Na ambiguidade das buscas, a
satisfação do imediato parece, normalmente, sobrepor-se aos projetos de longo
prazo. Assim que o alcance da comida, da vantagem e da possibilidade de fazer
reserva se esvai, a conversa se transforma em lamúria e o olhar da fé remete
com facilidade para os tempos passados. Estes, então, passam a ser
estabelecidos como novo horizonte de ideal a ser buscado.
Basta ver como muita gente, em meio à
crise de nossos dias, fica insinuando, com saudosismo, a volta de formas de
governo já deixados de lado, como o da ditadura militar, e defende
ardorosamente aquelas mediações como melhor caminho de redenção para nossos
dias.
Da experiência religiosa decorrente
da fé em Deus, algo similar se repetiu em diversas ocasiões da história
bíblica. Basta lembrar o episódio da fome no meio do deserto, com murmúrios e
lamentações de que teria sido melhor continuarem escravos no Egito do que
morrer de fome naquele lugar inóspito. Bastou encontrar resina de tamareira
para matar a fome, que o assunto tomou totalmente outra dimensão. Viu-se nisto
uma intervenção de Deus e, euforicamente, apareceu o desejo de mais “pão caído
do céu”.
Dos antigos murmúrios, ao de nossos
dias, salientam-se, nestes lamentos, muitos anseios interesseiros e, numa
mágica, adapta-se a memória do passado, para fazê-la passar a ser insinuada
como isenta de sofrimentos e de contrariedades profundas. Afirma-se,
simplesmente, que aquele tempo era um tempo feliz, mesmo tendo havido muito
desrespeito e clara afronta à dignidade das pessoas.
Nas multidões que procuraram Cristo,
o desejo imediato pelo provisório, impedia perceber nos seus sinais um
itinerário de construção da vida segundo a vontade de Deus. A cegueira de fé,
daquele momento, permitia apenas enxergar o pão que ia para o estômago. Como o
povo do deserto esperava de Moisés a intervenção para mais resina de tamareira,
os que iam ao encontro de Jesus, tampouco entendiam o alcance do que pregava:
trabalhar para saciar outra fome mais profunda: o seu jeito de ser, indicava um
modo de vida para muito além da mera comida diária e das formas
sensacionalistas de obtê-la dentro de certas regras estabelecidas.
Jesus apontava, aos interesseiros, um
horizonte de plenitude: chegar a uma vida de mais qualidade! É o “pão da vida”.
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