Os grandes
profetas do primeiro testamento da Bíblia, de distintas épocas, tiveram que
lidar com o desconforto de suportar duras críticas ao seu discurso. Mesmo
preocupados com o melhor, e, desejosos de ajudar o povo a manter-se coeso em
torno da fé que o unia a Deus, os profetas revelaram sofrimento intenso,
causado pela rebeldia às suas orientações. Ezequiel chegou a chamar seu povo de
“nação rebelde”.
No evangelho
de Marcos (6,1-6), revelam-se dificuldades que Jesus encontrou em sua própria
terra natal, um pequeno povoado que certamente somava de 25 a 30 famílias
pobres, morando nas cavernas de um paredão de pedra rochosa. O texto também fornece
as razões da adversidade que Jesus padeceu naquele ambiente. Aqueles moradores
sabiam do encantamento por Jesus nos lugares por onde passava. Também eles o
admiravam pelo sucesso. No entanto, tinham uma peculiaridade: não tinham fé!
Quiseram tão somente valer-se de vantagens. Esperavam uma ação extraordinária
que os promovessem a uma notável ascensão social.
Mesmo sendo
filho de um profissional conceituado daquele ambiente, pois, era filho de
carpinteiro, viu-se Jesus diante de uma incredulidade preconceituosa. No seu
imaginário religioso aquela comunidade de Nazaré, certamente, cultivava uma imagem
de um Deus parecido com o de tantos movimentos religiosos de nossos dias:
grande sensacionalismo de curas, de milagres, de libertações, enfim, uma ação
de transformação instantânea e de grandes impactos para persuadir através de um
ar triunfalista.
O olhar
focado para interesses imediatos e que propiciassem rápida auto-afirmação,
impedia aquela comunidade de acolher um messianismo de ação, de trabalho e de
envolvimento na construção de um reino melhor. Afinal, teriam que sair do
comodismo de uma vida fácil e fatalista.
Se Jesus
aparecesse de maneira similar, em tantos dos nossos espaços religiosos,
provavelmente encontraria ambiente parecido com o da sua terra natal. Ali já
não se desejava contribuir para o bem da comunidade, mas, torna-se lugar de grande
afluência para obtenção de vantagens pessoais. A recusa diante das
possibilidades de conversão torna-se também impossibilidade de perceber as
interpelações dos sinais do Reino, porque o foco da fé fica restrito somente
aos interesses particulares.
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