sexta-feira, 28 de março de 2025

DOIS TRAÇOS COMPLICADOS

  

Quando a convivência humana,

Foca labuta que pouco irmana,

Revela os horizontes perdidos,

De sentimentos empedernidos.

 

Uma polarização que sectariza,

E aos considerados bons elitiza,

Produz rotulação da vida alheia,

E julga com a fala de boca cheia.

 

Parábola de Cristo sobre pai bom,

Apontou misericórdia como dom,

Concedido a relegado e excluído,

Como a legalista todo fementido.

 

Se grave pecado de filho errante,

Ensejou uma compaixão radiante,

Mais compaixão requeria o erro,

Do puritano em religioso aferro.

 

Uma noção farisaica de impureza,

Negava a estrangeiros a inteireza,

De participarem da sua vida social,

Por preconceito de exclusão total.

 

Alegria pelo retorno de filho vivo,

Num rol de puritanismo exclusivo,

Queria abrir largo acesso a Cristo,

Sem enquadrar em superado cisto.

 

Amparo na velha lei exteriorizada,

Condenava a celebração afiliada,

De quem reintegrava os excluídos,

Afastados por religiosos bramidos.

 

Irrepreensíveis nos mandamentos,

Do detalhismo exterior de intentos,

Muito mais pecador que os demais,

O farisaísmo vivia dos exteriores ais.

 

Imagem do filho afastado que volta,

Clama à cega legalidade, reviravolta,

Na teimosia sem mínima compaixão,

Para misericórdia com bondosa ação.

 

Nos distantes da afiliação com Deus,

Revelou-se, que na ação de fariseus,

Longe do Deus bom a todos os seres,

Estava apelo para outros procederes.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 24 de março de 2025

FIGUEIRA ESTÉRIL

 

 

Arbusto encantador e apreciado,

Virou o símbolo de bom agrado:

Sua gratuita produção de frutos,

Atraía olhares curiosos e argutos.

 

Comparação a uma boa figueira,

Equivalia a não sossegar na eira,

De redentores em nome de Deus,

A degradar a boa ação dos judeus.

 

Em nome da religião para a guerra,

Produzia-se vasto ódio nesta Terra,

Sob desejo de ser como a figueira,

Para frutos de gratuidade altaneira.

 

Resiliência aos climas secos e áridos,

Da figueira, generosa aos impávidos,

A misericórdia efetiva com o amor,

Dom vital, bem do jeito do criador.

 

Para este povo seco e sem sinais,

A figueira de frutos excepcionais,

Apontava um itinerário de cultivo,

Para um cordial convívio oblativo.

 

Uma figueira graciosa e frutífera,

Com fruta abundante e calorífera,

Oferecia durante um ano inteiro,

Alimento para consumo rotineiro.

 

Associar-se à imagem da figueira,

Significava a condição altaneira,

Da solidariedade gratuita e leal,

Para a respeitabilidade convivial.

 

Na religião oficial, por seu turno,

Produzia-se o panorama soturno,

Dum Deus vingativo e rancoroso,

Contra pobre pouco prestimoso.

 

Na espiritualidade da retribuição,

A sofrida sina da pobre condição,

Era o pressuposto castigo divino,

Vingando procedimento cretino.

 

Entre os ladrões e espoliadores,

Defesa de roubos como pendores,

Assimilava como retribuição divina,

A riqueza, dom da aparência sovina.

 

Induzia-se pobre à sua auto-punição,

E mapeada sua conduta pela direção,

Vivia ele numa apatia desconectada,

Assegurando perversa elite de alçada.

 

Tirava-se toda virtualidade do povo,

Bem submetido ao ilusório corcovo,

De muito desagradar a proposição,

Atribuída a um Deus de enrolação.

 

Jesus diante deste quadro perverso,

Na imagem da figueira para inverso,

Negou um Deus vingativo da secura,

Da religião formal, em sua sinecura.

 

A imagem de adubar bem a figueira,

Apontava a indicação toda fagueira,

De reta mudança do mundo interior,

Para dele eclodir fruto de bom sabor.

