Na
convivência familiar e comunitária nada melhor do que a paciência como
mediadora para nos ajudar a lidar com as compulsividades e os desejos de
afastar ou eliminar os que nos parecem adversos. Jesus alertou seus discípulos
a não executar rapidamente os intentos de excluir membros que não pareceram
bons aos olhos de outros discípulos. De maneira muito sutil, ensinou através de
uma historinha sobre lavoura de trigo infestada de inço. Remeteu a separação ao
momento da colheita.
Ao não
pactuar com os desejos de exclusão Jesus ainda remeteu ao significado de outra
comparação, a do fermento misturado na farinha. Nos bons gestos pode fermentar
algo que transforma muito mais o meio-ambiente do que as naturais propensões a
perseguir, ameaçar, excluir e atentar contra a vida.
Se muitos
sinais e gestos parecem constituir-se em joio que sufoca o trigo, é a paciência
que vai permitir que no momento certo aconteça a separação. Em outras palavras,
não cabe a nós, impacientes, esta tarefa, e, o discipulado no seguimento de
Cristo pode tornar-nos fermento bom a levedar a massa dos nossos ambientes
familiares e comunitários.
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