Os efeitos da hiper-realidade de nossos dias exaltam ao auge das
sugestivas motivações a produção de heróis triunfantes, que, mesmo sem nos
envolver em reais elevações triunfais, nos amarram aos delírios e sonhos
produzidos em torno daqueles que são proclamados heróis ou heroínas. Beleza
física e capacidade esportiva tendem a ocupar os lugares de destaque, ao lado
das ascendências governamentais.
As entradas dos presumidos
triunfantes são geralmente exploradas à exaustão, com fogos, luzes,
incalculáveis fotografias, e volumes de som acima do permitido por lei, para
gerar delírio.
No conformismo distante de atos
heróicos, projeta-se, sobre o outro herói ou heroína, o sonho acalentado, mas,
em nada efetivado.
Posses de reis, de governantes e até
de subalternos mandantes costumam envolver a apoteose triunfalista de quem
assume um cargo eminente. Do primeiro testamento da Bíblia, lembra-se uma
figura típica de quem foi, no imaginário coletivo de muitos séculos, o rei das
excelsas grandezas humanas.
Sua entrada e também sua posse na
capital de Jerusalém foram estabelecidos como sinônimos deste clímax, embora
lhe atribuíssem os mais humildes e bons propósitos para o bem-estar do povo.
Rápido como os ventos, volatizaram-se
os propósitos e o famoso rei começou a pensar mais em si e nas suas muitas
amantes. Pouco sobrou para a gestão governamental em favor do povo.
Os redatores dos evangelhos de Jesus
Cristo animaram as primeiras comunidades cristãs com uma releitura do “triunfalismo
davídico” pelo avesso. A entrada de Jesus, em Jerusalém e seu senhorio, não foram
os de um comandante vencedor de acirrada disputa de guerras. Basta lembrar que
Jesus entrou montado num jegue: desarmado e ciente do que o caminho redentor
tinha outro percurso.
Para os cristãos, Jesus passou a ser
identificado não ao rei imponente, mas, ao “servo sofredor”, lembrado em quatro
poemas de Isaías, que destacam certos sofrimentos como caminho que impregna redenção
e salvação.
O alcance do sofrimento consciente e
integrado com vistas a alguma mudança ou superação é sempre um sofrimento que
gera vida. Nas propostas de Jesus Cristo a grandeza da capacidade de sofrer por
uma razão maior, se constitui estratégia não ao triunfalismo, mas, ao triunfo.
Assim como os que acolhiam Jesus,
jogando ramos verdes sobre o chão por onde passaria na entrada de Jerusalém,
rapidamente foram envolvidos a se isentar do gesto e gritar contra ele, também Judas,
um dos discípulos mais próximos, o traiu e o relegou por alguns poucos
trocados.
Em nossos dias, como estes primeiros
discípulos, muitos cristãos relegam o seguimento a Jesus Cristo por muito menos
do que algumas moedas e ramos verdes de acolhida. Basta uma pequena mágoa
contra alguém da comunidade ou um pequeno traço de antipatia contra o padre ou,
minudências ainda mais insignificantes, para se fecharem no seu mundinho
pessoal de vida, sem ação, sem causa de ação, e, mais ainda, sem nenhuma
motivação para incorporar algum grau, - por pequeno que seja – de sofrimento ou
esforço por uma causa justa e edificante.
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