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de março de 2025

CONFORMISMO RELIGIOSO

 

 

Quando a economia da acumulação,

Degrada vida humana em profusão,

Corrói perspectivas de mundo bom,

E alarga fala religiosa de falso dom.

 

Se milhões se declaram seguidores,

De midiáticos e falantes pregadores,

Nos apelos a conformismo religioso,

Brilha decadência do rumo virtuoso.

 

Na quaresma sem apelo de redenção,

Diviniza-se largo sacrifício sem ação,

E ignora-se mundo decadente visível,

Para culpar estado subjetivo sofrível:

 

Penitencia e jejum ajeitam o interior,

E o sacrifício para seu belo esplendor,

É indicado como remédio todo eficaz,

Para conformidade que a Deus apraz.

 

No reforço da dor, meio de salvação,

Protela-se, na Páscoa sem redenção,

Toda e qualquer ação efetiva e social,

No sistema perverso de ação abissal.

 

Seguir guru sem rumo de libertação,

E sem um evangelho da convocação,

Produz uma religião que se submete,

À subserviência do capital de topete.

 

Enquanto este cristaliza destruição,

O sacrifício do suposto bom cristão,

Nada acrescenta a serviço redentor,

Do planeta ferido, gemendo na dor.

 

Legitima-se a ruína, vista como prova,

Para depurar a alma que nada renova,

E a visível ruína do planeta decadente,

Segue seu processo com fiel contente.

 

Mesmo sob o itinerário da sua morte,

O penitente quaresmal adora a sorte,

Da orientação de iluminado pregador,

Um categórico e diretivo conservador.

 

 

domingo, 16 de março de 2025

ENTRE PASSADO E ESPERANÇA

 

 

Como pássaro a equilibrar o voo,

Bate asas para melhor sobrevoo,

Nossa condição requer lampejo:

Ajustar asas do passado e desejo.

 

Voo exitoso requer as duas asas,

Sem memória as elevações rasas,

Não satisfazem boas aspirações,

E nem clareiam as elucubrações.

 

Apenas desejos sem fundamento,

Não ensejam algum bom alento,

E fazem voos espatifar-se no chão,

Se estiverem esvaídos de tradição.

 

A religião e política de nossos dias,

Revelam as assustadoras maestrias,

De organização pela asa do passado,

E produzem mal-estar por todo lado.

 

Povoam crenças no foco do passado,

Cheios de nostalgia sem novo recado,

Para refirmar o seu conservadorismo,

Sem esperança e prenhe de cinismo.

 

Exaltação dos modelos tradicionais,

Preenche discursos e rezas oficiais,

Mas apenas romantiza o passado,

Como o pleno e feliz a ser reatado.

 

Sem a crise econômica e climática,

A proposta, torna bela e simpática,

Toda a argumentação ao regresso,

De um tempo exitoso de progresso.

 

Líderes político-religiosos apregoam,

E com a mídia largamente atordoam,

Esperanças vulgares a afirmar poder,

De facções rivais na disputa do crer.

 

Nacionalismos cristãos nada justos,

Exaltam mórbidos líderes augustos,

Como caminho plausível e redentor,

Enquanto ratificam o ato espoliador.

segunda-feira, 10 de março de 2025

NA CONTRAMÃO SOCIALIZADORA

 

 

Na organização da vida social,

Existe uma propensão pessoal,

De não ficar no bloco familiar,

E migrar para relações ampliar.

 

O processo seletivo de grupos,

Engendra processos de atritos,

Quando separa o nós e o eles,

E os trata como animais reles.

 

Educação para trato de respeito,

Não solidificou um exitoso jeito,

Contra nacionalismo fanatizado,

Que solta um ódio estupificado.

 

A discriminação a estrangeiros,

Rege atos violentos e guerreiros,

Contra o bom-senso esclarecido,

De um povo inteligente e sabido.

 

Contra perspectiva evolucionista,

Da boa capacidade universalista,

Regresso a um fundamentalismo,

Anula todo burilado ecumenismo.

