quarta-feira, 16 de abril de 2014

Páscoa - das festas primaveris ao ovo de chocolate



            Apesar das muitas mudanças de referência, a Páscoa é provavelmente das festas mais antigas de nossa ancestralidade humana. Por longo tempo era festa de pastores nômades, celebrada na primavera. O nascimento de carneiros e de outros animais dava um sentido de passagem e de recriação das esperanças, pois, tudo indicava que teriam abastecimento de carne para mais um ano.
            Aos poucos, juntou-se a esta festa outro significado, a festa em torno da colheita dos primeiros grãos da safra que indicava o mesmo sentido de recriação das esperanças, porquanto que a possibilidade de enchimento das tulhas e reservas de alimentos remetia à alegria festiva.
            Certamente levou tempos enormes a adequação cultural nômade, centralizada em torno de animais para a cultura sedentária de cultivo de terras. Ainda em nossos dias estas distintas formas ainda estão presentes e se completam nos momentos festivos.
            Experiência religiosa muito intensa, experimentada por hebreus ao se escaparem da escravidão do Egito, levou a antiga festa primaveril a um terceiro significado: festa com grata memória pela passagem de libertação da escravidão.
             Muitos séculos mais tarde, Jesus Cristo, foi morto, precisamente nos preparativos da festa de Páscoa que avivava o amor de Deus mediante a saída do Egito. Na última ceia com seus amigos, Jesus sabendo da iminência de sua morte, valeu-se dos sinais da festa da páscoa, pão e vinho, e pediu que os amigos e seguidores passassem a lembrar um quarto e mais relevante significado às antigas tradições da festa: que lembrassem o que ele mais fez durante sua vida, especialmente para dar sentido à vida aos que já vacilavam na capacidade de admitir algo significativo para a existência, como maior sinal do amor de Deus.
            Deste quarto significado, articulou-se uma tradição cristã com ricas celebrações da memória de transcendência do que significa morte, sofrimento e perda de sentido. Esta passagem, avivada na existência, indicava horizontes para além da morte.
            De algumas décadas para cá, mesmo sem um grande evento de destaque, impôs-se à prática da vida, um quinto significado da Páscoa: consumir muito ovo de chocolate! Mesmo oco, que seja grande, vistoso e saboroso!
Gradualmente vão ficando esquecidos os importantes significados da ancestralidade da festa de Páscoa e o ditame do consumismo estabelece razão já bem distante da gratuidade e do significado religioso da festa: importa tão somente empanturrar-se à exaustão.
E para muitos, a decadência do antigo império romano, oferece, nesta hora, uma sugestão plausível: “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos!”. Isto justificava o empanturrar-se, e, quando já não descia nada para o estômago, a provocação de vômitos constituía praxe para retornar à obsessão do voltar à repetição do ciclo de comer.
Assim, muitos não lembram nem nascimento de animais e de colheitas, nem experiências religiosas marcantes, menos ainda passagens profundas no sentido da existência, mas apenas que se trata de mais um momento para comer e beber até os limites possíveis.
Cristo ao celebrar a ceia com os discípulos, além de dar novo significado aos anteriores que eram importantes, ainda orientou, através de um exemplo, o do “lava-pés” que o serviço de comunhão e acolhida constitui o melhor ingrediente da festa.


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