Da herança
do primeiro testamento da Bíblia veio uma re-significação de festa muito
antiga. Antes mesmo da constituição do povo de Israel celebrava-se a festa de
Pentecostes. Constituía uma das principais festas que levava todo o povo a festejar
com alegria o início das colheitas.
Mais tarde este festa de Pentecostes transformou-se
em romaria ao Templo para agradecer e expressar contentamento pelas primícias
dos primeiros frutos colhidos na temporada. Tratava-se de uma festa de alegria
que recriava muitas esperanças a partir da indicação que apontava reserva de
alimentos para um longo ciclo de tempo até outra possível colheita.
Com a
experiência religiosa mais intensa do êxodo e da promulgação das regras
ético-religiosas dos 10 mandamentos, esta festa de Pentecostes passou a fazer
memória desta irrupção do bom espírito de Deus ocorrida no bom-senso das doze
tribos para o entendimento.
No início do
tempo cristão, para os discípulos de Jesus Cristo, a grande transformação que
aconteceu nas pessoas e nas comunidades levou-as a experimentar, na memória
desta festa, como o bom Espírito de Deus, prometido por Jesus Cristo estava
manifestando um auge na caminhada de sua fé. Tinha manifestado uma força
transformadora profunda, pois, foi capaz de levar estas pessoas de fé a
colocarem seus dotes pessoais ao serviço do bem comum.
A primeira experiência de medos,
desencantos, e frustrações diante de falsas expectativas, estava totalmente relegada.
A constatação objetiva lhes mostrava e inusitada forma de proceder. Estes
cristãos passaram a anunciar e a testemunhar o Cristo vivo, para além das
diferenças culturais e de expressão linguística, com alegria e bom humor,
apesar das inerentes dificuldades.
Este
“querigma”, ou modo de testemunhar Jesus Cristo ultrapassava largamente todas
as normais dificuldades para dialogar e anunciar o reino proposto por Jesus
Cristo nos ambientes onde se falavam outras línguas. Em outras palavras, estes
primeiros cristãos transformados, mostravam que a comunicação do amor, no jeito
de Cristo, falava mais alto dos que os signos da linguagem das distintas
línguas. A linguagem não verbal levava estes discípulos de Cristo a anunciar
algo que encantava as pessoas. O jeito de Cristo tornava-se a fonte da irrupção
do Espírito de Deus.
Entre os
discípulos e as comunidades cristãs não deixou de manifestar-se uma tentação
forte de transformar dotes pessoais para uma ascensão pessoal, rápida e vistosa.
Especialmente alguns dotes, como os de cura e de línguas eram as mais bem
cotadas. São Paulo, no seu zelo pela integridade da mensagem salvífica de
Cristo, alertava que os dotes pessoais sempre deveriam concorrer como serviço
para o bem comum, a caridade, e não para uma auto-afirmação pessoal em vista de
prestígio.
Lamentavelmente
nossos dias repetem a velha tentação de caminhos exotéricos, mágicos e sensacionalistas
em torno de curas, línguas e libertações. Canso-me de ouvir pessoas que
procuram ajuda pessoal e que declaram categoricamente que passaram por processo
de cura e libertação, mas, na verdade, tornaram-se completamente embotados na
fé, na alegria e na capacidade de testemunhar Jesus Cristo, a tal ponto que nem
mesmo sexual e afetivamente funcionam. A lavagem cerebral deixou-as viradas em
meros feixes de escrúpulos e de pesados sentimentos de culpa.
A tentação dos extraordinários poderes
terapêuticos tende a não passar de vulgar processo hipnótico e de produção de
sons aleatórios que não representam língua nenhuma de culturas humanas. Aprender
o mundo cultural e simbólico que subjaz à língua de um povo, é algo
extremamente difícil e demorado. Por isso os presumidos poderes do milagre de
falar muitas línguas sem longo tirocínio de estudos, pode indicar muito mais um
caso de charlatanice do que de real e efetiva ação do Espírito Santo.
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