quarta-feira, 1 de julho de 2015

Vozes incômodas



            Os grandes profetas do primeiro testamento da Bíblia, de distintas épocas, tiveram que lidar com o desconforto de suportar duras críticas ao seu discurso. Mesmo preocupados com o melhor, e, desejosos de ajudar o povo a manter-se coeso em torno da fé que o unia a Deus, os profetas revelaram sofrimento intenso, causado pela rebeldia às suas orientações. Ezequiel chegou a chamar seu povo de “nação rebelde”.
            No evangelho de Marcos (6,1-6), revelam-se dificuldades que Jesus encontrou em sua própria terra natal, um pequeno povoado que certamente somava de 25 a 30 famílias pobres, morando nas cavernas de um paredão de pedra rochosa. O texto também fornece as razões da adversidade que Jesus padeceu naquele ambiente. Aqueles moradores sabiam do encantamento por Jesus nos lugares por onde passava. Também eles o admiravam pelo sucesso. No entanto, tinham uma peculiaridade: não tinham fé! Quiseram tão somente valer-se de vantagens. Esperavam uma ação extraordinária que os promovessem a uma notável ascensão social.
            Mesmo sendo filho de um profissional conceituado daquele ambiente, pois, era filho de carpinteiro, viu-se Jesus diante de uma incredulidade preconceituosa. No seu imaginário religioso aquela comunidade de Nazaré, certamente, cultivava uma imagem de um Deus parecido com o de tantos movimentos religiosos de nossos dias: grande sensacionalismo de curas, de milagres, de libertações, enfim, uma ação de transformação instantânea e de grandes impactos para persuadir através de um ar triunfalista.
            O olhar focado para interesses imediatos e que propiciassem rápida auto-afirmação, impedia aquela comunidade de acolher um messianismo de ação, de trabalho e de envolvimento na construção de um reino melhor. Afinal, teriam que sair do comodismo de uma vida fácil e fatalista.

            Se Jesus aparecesse de maneira similar, em tantos dos nossos espaços religiosos, provavelmente encontraria ambiente parecido com o da sua terra natal. Ali já não se desejava contribuir para o bem da comunidade, mas, torna-se lugar de grande afluência para obtenção de vantagens pessoais. A recusa diante das possibilidades de conversão torna-se também impossibilidade de perceber as interpelações dos sinais do Reino, porque o foco da fé fica restrito somente aos interesses particulares.

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