quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sinal da melhor recordação



            Muitos objetos remetem a boas recordações: são fotografias, pequenos ícones, imagens, roupas, pequenas lembranças, etc. Elas remetem a momentos do passado e despertam bons sentimentos em relação à pessoa que se aviva com a recordação de seu gesto. Por isto mesmo os sinais simbólicos falam com muito maior intensidade do que outros sinais comuns. O presente, ou o sinal deixado, remete à outra realidade. Assim fotografias e quadros, mesmo antigos, nos avivam importantes momentos da vida.
            O povo do primeiro testamento da Bíblia lembrava e relembrava em muitos momentos da vida um fato muito marcante: que a fome suprida com frutinhas de tamareira, no meio do deserto, onde já estavam sem comida, significou, na sua experiência religiosa, um presente caído do céu. Graças a estas frutas, a maior parte do povo não pereceu. A simples recordação deste importante momento da trajetória dos antepassados lembrava, ao povo dos tempos posteriores, que Deus havia agido bondosamente e que, por isto mesmo, poderia revelar outros sinais da mesma bondade.
            Se pão e vinho passaram a ser assimilados como sinais de avivamento do antigo gesto, adquiriam, ao mesmo tempo, uma virtualidade de jogar as pessoas para frente e lhes abrir perspectivas de sentido diante deste amor envolvente de Deus.
Em Jesus Cristo, a tradicional significação do pão e do vinho, adquiriu uma dimensão nova e muito significativa. Ao perceber que na festa da Páscoa ele seria envolvido em passagem que acabava com sua existência, ele se despediu dos discípulos e lhes expressou o desejo de continuar a ser presença no meio deles. Para tal ato de recordação e memória escolheu os sinais da antiga festa de Páscoa, a fim de lhes permitir a atualização de sua presença.
Por isto, quando hoje celebramos a festa do Corpo de Cristo, continuamos a memorizar o que mais marcou seus gestos e sua presença extraordinária que transformava o rumo das pessoas. Seu corpo e sangue, ou aquilo que ele mais fez, podem ser resumidos e reconhecidos como o maior gesto enternecido daquele mesmo Deus que despertara, no povo antigo, os melhores sentimentos através das pequenas frutas de tamareira. O sentimento grato daquela gente foi o de dizer que era pão, caído do céu!
Jesus Cristo passou a ser lembrado como gesto ainda maior do que aquele experimentado com as frutas da tamareira. Nele se revelaram gestos de amor muito mais amplos e significativos à condição humana.
O evangelista São João, ao reler e reinterpretar os grandes acontecimentos da passagem de Jesus Cristo aplicou nova significação comparativa ao da antiga experiência com o maná, afirmando que Jesus é o verdadeiro pão que desceu do céu.

Ao fazer esta bela recordação, ou memória de Jesus, acabamos avivando e renovando sua presença entre nós, com a alegre expectativa de que nossa passagem nesta vida, também possa aproximar-nos mais do seu modo de ser e nos levar a fazer um itinerário parecido como o dele.

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