É comum, quando a argumentação não consegue mudar um procedimento de
alguém, que se apele à expressão “Pelo amor de Deus!”. Espera-se que este apelo
mais forte produza uma reação favorável a algum interesse sobre uma ou mais
pessoas. Do mesmo modo, podemos falar e insistir na afirmação de que Deus é
amor. No entanto, o que se quer dizer, ao se insinuar que Deus é amor? Parece
que, mais do que sentir-se interpelado para amar a Deus, deixa-se transparecer
que se trata de uma assimilação intelectual com uma perspectiva conformista: quer-se
que a outra pessoa aceite o discurso impetrado sobre ela. Na prática, isso não
passa de tentativa de persuasão controladora.
Quando o
povo bíblico promulgou o primeiro e mais importante mandamento de “amar a Deus
sobre todas as coisas”, tinha, certamente, em vista um sentimento de gratidão
pelo que havia experimentado da parte de Deus, em seu processo de formação.
Tinha sido iniciativa de Deus e não apenas um ato reflexo por persuasão humana.
Por que Deus amou gratuitamente, o povo se sentia convidado a “amar a Deus”,
como um gesto de retribuição, a fim de perpetrar esta sintonia de continuar
captando seus sinais favoráveis a vida do povo.
A partir do
evento Jesus Cristo, a experiência religiosa dos seus seguidores passou a
assimilá-lo como o mais explícito dom do amor de Deus. Quanto ao discipulado
que ele convocou, implica em produzir sinais parecidos com os seus. Ao
reconhecer este amor primeiro da parte de Deus, convém, pelo menos, uma
correspondência para fazer, como Jesus, o que fez às pessoas que amava. E são
tantas as narrativas edificantes relativas às formas como Jesus Cristo ajudou
pessoas a recuperar o sentido da existência.
O velho
ditado de que “uma gota de mel atrai mais moscas do que um barril de vinagre”
torna-se elucidativo para uma agir bondoso no meio das pessoas que se amam. Não
convém que seja um processo de dominação através de afirmações categóricas meramente
dirigidas aos outros.
Não se trata
tampouco de relação para o servilismo, tão ardentemente perpetrada por tantos
discursos religiosos fundamentalistas, que apelam, até mesmo, à exploração
emocional e aos recursos dos estados de transe para submeter pessoas aos seus
interesses.
A interpelação de Jesus Cristo, para
o seguimento, apontou o reino de Deus, ou seja, produzir frutos para que este
reino possa expandir-se. Mais do que um peso, trata-se de participação positiva,
a fim de inserir-se melhor no cosmos, constituído de pessoas, de animais, de
natureza e das multifacetárias formas de vida.
Facilmente o
amor maior sucumbe a amores menores ou inferiores, movidos somente por
interesses pessoais de privilégios, de vantagens, de status e, até mesmo, de interesses
afetivos. Sobra, por conseguinte, um caminho longo para que a atenção humana e
solidária às outras pessoas recupere um patamar mais elevado do que o da mera
sedução com vistas a vantagens pessoais.
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