Se a palavra
“rei” ou seu conotativo equivalente a “presidente” já não desfruta de
subserviente encantamento, tampouco a linguagem religiosa que estabelece Jesus
Cristo como “rei”, desperta impressões simpáticas. No entanto, o significado da
atribuição feita a Jesus de Nazaré quer salientar um procedimento
diametralmente oposto ao que era peculiar nos reis, imperadores e governantes.
Basta
lembrar o que Jesus falou e como lidava com as pessoas: manifestava
solidariedade, compreensão, mas, também convocava para o perdão e a recuperação
de sentido para a vida. Na culminância de tudo o que fez, não ficou a glória de
bens, de fama e de precedência política, mas a cruz, símbolo do caminho duro e
humilde para apontar outro jeito de convivência entre os seres humanos.
Enquanto a
realeza histórica dos reis vinha sendo marcada pela arrogância, pela força
bruta das guerras e invasões, a realeza atribuída a Jesus Cristo, muito
distinta do agir irônico de romano Pilatos, por exemplo, que chegou ao extremo
de mandar flagela-lo, sob o pressuposto de que poderia ameaçar seu poder
político. A proposta do reino apresentada por Jesus Cristo, não era a do
império romano e nem mesmo uma tentativa de competir com o imperador Cesar, de
Roma, ou de pretender estabelecer-se em seu lugar.
Ao
justificar que o atributo da realeza de Jesus não tinha nada parecido com a
realeza deste mundo, o evangelista são João salientou que a realeza de Jesus é
uma manifestação do amor de Deus ao mundo: não estava ali a fim de agitar o
povo para a violência de guerrilha, de resistência ou de práticas de terror.
Sua realeza apresentava a marca do amor. Por isso, aceitou a cruz, que aponta
um caminho totalmente distinto da realeza que se manifestava no mundo e que se
movia pela violência em todos os níveis da organização da vida.
Na imagem do
pastor que dá a sua vida pelas ovelhas, Jesus foi assimilado como alternativa
aos poderes que se pautavam pela violência. Por isso, pode-se entender a ameaça
que Jesus representava às tradicionais formas de exercício da realeza. A
relativização das formas de governo mexeu com os brios dos que as sustentavam
ao preço de espoliação, de escravidão, de pobreza e de morte.
Infelizmente,
até poderes exercidos no interior das comunidades católicas revelam que muitas
pessoas agem mais pendentes aos traços de César e de Herodes do que de Jesus
Cristo, que convocou as pessoas para o serviço em favor do bem comum. E como
carecemos, ainda hoje, de uma realeza de redenção que se aproxima do itinerário
de Jesus Cristo!
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