quarta-feira, 15 de julho de 2015

Capacidade de apascentar


           
É notável e preocupante como muitas pessoas desenvolvem fenomenal capacidade de apascentar coisas, objetos, imóveis, mas, na perspectiva de submeter outras pessoas, visando que estas dependam de seus interesses e se tornem acolhedoras passivas de seus ditamos.
A crise econômica e a política aguçam ainda mais o clima de insatisfação em torno do que deva ser feito para que as pessoas, já constituídas vítimas de um sistema espoliador, mesmo que teoricamente chamadas de cidadãs, não sejam simplesmente ignoradas, mas, que recebam os cuidados básicos e vejam assegurados seus direitos elementares.
Neste contexto, tanto lideranças políticas quanto religiosas facilmente se debruçam sobre discursos teóricos que, na verdade, não ajudam em nada as pessoas necessitadas de melhoria da qualidade de vida e que andam sedentas por uma vida mais digna e respeitada.
Como o povo bíblico costumava usar imagens das lidas cotidianas e aplicá-la à realidade de fé do seu tempo, tornava-se frequente a comparação de pastor, que cuida ou que deixa de cuidar das ovelhas, com os evidentes efeitos de segurança ou de desamparo.
Até mesmo o termo “pastor”, em nossos dias, pode conotar significados muito diversos, mas, da antiga comparação rural, algo ainda permanece valioso: é preciso ser bom pastor! E nada melhor do que lembrar como Jesus Cristo reuniu os seus discípulos, depois de enviados, para avaliar os primeiros resultados (Mc 6, 30-34) e reconsiderar a necessidade de agregar pessoas que andavam dispersas pela vida e que migravam movidos por uma carência profunda. Ele mesmo as interpretou como ovelhas sem pastor, porque a religião estabelecida há mais tempo, as ignorava.
Como nos dias de Cristo, ao lado da fome de comida, vem se manifestando em nossos dias, outra bem mais profunda: fome e sede de sentido para a existência humana. Se em Cristo as multidões encontraram sentido, os seus seguidores, especialmente os mais próximos que eram os apóstolos e discípulos, foram convidados a ajudá-las com desvelo de boa orientação para o alcance do sentido, tão desejado pelas pessoas com quem se encontravam pudesse efetivar-se.

Os discípulos e discípulas de hoje, mais do que pautar sua conversa em torno de muitas obrigações, de muitos requisitos e exigências extenuantes são, como os apóstolos, convidados a anunciar por palavras e gestos outro modo de relações do que o do desfrute, o do controle e o da submissão. Cabe-lhes a importante ajuda para que as pessoas se emancipem do que as aprisiona em situações de dependência e de abandono. Por outro lado, convém que encontrem nos cristãos, constituídos em pastores ou pastoras, não o moralismo separador, nem a destruição de seu legado religioso e, muito menos, a exploração de suas esperanças. Mais do que ritos mecânicos ou meramente rubricistas e formalistas, compete aos cristãos facilitar o acesso ao Cristo Ressuscitado, que não recomendou nenhum fardo pesado e enfadonho a ser exigido dos que estão à busca de sentido.

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