quarta-feira, 18 de junho de 2014

A dura lida com as calúnias



            Tanto a história bíblica quanto a história geral das relações humanas demonstram exaustivamente o quanto as pessoas tem dificuldade de lidar com calúnias. Bem sabemos no que termina a vingança. No entanto, como administrar os sentimentos feridos pela maldade alheia, que, ao denegrir nosso nome e nos ferir em nossos símbolos vitais, machuca mais do que se nos batessem fisicamente?
            Muitos textos do primeiro testamento da Bíblia mostram que a experiência religiosa daquele povo diante da agressividade, quer de povos vizinhos ou daquela que os profetas experimentavam no meio de suas comunidades, os levava a delegar a vingança a Deus. E muitas vezes rezavam, com insistente fervor, para que a vingança divina fosse um pouco maior do que a humilhação que eles tinham sofrido.
            Diante do que Jesus Cristo manifestou em palavras e gestos não fica nenhuma evidência de que Deus se presta como justiceiro para vingar as situações humanas injustiçadas.
            Com certeza, a condição humana, ao delegar a Deus a esperada ação vingativa, é melhor do que revidar porque tenderá a diminuir o ciclo vicioso da violência revidada que gera outra violência.  Mesmo assim, como integrar subjetivamente os sentimentos desta demorada espera de ação divina? A tendência natural é a de que os sentimentos de raiva ou de vingança passem a ocupar a centralidade do que se pensa e que acaba tirando toda a motivação para um agir positivo.
            Podemos recordar que os procedimentos de Jesus Cristo diante das múltiplas formas de agressividade, de calúnias, difamações e de perseguições, apontaram o perdão e a reconciliação como caminho mais plausível para romper a natural vontade de vingança, e, também da desistência de continuidade nos bons procedimentos e no anúncio da Boa Nova. É, sem dúvida, um caminho nada fácil e que exige intenso cultivo de fé! Ainda mais, porque nestas situações emergem de imediato, fortes propensões para desistir, aquietar-se e refugiar-se no anonimato.
            Jesus orientava seus seguidores a lidar com esta tentação: insistia muito para que os discípulos não tivessem medo! Que eles, apesar das adversidades, não escondessem as preciosidades do Evangelho. Tampouco deveriam sucumbir diante do medo. Ainda que o sofrimento das adversidades fosse desanimador, convidava-os ao anúncio do Evangelho, e lhes assegurava que todo o bom procedimento no meio da maldade, seria levado em conta por Deus.

            Como os primeiros cristãos, que souberam realimentar-se da palavra de Cristo para não entrar no círculo vicioso da vingança, nós, também podemos, como ele, tornar viva e eficaz a importante exortação de não cultivar o mecanismo da vingança, ainda que o necessário perdão demore, poderá encher-nos de confiança e de certeza de que tal procedimento, de fato, é o melhor que poderia ter efetuado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

<center>ERA DIGITAL E DESCARTABILIDADE</center>

    Criativa e super-rápida na inovação, A era digital facilita a vida e a ação, Mas enfraquece relacionamentos, E produz humanos em...