quarta-feira, 11 de junho de 2014

Modos de experimentar a ação de Deus



            É comum e até bom poder ouvir-se que o Espírito Santo de Deus não se deixa engaiolar pelos interesses humanos. Mesmo assim, não faltam pessoas fanáticas convencidas de terem especiais acessos e de estarem possuídos por poderes paranormais auferidos pelo Espírito Santo. Tal pretensão certamente fica distante da forma ou do modo como as primeiras comunidades cristãs fizeram síntese e experiência da ação de Deus.
Todos os grandes fatos transformadores entre o momento da Páscoa e o da festa de Pentecostes, levaram as comunidades a sentir, concretamente, que estavam participando de grandes obras de Deus. Mais do que elucidação de como aconteceu o envolvente agir divino, foi uma constatação de que estavam enovelados em pelo menos alguns grandes e manifestos traços da ação bondosa de Deus. No modo de acolher Jesus Cristo enchiam-se da certeza desta bondade do Deus, a quem chamavam de Pai, e da sua ação manifestada de forma muito clara e evidente em Cristo, que, por sua vez, assegurou a manifestação do bom Espírito de Deus aos que procurassem consolidar o projeto de vida por Ele apresentado.
As grandes dificuldades superadas pelas comunidades levaram à releitura do passado da história bíblica, e as levou perceber que, já com um dos primeiros grandes líderes, Moisés, a experiência de Deus não fora a de um Deus violento e vingativo, mas, a de um Deus misericordioso e bom. O povo conduzido por Moisés havia se desviado dos propósitos e entrado num processo de idolatria. Envolveu-se na adoração de estátuas de ouro, tal como ainda hoje acontece com grandes parcelas de cristãos que centralizam o “deus do acúmulo” como centro da sua vida.
Na constatação efetiva de que Deus era misericordioso, fiel e nada vingativo, Moisés soube relegar sua insatisfação e sua própria vontade de vingar-se da traição efetuada pelos seus discípulos. Nem castigo e nem vingança. A lembrança da boa experiência de Deus fez Moisés desconsiderar a gravidade da idolatria, assim como ajudou os primeiros cristãos a se certificar de que, em Jesus Cristo, Deus manifestou sinais muito mais convincentes de misericórdia e estima. Tanto nos gestos quanto nas palavras, Jesus revelou exaustivamente esta bondade de Deus, pois, até mesmo vítima da prepotência de pessoas que em nome da fé o levaram à morte, soube evitar os mecanismos de vingança e de produção de novas vítimas. Manifestou, até mesmo nesta hora mais difícil, o perdão aos que o executaram.
Assim a constatação de que Deus, auto-revelado a Moisés, se auto-revelou ainda mais no dom de Jesus Cristo, para ajudar as pessoas a quebrar o ciclo das formas egoístas, que estavam levando a vinganças violentas geradoras de outras violências. Tornava-se provavelmente muito satisfatória a constatação do envolvimento nesta circularidade do amor de Deus, e que tornava estes discípulos capazes de profunda ação transformadora de relações humanas desencontradas.

Ainda hoje a boa e animadora a possibilidade de rezar e de impregnar-se dos bons sentimentos, - tal como se reza no início de cada celebração eucarística, - através da bela e acolhedora saudação de São Paulo à comunidade de Corinto: “a graça de Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco!”

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