 

Discursos demagógicos vociferam,

Contra tudo o que outros fizeram,

E nas regras com ódios excludentes,

Combatem estrangeiros advenientes.

 

A anti-democracia bem escancarada,

Indica uma rica categoria privilegiada,

Que precariza os vínculos trabalhistas,

Para assegurar suas largas conquistas.

 

Terras e direitos indígenas atrapalham,

Para sonho de consumo que espalham,

Pois a esperança divulgada com avidez,

Apenas locupleta sua clara mesquinhez.

CAMINHOS NO DESERTO

 

 

Povos nômades do Oriente Médio,

Não tiveram recursos de remédio,

Para aprender a andar no deserto,

Onde todo o rumo parece incerto.

 

Aprendiam, em dura experiência,

A deslindar rumos com paciência,

Que lhes assegurassem travessia,

Nas rotas que requeriam ousadia.

 

Aprendizagem paulatina na lida,

Criava arcabouço seguro de vida,

A fim de contornar fome e sede,

Com aquilo que deserto concede.

 

Frutos da tamareira, pão do céu,

Foco de segurança contra o léu,

Requeria memória e esperança,

Para andejo seguro na confiança.

 

O rosto velado contra sol e areia,

No olhar astuto e sangue na veia,

Delineava no caminho a ser feito,

A certeza de encontro satisfeito.

 

Nossos dias, sem lidas desérticas,

Sugam tantas ofertas simpáticas,

Que nada ajudam a definir rumos,

Para ajeitar-nos em bons prumos.

 

A baliza no deserto da existência,

Nada ingênita para clarividência,

Requer aprendizagem das rotas,

Para travessia com as boas frotas.

 

Cada sujeito, perante seu deserto,

Não tem o caminho pronto e reto,

Mas pode aprender a percorrê-lo,

Sem que este possibilite tolhe-lo.

 

Olho focado par além do deserto,

Faz caminho engendrar-se perto,

Para escolha necessária e valiosa,

Duma vida como graça dadivosa.

 

 

 

 

quinta-feira, 6 de março de 2025

SOB REGRAS IMPERIAIS

 

 

A memória de antigos impérios,

No atual quadro de impropérios,

Faz entrever lógica imperialista,

De dura tendência universalista.

 

Nos pretendentes mais audazes,

Transluzem as táticas mordazes,

Para que todos se curvem ao rei,

Do pensamento único como lei.

 

Desejo imperial a ser respeitado,

É a regra oficial para todo o lado,

E os não enquadrados na ordem,

Estão cientes do quanto perdem.

 

O ataque aos de gênero especial,

Na apelação do valor tradicional,

Apela a traços do “sacro império”,

Como referencial do bom critério.

 

Muita Bíblia, sem seu Evangelho,

Justifica um reacionarismo velho,

Do onipresente fantasma fascista,

Que pervaga direito de conquista.

 

Tudo precisa depender do chefe,

Mesmo sob seu alucinado blefe,

E ninguém pode desferir críticas,

Mas, apenas reproduzir mímicas.

 

Estrangeiros, tidos por criminosos,

Expulsos em tratamentos raivosos,

Ajustam o nacionalismo fanatizado,

Todo atrelado ao império sagrado.

 

O incentivo às famílias numerosas,

Aponta as vastas sequelas danosas,

Dum cruzamento com  outras raças,

Ante a pureza imperialista de graças.

 

Sob o valor absoluto e mais sagrado,

Fita-se extrema direita como legado,

E, como único caminho de salvação,

Na contingência da nossa condição.

 

 

 

quarta-feira, 5 de março de 2025

O BICHO DA MORTE

 


Auto-proclamado dominador,

Com direito de ser co-criador,

Sente-se o dono para usurpar,

Tudo o que é possível de tirar.

 

Ambição desmedida cultivada,

Faz dele uma fera desalmada,

Que ignora existência alheia,

E tudo amealha para sua teia.

 

Vive de guerra desnecessária,

Na procrastinação temerária,

De ser inimigo o insubmisso,

A lhe permitir justo reboliço.

