domingo, 6 de abril de 2014

Cachaça



Mais do que belas madames,
Encanta, de jovens a anciões,
E leva ao delírio dos ditames,
Os mais obcecados beberrões.

Os nomes indicam a graduação,
É cachaça para os renomados,
Pinga para os desconsiderados,
E “mé” para pobre consolação.

Sob pretexto de apenas um gole,
Considerado sadio e estimulante,
Os que vêm depois deixam mole,
A censura do controle ponderante.

Donde viria a graça da obsessão,
Compulsiva para não esquecê-la,
A beber até a moribunda exaustão,
Sem a capacidade de esvanecê-la?

Aprisiona mais do que presídios,
E aos que caem em seus braços,
Não apresenta outros subsídios,
Senão deles supor outros abraços.

Inebria, num certo momento,
Na mais evolvente majestade,
Mas, sem dó e constrangimento,
Induz na mórbida bestialidade.

Suportá-los no mau hálito,
E nas conversas sem graça,
Deixa pungente e esquálido,
O porvir de incauta desgraça.

Se a indução do ambiente,
Enfeitiçou na dependência,
Tão ardida, lábil, e renitente,
Como redimir a convivência?

Da labilidade dos desejos,
Ou da ausência dos seios,
Ao não darem os ensejos,
De sucção dos reais anseios,
Restou a sede sem medidas.

Como lidar com a feiticeira,
Sem horizonte alvissareiro,
Que rompe a vida caseira,
E conduz, ao rumo do bueiro,

Tudo o que possa ser fagueiro?

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