terça-feira, 28 de janeiro de 2025

NOVO SANTUÁRIO

 

 

O altaneiro e luxuoso altar sagrado,

Da personalidade, o santuário criado,

Força o mundo à adoração universal,

Dos magnatas da mídia sensacional.

 

Nem Igreja e nem templo suntuoso,

Para a fé e a espiritualidade do gozo,

Pois, basta adorar egos proclamados,

De oligarcas da tecnologia, venerados.

 

É uma religião não do amor e serviço,

Mas, da acolhida passiva de submisso,

Do discurso fascista de heróis focados,

Prometendo felicidade e bons legados.

 

No ego adornado pelo poder da mídia,

Não percebem traição e nem perfídia,

Com a ilusão da felicidade prometida,

Em simulações da verdade contorcida.

 

Na propagação do seu excelso poder,

Está norteado o espírito para crescer,

À custa do consumo das informações,

Bombardeadas para pias assimilações.

 

Controlar sujeitos para elevar seu ego,

Nega quaisquer resquícios do superego,

Pois, passado e seu legado não importa,

Ao que o desejo de ambição comporta.

 

São os deuses da privatização do espaço,

E do que nele existe para seu maneiraço,

Desde que proporcione lucros fantásticos,

Para acúmulo de patamares bombásticos.

 

Nada importam os explorados do planeta,

Pois, mitos devem ecoar como trombeta,

Para serem ouvidos, engolidos e digeridos,

Como deuses a serem os únicos adorados.

 

 

 

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

COMPARAÇÕES DESCONFORTÁVEIS

 

 

Posses de tiranos em missas solenes,

Com teatralidade e perfeitas higienes,

Induzem multidões às contemplações,

Da reverência a poderosos das nações.

 

Legitimação perfeita para o simulacro,

Dum procedimento poderoso e xucro,

Afirma-se algo diametralmente oposto,

Duma abnegada vida para outro aposto.

 

Os eminentes adoradores de Mamom,

Ou de Molloch por sangue muito bom,

Requerem súditos de chefe poderoso,

E ritual a consagrar seu poder glorioso.

 

A vasta e sedutora oferta de felicidade,

Discursada para benefício da sociedade,

Não quer a memória religiosa de Jesus,

Mas um rito teatral onde o poder reluz.

 

Troca do Evangelho e coerência às fontes,

Por altares, rituais e sorridentes frontes,

Iluminam na aparência o suposto mundo,

Sem nenhum pobre ou relegado iracundo.

 

Projeta-se que ricaços já ricos e exitosos,

Arrebatem com seus discursos falaciosos,

Adoração ao deus do mercado lucrativo,

Única mediação para paraíso inofensivo.

 

Nada conta mundo arfante do submundo,

E apenas para aumentar seu meio fecundo,

O acúmulo nada propenso à solidariedade,

Tampouco é coerente a Cristo na sociedade.

 

Do projeto do Evangelho sobrou frangalho,

Para sonho e vida com um mísero bugalho,

Do mundo espoliado de forma indecorosa,

Sob autoelogio da ascendência vertiginosa.

 

Comparar a vida de Cristo como o salvador,

E fazer memória das razões de tanto ardor,

Remete a acolher migrantes e perseguidos,

Com incontáveis sujeitos humanos esvaídos.

RELAÇÃO TIRÂNICA

 

 

Midiática guerra messiânica,

Veicula uma tirania ufânica,

De quem já não quer servir,

Só agir como deus do porvir.

 

Na sua doentia onipotência,

Insensível a toda clemência,

Alimenta vontade de poder,

Para continuamente crescer.

 

Sem ver chance de bondade,

Fala e age com cega maldade,

Pois sabe que o poder cresce,

Quando submissão o enaltece.

 

O instinto de domínio absoluto,

Torna-o um fascínora impoluto,

Por aquilatar o seu ego doente,

Que o deixa eufórico e contente.

 

Demonstração do excelso poder,

Ajunta os bilionários para aceder,

Na larga aspiração dominadora,

Sem mínima ação humanizadora.

 

As ordens e gestos contundentes,

Ilustram os seus ares onipotentes,

A banalizar sua pérfida maldade,

Para impor o desejo à sociedade.

 

Neste espírito primitivo de domínio,

Transparece o seu mórbido fascínio,

Sem memória do absurdo hitleriano,

Para repetir o mesmo modo insano.

 

Nada importam os anelos humanos,

Ante gana de patamares doidivanos,

Que ignoram as relações respeitosas,

E nem valorizam afeições amistosas.

