Apesar das
muitas mudanças de referência, a Páscoa é provavelmente das festas mais antigas
de nossa ancestralidade humana. Por longo tempo era festa de pastores nômades,
celebrada na primavera. O nascimento de carneiros e de outros animais dava um
sentido de passagem e de recriação das esperanças, pois, tudo indicava que
teriam abastecimento de carne para mais um ano.
Aos poucos,
juntou-se a esta festa outro significado, a festa em torno da colheita dos
primeiros grãos da safra que indicava o mesmo sentido de recriação das
esperanças, porquanto que a possibilidade de enchimento das tulhas e reservas
de alimentos remetia à alegria festiva.
Certamente
levou tempos enormes a adequação cultural nômade, centralizada em torno de
animais para a cultura sedentária de cultivo de terras. Ainda em nossos dias
estas distintas formas ainda estão presentes e se completam nos momentos
festivos.
Experiência
religiosa muito intensa, experimentada por hebreus ao se escaparem da
escravidão do Egito, levou a antiga festa primaveril a um terceiro significado:
festa com grata memória pela passagem de libertação da escravidão.
Muitos
séculos mais tarde, Jesus Cristo, foi morto, precisamente nos preparativos da
festa de Páscoa que avivava o amor de Deus mediante a saída do Egito. Na última
ceia com seus amigos, Jesus sabendo da iminência de sua morte, valeu-se dos
sinais da festa da páscoa, pão e vinho, e pediu que os amigos e seguidores
passassem a lembrar um quarto e mais relevante significado às antigas tradições
da festa: que lembrassem o que ele mais fez durante sua vida, especialmente
para dar sentido à vida aos que já vacilavam na capacidade de admitir algo
significativo para a existência, como maior sinal do amor de Deus.
Deste quarto
significado, articulou-se uma tradição cristã com ricas celebrações da memória
de transcendência do que significa morte, sofrimento e perda de sentido. Esta
passagem, avivada na existência, indicava horizontes para além da morte.
De algumas
décadas para cá, mesmo sem um grande evento de destaque, impôs-se à prática da
vida, um quinto significado da Páscoa: consumir muito ovo de chocolate! Mesmo
oco, que seja grande, vistoso e saboroso!
Gradualmente vão ficando esquecidos
os importantes significados da ancestralidade da festa de Páscoa e o ditame do
consumismo estabelece razão já bem distante da gratuidade e do significado
religioso da festa: importa tão somente empanturrar-se à exaustão.
E para muitos, a decadência do antigo
império romano, oferece, nesta hora, uma sugestão plausível: “comamos e
bebamos, porque amanhã morreremos!”. Isto justificava o empanturrar-se, e,
quando já não descia nada para o estômago, a provocação de vômitos constituía
praxe para retornar à obsessão do voltar à repetição do ciclo de comer.
Assim, muitos não lembram nem
nascimento de animais e de colheitas, nem experiências religiosas marcantes, menos
ainda passagens profundas no sentido da existência, mas apenas que se trata de
mais um momento para comer e beber até os limites possíveis.
Cristo ao celebrar a ceia com os
discípulos, além de dar novo significado aos anteriores que eram importantes,
ainda orientou, através de um exemplo, o do “lava-pés” que o serviço de
comunhão e acolhida constitui o melhor ingrediente da festa.
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