quarta-feira, 22 de julho de 2015

Partilha do pouco que se tem



            Os pioneiros da formação do povo de Israel experimentaram, como um feito notável de Deus, a graça de encontrar maná, num oásis do deserto, quando sua fome já estava no limite da suportabilidade.
            Mais tarde, o profeta Eliseu, conhecido como homem de Deus, teria saciado cem pessoas com apenas vinte pequenos pães, num momento limítrofe de fome, devido a uma grande estiagem que assolou toda a região.
            De acordo com São João, Jesus de Nazaré, diante da proximidade da festa de Páscoa, foi à montanha – símbolo dos grandes eventos de Deus – e ali, orientou os discípulos para que, da docilidade do pouco que eles representavam, poderia nutrir-se uma multidão! O pouco de pão, de uma pessoa anônima, constituiu o sinal mediador da ação de Deus.
            Em Jesus Cristo, o povo do seu tempo percebeu um sinal muito mais evidente da ação bondosa de Deus do que a efetivada no deserto e nas pessoas de Elias e Eliseu: Jesus teria alimentado cinco mil pessoas, com cinco pães, e ainda teriam sobrado 12 cestos cheios. Trata-se, com evidência, de uma mensagem relativa à messianidade de Jesus Cristo. Mais do que insinuar um ato milagreiro mágico, a descrição da multiplicação dos pães, remete a um quadro simbólico muito rico e significativo: no agir de Cristo, torna-se presente o agir de Deus, e, preenche o anseio das pessoas por sentido!
            Jesus incumbiu os discípulos a partilhar do pouco que tinham, mas, este pouco de sentido existencial, não só alimentou o sentido de uma grande multidão, mas permitiu uma sobra dos cestos cheios. Em outra linguagem, quando os discípulos partilharam do pouco que tinham assimilado de Jesus Cristo, souberam orientar eficazmente a muita gente, e, simultaneamente, perceberam que isso fez um bem enorme à sua própria existência. A sobra também indica, teologicamente, que nada do que se partilha fica sem um retorno gratificante. Os doze cestos lembram as doze tribos de Israel e que a irradiação dos serviços dos doze apóstolos poderia atingir todo o povo de Israel e chegar aos confins da Terra.
            O entusiasmo dos saciados logo descambou para a dimensão política: queriam aclamar Jesus como rei para melhor assegurar que continuasse a fornecer pão. Jesus, no entanto, desapareceu do ambiente de rumor e foi para um lugar deserto...
            O Evangelista São João percebeu em Jesus um caminho messiânico muito mais amplo e mais explícito do amor de Deus.

            O pão, que lembra a centralidade dos gestos de Jesus Cristo, continua, ainda hoje, a nos interpelar para que estes gestos sejam irradiados em meio à multidões de famintos de sentido e de razões para a sua existência. 

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