Na medida em
que os bons anseios de paz e de fraternidade são acalantados entre os melhores
sentimentos humanos, vivemos o desconforto de muitas transformações técnicas,
científicas e culturais que manipulam o conceito de felicidade e o associam ao
intenso consumo de objetos e coisas. E quando tudo vira suscetível de descarte,
também o ser humano se vê mergulhado no mesmo determinismo catastrófico: virar
um lixo descartável por muito pouca coisa, ou tornar-se vítima fatal, por
razões estúpidas.
Jesus, ao
lidar, sob um quadro político perverso e, em meio a ódios decorrentes de
fundamentalismos e fanatismos religiosos, convocou os discípulos para uma
importante missão: anunciar a iminência das possibilidades de uma vida muito
diferente e dar sinais da irrupção deste reino novo. Não os incumbiu de um
poder em benefício próprio, mas, de ação positiva sobre a maldade, sobre as
doenças e sobre tudo quanto estava sendo um reino de morte.
Na delegação
de serviço, Jesus não repassou nenhum segredo mágico, mas, orientou para uma
presença positiva no meio das múltiplas fontes e forças de morte. Teriam que ir
de dois a dois para se complementarem no conteúdo da mensagem a ser transmitida
e, para melhor deliberar sobre os possíveis caminhos capazes de despertar à
pertença de uma comunidade.
Em nossos
dias não faltam anunciadores que falam em nome de Jesus e que dizem agir sob
sua orientação, mas, pelos resultados do charlatanismo, mais servem para
oferecer uma felicidade mágica, que, apenas se enquadra na manipulação do
sistema, a fim de transformar pessoas em meras consumidoras, quer de milagres
prontos, ou de presumidas felicidades que não mudam as lidas com o entorno.
Na recomendação
de Cristo (Mc 6, 7-13) também esteve presente um pedido importante: não ser impertinente, chato e
insistente à exaustão para forçar as pessoas à submissão. O anúncio deveria
direcionar-se aos que acolhem, na fé, e, apesar da praxe de hospitalidade que
era própria da época, não deveriam abusar deste costume.
Atualmente o
comprometimento em torno da diminuição de violências, de acumulações injustas e
de planos diabólicos que acabam espoliando as pessoas, sob o pretexto de bons
negócios, inviabiliza a capacidade de distinguir quem trabalha em favor da
humanidade, de quem se move por apontar muita felicidade, pelo mau espírito de
explorar e de dominar as pessoas. A tarefa, portanto, mais do que expulsar
demônios, passa ser a da participação num trabalho que possa diminuir forças
diabólicas de mentes humanas, o que requer um difícil itinerário de construção.
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