Muito cedo
na existência nos damos conta da grandeza e da simultânea fragilidade da vida.
Como o apóstolo Paulo costumava escrever, somos uma jóia preciosa num vaso de
barro. Apesar da extraordinária capacidade psíquica e da incrível e encantadora
organização do corpo, damo-nos conta de uma vulnerabilidade ainda mais
espantosa.
Adoecemos
por muito pouca coisa e nos magoamos por coisas ainda menores. Ao mesmo tempo
em que desejamos situações bonitas e maravilhosas, subsumimos em minúsculas
situações de perda de sentido e, de repente, parece que nada mais consegue
motivar-nos para algo melhor.
O que,
afinal, conseguiria remover-nos do sentimento vitimalista e de perdas diante dos
outros, e, até mesmo diante de Deus?
Num momento
da história do primeiro testamento da Bíblia, quando a pátria tinha sido conquistada
com muito suor e sangue; quando as regras ético-religiosas deram coesão às
diferentes tribos; quando a fartura de alimentos era poeticamente cantada como
terra onde corre leite e mel; sem demora, em outro momento, quando isso tudo
tinha desaparecido, e esta gente exilada em outro país, novamente na condição
de escravatura, levou aqueles escravos a se auto-interpretarem como meros cadáveres
ambulantes: o pessimismo tomou conta das conversas e a imagem corrente levava ao
senso comum daquelas pessoas de que não passavam de ossos ressequidos, sem
nenhuma esperança para nada.
O profeta
Ezequiel, desejando um espírito de vida a este grupo humano cambaleante,
apontou-lhe a evidência de que Deus não se negaria a restaurar toda esta
situação de fracasso e renovar totalmente a vida para que pudessem admitir,
pelo menos, a possibilidade de voltar a viver novamente na sua pátria.
O Evangelho
de São João, muitos séculos depois do povo exilado na Babilônia ter retornado à
sua pátria, mostrou que Jesus Cristo, ao ser seguido, no seu modo de ser, seria
capaz de propiciar renovação ainda mais profunda na vida: Nele se recriam as
capacidades que tiram dos processos entrópicos de morte, e destes, podem
haurir-se razões exuberantes para viver melhor. Isso é ressurreição!
Na figura de
Lázaro, nos damos conta de que nós, mesmo com boa pulsação cardíaca e com
sangue correndo com rico fluxo nas veias, andamos, em muitos momentos da vida,
de pés e de mãos amarradas por convenções ambientais e por incapacidades de nos
desatrelar destas amarras e de tantas outras subjetivas prisões que nos tiram o
gosto da vida. Assim, nos tornamos parecidos com cadáveres ambulantes, nos
quais o olhar e a expressão fisionômica se aproximam mais do portão do
cemitério do que da alegre, serena e satisfeita convivência.
Quer na
imagem de ossos ressequidos ou de ossos em estado de putrefação, somos
interpelados a procurar em Cristo a vitalidade para desamarrar as mãos e os pés,
- especialmente as amarras psíquicas - a fim de andar com graça e satisfação
nos caminhos da vida. Esta plenitude, nós também a esperamos para além da morte
derradeira.
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