É notável e preocupante como muitas
pessoas desenvolvem fenomenal capacidade de apascentar coisas, objetos,
imóveis, mas, na perspectiva de submeter outras pessoas, visando que estas dependam
de seus interesses e se tornem acolhedoras passivas de seus ditamos.
A crise econômica e a política aguçam
ainda mais o clima de insatisfação em torno do que deva ser feito para que as
pessoas, já constituídas vítimas de um sistema espoliador, mesmo que teoricamente
chamadas de cidadãs, não sejam simplesmente ignoradas, mas, que recebam os
cuidados básicos e vejam assegurados seus direitos elementares.
Neste contexto, tanto lideranças
políticas quanto religiosas facilmente se debruçam sobre discursos teóricos
que, na verdade, não ajudam em nada as pessoas necessitadas de melhoria da
qualidade de vida e que andam sedentas por uma vida mais digna e respeitada.
Como o povo bíblico costumava usar
imagens das lidas cotidianas e aplicá-la à realidade de fé do seu tempo,
tornava-se frequente a comparação de pastor, que cuida ou que deixa de cuidar
das ovelhas, com os evidentes efeitos de segurança ou de desamparo.
Até mesmo o termo “pastor”, em nossos
dias, pode conotar significados muito diversos, mas, da antiga comparação
rural, algo ainda permanece valioso: é preciso ser bom pastor! E nada melhor do
que lembrar como Jesus Cristo reuniu os seus discípulos, depois de enviados,
para avaliar os primeiros resultados (Mc 6, 30-34) e reconsiderar a necessidade
de agregar pessoas que andavam dispersas pela vida e que migravam movidos por
uma carência profunda. Ele mesmo as interpretou como ovelhas sem pastor, porque
a religião estabelecida há mais tempo, as ignorava.
Como nos dias de Cristo, ao lado da
fome de comida, vem se manifestando em nossos dias, outra bem mais profunda:
fome e sede de sentido para a existência humana. Se em Cristo as multidões
encontraram sentido, os seus seguidores, especialmente os mais próximos que
eram os apóstolos e discípulos, foram convidados a ajudá-las com desvelo de boa
orientação para o alcance do sentido, tão desejado pelas pessoas com quem se
encontravam pudesse efetivar-se.
Os discípulos e discípulas de hoje,
mais do que pautar sua conversa em torno de muitas obrigações, de muitos
requisitos e exigências extenuantes são, como os apóstolos, convidados a
anunciar por palavras e gestos outro modo de relações do que o do desfrute, o
do controle e o da submissão. Cabe-lhes a importante ajuda para que as pessoas
se emancipem do que as aprisiona em situações de dependência e de abandono. Por
outro lado, convém que encontrem nos cristãos, constituídos em pastores ou
pastoras, não o moralismo separador, nem a destruição de seu legado religioso
e, muito menos, a exploração de suas esperanças. Mais do que ritos mecânicos ou
meramente rubricistas e formalistas, compete aos cristãos facilitar o acesso ao
Cristo Ressuscitado, que não recomendou nenhum fardo pesado e enfadonho a ser
exigido dos que estão à busca de sentido.
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