quarta-feira, 8 de julho de 2015

Fraternidade e paz



            Na medida em que os bons anseios de paz e de fraternidade são acalantados entre os melhores sentimentos humanos, vivemos o desconforto de muitas transformações técnicas, científicas e culturais que manipulam o conceito de felicidade e o associam ao intenso consumo de objetos e coisas. E quando tudo vira suscetível de descarte, também o ser humano se vê mergulhado no mesmo determinismo catastrófico: virar um lixo descartável por muito pouca coisa, ou tornar-se vítima fatal, por razões estúpidas.
            Jesus, ao lidar, sob um quadro político perverso e, em meio a ódios decorrentes de fundamentalismos e fanatismos religiosos, convocou os discípulos para uma importante missão: anunciar a iminência das possibilidades de uma vida muito diferente e dar sinais da irrupção deste reino novo. Não os incumbiu de um poder em benefício próprio, mas, de ação positiva sobre a maldade, sobre as doenças e sobre tudo quanto estava sendo um reino de morte.
            Na delegação de serviço, Jesus não repassou nenhum segredo mágico, mas, orientou para uma presença positiva no meio das múltiplas fontes e forças de morte. Teriam que ir de dois a dois para se complementarem no conteúdo da mensagem a ser transmitida e, para melhor deliberar sobre os possíveis caminhos capazes de despertar à pertença de uma comunidade.
            Em nossos dias não faltam anunciadores que falam em nome de Jesus e que dizem agir sob sua orientação, mas, pelos resultados do charlatanismo, mais servem para oferecer uma felicidade mágica, que, apenas se enquadra na manipulação do sistema, a fim de transformar pessoas em meras consumidoras, quer de milagres prontos, ou de presumidas felicidades que não mudam as lidas com o entorno.
            Na recomendação de Cristo (Mc 6, 7-13) também esteve presente um pedido  importante: não ser impertinente, chato e insistente à exaustão para forçar as pessoas à submissão. O anúncio deveria direcionar-se aos que acolhem, na fé, e, apesar da praxe de hospitalidade que era própria da época, não deveriam abusar deste costume.
            Atualmente o comprometimento em torno da diminuição de violências, de acumulações injustas e de planos diabólicos que acabam espoliando as pessoas, sob o pretexto de bons negócios, inviabiliza a capacidade de distinguir quem trabalha em favor da humanidade, de quem se move por apontar muita felicidade, pelo mau espírito de explorar e de dominar as pessoas. A tarefa, portanto, mais do que expulsar demônios, passa ser a da participação num trabalho que possa diminuir forças diabólicas de mentes humanas, o que requer um difícil itinerário de construção.

            

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