É comum e
até bom poder ouvir-se que o Espírito Santo de Deus não se deixa engaiolar
pelos interesses humanos. Mesmo assim, não faltam pessoas fanáticas convencidas
de terem especiais acessos e de estarem possuídos por poderes paranormais
auferidos pelo Espírito Santo. Tal pretensão certamente fica distante da forma
ou do modo como as primeiras comunidades cristãs fizeram síntese e experiência
da ação de Deus.
Todos os grandes fatos
transformadores entre o momento da Páscoa e o da festa de Pentecostes, levaram
as comunidades a sentir, concretamente, que estavam participando de grandes
obras de Deus. Mais do que elucidação de como aconteceu o envolvente agir divino,
foi uma constatação de que estavam enovelados em pelo menos alguns grandes e
manifestos traços da ação bondosa de Deus. No modo de acolher Jesus Cristo
enchiam-se da certeza desta bondade do Deus, a quem chamavam de Pai, e da sua
ação manifestada de forma muito clara e evidente em Cristo, que, por sua vez,
assegurou a manifestação do bom Espírito de Deus aos que procurassem consolidar
o projeto de vida por Ele apresentado.
As grandes dificuldades superadas
pelas comunidades levaram à releitura do passado da história bíblica, e as
levou perceber que, já com um dos primeiros grandes líderes, Moisés, a
experiência de Deus não fora a de um Deus violento e vingativo, mas, a de um
Deus misericordioso e bom. O povo conduzido por Moisés havia se desviado dos
propósitos e entrado num processo de idolatria. Envolveu-se na adoração de
estátuas de ouro, tal como ainda hoje acontece com grandes parcelas de cristãos
que centralizam o “deus do acúmulo” como centro da sua vida.
Na constatação efetiva de que Deus
era misericordioso, fiel e nada vingativo, Moisés soube relegar sua
insatisfação e sua própria vontade de vingar-se da traição efetuada pelos seus
discípulos. Nem castigo e nem vingança. A lembrança da boa experiência de Deus
fez Moisés desconsiderar a gravidade da idolatria, assim como ajudou os
primeiros cristãos a se certificar de que, em Jesus Cristo, Deus manifestou
sinais muito mais convincentes de misericórdia e estima. Tanto nos gestos
quanto nas palavras, Jesus revelou exaustivamente esta bondade de Deus, pois,
até mesmo vítima da prepotência de pessoas que em nome da fé o levaram à morte,
soube evitar os mecanismos de vingança e de produção de novas vítimas. Manifestou,
até mesmo nesta hora mais difícil, o perdão aos que o executaram.
Assim a constatação de que Deus, auto-revelado
a Moisés, se auto-revelou ainda mais no dom de Jesus Cristo, para ajudar as
pessoas a quebrar o ciclo das formas egoístas, que estavam levando a vinganças
violentas geradoras de outras violências. Tornava-se provavelmente muito satisfatória
a constatação do envolvimento nesta circularidade do amor de Deus, e que
tornava estes discípulos capazes de profunda ação transformadora de relações
humanas desencontradas.
Ainda hoje a boa e animadora a
possibilidade de rezar e de impregnar-se dos bons sentimentos, - tal como se
reza no início de cada celebração eucarística, - através da bela e acolhedora
saudação de São Paulo à comunidade de Corinto: “a graça de Cristo, o amor do
Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!”
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