 

Bíblia sem Deus aufere direito,

De submeter com seu despeito,

O que atrapalha fixos desejos,

Para dilatar enlevados ensejos.

 

Não se livra da horrenda guerra,

Pois cria, educa e a outros ferra,

No apelo à defesa da sua nação,

Contra suposta e inimiga invasão.

 

Falsa justificativa alimenta ódio,

E joga a paz para o divino pódio,

Para reproduzir larga violência,

Sem ética, moral e a clemência.

 

Os cruéis abusos são encobertos,

E as mentiras justificam espertos,

Grupos de poder a insinuar a ação,

Do apoio à manipulada aprovação.

 

O bicho da guerra oculta a verdade,

Sem dó das vítimas da sua maldade,

Gera apatia e indiferença à realidade,

E sente-se justificado na sua maldade.

 

Quando mentira constitui caminho,

Para todo poder tirano e mesquinho,

Sobra a notícia falsa e o preconceito,

E o animal da morte alarga conceito.

 

 

 

 

 

 

 

 

JEJUM

 

 

Tradição religiosa judaica antiga,

Sugeria para a interação amiga,

Solidariedade em horas críticas,

Com sinais e ações sistemáticas.

 

No jejum, esmola e penitência,

Pediam a Deus, por clemência,

Para corresponder a mudanças,

Impreteríveis às boas andanças.

 

A culpa perante calamidades,

Apontava senso de maldades,

Contributos para os desastres,

A merecer interações alvitres.

 

Profetas viram a exteriorização,

Dos muitos ritos de purificação,

Esvaídos da função mediadora,

Desprovidas de ação redentora.

 

Apontava-se rasgar o coração,

Para mudar um modo de ação,

Em vista do agir mais solidário,

Para Deus ser um bom mesário.

 

Jesus sugeriu outra penitência,

Para evitar toda maledicência,

Advinda da humana tentação,

De poder, fama e ostentação.

 

Apontava a intrínseca postura,

De um coração para a ternura,

No entorno do meio-ambiente,

Para um viver grato e contente.

 

Aliança de povo requer gestos,

Para além de guerras e doestos,

Pois, numa interação ecológica,

Amplia-se razão humana lógica.

 

Se as cinzas dos húmus da terra,

Já nos indicam o fim de uma era,

Carecemos de conversão global,

Para não sumir no calor mortal.

 

Mais do que as praxes habituais,

Com inovadas formas estruturais,

Uma reta penitência do coração,

Poderá parir ecológica interação.

 

 

 

segunda-feira, 3 de março de 2025

TESOURO DO CORAÇÃO

 


 

Coração na cultura semítica,

Mais que conotação fonética,

Do propulsionador sanguíneo,

Lembra um proceder retilíneo.

 

O cultivo para ser reto e bom,

Não é qualidade de inato dom;

Depende de processo apurado,

Em referenciais de bom legado.

 

A língua, solta o mundo interior,

Difunde o sentimento superior,

Mas, pode eivar-se da maldade,

E espalhar muita contrariedade.

 

Pode revelar o pior e o melhor,

Do âmago de ternura superior,

À maldade perversa e teimosa,

De lesão em ofensiva raivosa.

 

Da tamareira, árvore sagrada,

Na religião judaica apreciada,

A produção gratuita de frutos,

Lembrava sentimentos justos:

 

A secura dos desertos áridos,

Produzia frutos nada acáridos,

Dons gratuitos a transeuntes,

Forçados peregrinos andantes.

 

A bela imagem dos bons frutos,

Indicava contra os atos brutos,

Caminho de atos benevolentes,

Com as cordialidades atraentes.

 

Jesus Cristo lembrou os frutos,

Advindos de processos argutos,

De árvores eivadas de boa seiva,

Perpassadas por gratuita dádiva.

 

Assim, a interioridade cultivada,

Deixa a língua humana dilatada,

Para falar algo bom e agradável,

E que à interação seja saudável.

 

 

<center>COLONIALIDADE</center>

  Este traço humano precípuo, Lídimo manifesto conspícuo, Revela na obsessão humana, Algo que choca e desengana.   Abrange modo ...