quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Uma realeza de amor



            Se a palavra “rei” ou seu conotativo equivalente a “presidente” já não desfruta de subserviente encantamento, tampouco a linguagem religiosa que estabelece Jesus Cristo como “rei”, desperta impressões simpáticas. No entanto, o significado da atribuição feita a Jesus de Nazaré quer salientar um procedimento diametralmente oposto ao que era peculiar nos reis, imperadores e governantes.
            Basta lembrar o que Jesus falou e como lidava com as pessoas: manifestava solidariedade, compreensão, mas, também convocava para o perdão e a recuperação de sentido para a vida. Na culminância de tudo o que fez, não ficou a glória de bens, de fama e de precedência política, mas a cruz, símbolo do caminho duro e humilde para apontar outro jeito de convivência entre os seres humanos.
            Enquanto a realeza histórica dos reis vinha sendo marcada pela arrogância, pela força bruta das guerras e invasões, a realeza atribuída a Jesus Cristo, muito distinta do agir irônico de romano Pilatos, por exemplo, que chegou ao extremo de mandar flagela-lo, sob o pressuposto de que poderia ameaçar seu poder político. A proposta do reino apresentada por Jesus Cristo, não era a do império romano e nem mesmo uma tentativa de competir com o imperador Cesar, de Roma, ou de pretender estabelecer-se em seu lugar.
            Ao justificar que o atributo da realeza de Jesus não tinha nada parecido com a realeza deste mundo, o evangelista são João salientou que a realeza de Jesus é uma manifestação do amor de Deus ao mundo: não estava ali a fim de agitar o povo para a violência de guerrilha, de resistência ou de práticas de terror. Sua realeza apresentava a marca do amor. Por isso, aceitou a cruz, que aponta um caminho totalmente distinto da realeza que se manifestava no mundo e que se movia pela violência em todos os níveis da organização da vida.
            Na imagem do pastor que dá a sua vida pelas ovelhas, Jesus foi assimilado como alternativa aos poderes que se pautavam pela violência. Por isso, pode-se entender a ameaça que Jesus representava às tradicionais formas de exercício da realeza. A relativização das formas de governo mexeu com os brios dos que as sustentavam ao preço de espoliação, de escravidão, de pobreza e de morte.
            Infelizmente, até poderes exercidos no interior das comunidades católicas revelam que muitas pessoas agem mais pendentes aos traços de César e de Herodes do que de Jesus Cristo, que convocou as pessoas para o serviço em favor do bem comum. E como carecemos, ainda hoje, de uma realeza de redenção que se aproxima do itinerário de Jesus Cristo!



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