Tanto a
história bíblica quanto a história geral das relações humanas demonstram
exaustivamente o quanto as pessoas tem dificuldade de lidar com calúnias. Bem
sabemos no que termina a vingança. No entanto, como administrar os sentimentos
feridos pela maldade alheia, que, ao denegrir nosso nome e nos ferir em nossos
símbolos vitais, machuca mais do que se nos batessem fisicamente?
Muitos
textos do primeiro testamento da Bíblia mostram que a experiência religiosa
daquele povo diante da agressividade, quer de povos vizinhos ou daquela que os
profetas experimentavam no meio de suas comunidades, os levava a delegar a
vingança a Deus. E muitas vezes rezavam, com insistente fervor, para que a
vingança divina fosse um pouco maior do que a humilhação que eles tinham
sofrido.
Diante do
que Jesus Cristo manifestou em palavras e gestos não fica nenhuma evidência de
que Deus se presta como justiceiro para vingar as situações humanas
injustiçadas.
Com certeza,
a condição humana, ao delegar a Deus a esperada ação vingativa, é melhor do que
revidar porque tenderá a diminuir o ciclo vicioso da violência revidada que
gera outra violência. Mesmo assim, como
integrar subjetivamente os sentimentos desta demorada espera de ação divina? A
tendência natural é a de que os sentimentos de raiva ou de vingança passem a
ocupar a centralidade do que se pensa e que acaba tirando toda a motivação para
um agir positivo.
Podemos
recordar que os procedimentos de Jesus Cristo diante das múltiplas formas de
agressividade, de calúnias, difamações e de perseguições, apontaram o perdão e
a reconciliação como caminho mais plausível para romper a natural vontade de
vingança, e, também da desistência de continuidade nos bons procedimentos e no
anúncio da Boa Nova. É, sem dúvida, um caminho nada fácil e que exige intenso
cultivo de fé! Ainda mais, porque nestas situações emergem de imediato, fortes
propensões para desistir, aquietar-se e refugiar-se no anonimato.
Jesus orientava seus seguidores a
lidar com esta tentação: insistia muito para que os discípulos não tivessem
medo! Que eles, apesar das adversidades, não escondessem as preciosidades do
Evangelho. Tampouco deveriam sucumbir diante do medo. Ainda que o sofrimento
das adversidades fosse desanimador, convidava-os ao anúncio do Evangelho, e
lhes assegurava que todo o bom procedimento no meio da maldade, seria levado em
conta por Deus.
Como os
primeiros cristãos, que souberam realimentar-se da palavra de Cristo para não
entrar no círculo vicioso da vingança, nós, também podemos, como ele, tornar
viva e eficaz a importante exortação de não cultivar o mecanismo da vingança,
ainda que o necessário perdão demore, poderá encher-nos de confiança e de
certeza de que tal procedimento, de fato, é o melhor que poderia ter efetuado.
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