 

Na iminência de novos holocaustos,

Preconizam-se os tempos infaustos,

No lugar do projetado paraíso feliz,

Do neoliberalismo de falsa motriz.

 

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O NERO QUERO

 

 

Como o maluco imperador romano,

Tanto comandante impune e insano,

No seu pensamento único como lei,

Pratica a tirania sobre humana grei.

 

Adorado por sedentos interesseiros,

Emerge entre mandantes flibusteiros,

Para dar vazão ao seu ar onipotente,

Como mais lúcido e perspicaz vidente.

 

Foca tudo para seu próprio interesse,

E para o alargamento da sua benesse,

Que facilite expectativa dos caudilhos,

Locupletando seus enormes fundilhos.

 

Assentado no divino trono do poder,

Sente-se augusto para tudo submeter,

À paranoia da sua avidez messiânica,

Como suprema mediação hierofânica.

 

Enquanto promete era dourada e feliz,

Segue a mover-se por uma força motriz,

De exaurir o planeta, que geme na dor,

Para tudo submeter ao seu esplendor.

 

Educador pela sacralização do que faz,

Ensina a ser imitado no que lhe apraz,

E banaliza agressividade como norma,

Para tudo o quanto não se conforma.

 

Como seu pensamento, o único certo,

Quem imita seu agendamento esperto,

E não admite espaço para o diferente,

Cresce no raciocínio lógico onisciente.

 

Aufere-se direito de subverter regras,

Até das sociedades e nações íntegras,

Para subserviência à sua tirana razão,

A trazer as honrarias pela sua gestão.

 

 

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

O POÇEIRO EXAGERADO

 

 

Desde pequeno, via andarilhos,

Poçeiros a falar sobre os brilhos,

De pedras preciosas e achados,

Nos muitos caminhos andados.

 

Com botinas velhas e estragadas,

E vestindo roupas bem surradas,

Com a suja sacola nos ombros,

Sabiam mentir sobre assombros.

 

Ditos procuradores de nascentes,

Garantiam com os olhos ardentes,

Água farta a pouca profundidade,

Para vida confortável à saciedade.

 

Criavam o ar místico e exotérico,

De algum acesso oriental cármico,

Para um estado de concentração,

Capaz de achar água em profusão.

 

Com a forquilha, pêndulo e arame,

Sob o persuasivo ritual de alarme,

Que convencesse com a consulta,

Encenavam pela criteriosa ausculta.

 

Sempre que a escavação frustrava,

E a esperada água sequer jorrava,

Alegavam ter desviado um palmo,

Da preciosa vertente do ensalmo.

 

Um dia, apareceu um outro vidente,

Com garantia de poder clarividente,

E ao ouvir lamúrias pelo poço seco,

Foi até o local com ar de gelo-seco.

 

Para esnobar a capacidade superior,

Contou ocorrido no vizinho anterior,

Onde corrigiu erro de outro poçeiro,

Que falhou por um engano grosseiro.

 

Desceu ao fundo do poço escavado,

E com o olhar atento pelo resultado,

Puxou a bela adaga da sua cintura,

E ciscou a parede com rara bravura.

 

Fez pequena incisão no lado direito,

E de repente gritou por rápido jeito,

Para ajudá-lo a sair do grave perigo,

Daquele profundo e perigoso abrigo.

 

Alegou que saía e jorrava tanta água,

Que parecia enorme cabeça-d’água,

E, para evitar subsumir ali, afogado,

Alcançassem corda para sair alçado.

 

No exagero da sua bela encenação,

Alegou que o concorrente de ação,

Cavou o poço só 5cm da nascente,

E ele resolveu problema candente.

 

Sua exotérica ritualização por água,

Não verteu nada de similar deságua,

Mas levou uns trocos no seu andejo,

Na rota para algum outro lugarejo.

 

 

 

 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

CORCUNDA TERRA

 


Dobrada sobre o peso dos anos,

Vetusta e ferida por desenganos,

Anda desequilibrada e insegura,

Com a sua filharada em diabrura.

 

Os anos lhe roubaram a beleza,

E apesar de toda a sua inteireza,

Seus filhos mimosos já ingratos,

A agridem de modos insensatos.

 

A corcunda, torta de sofrimentos,

Vive só com minguados alentos,

Na resistência do amor maternal,

Apesar de filhos em ação infernal.

 

Cansada pelos desaforamentos,

Dos ambiciosos procedimentos,

De filhos ingratos e agressivos,

Já definha com os atos abusivos.

 

Tanto fez para que cuidassem,

E, entre si, muito se amassem,

Mas eles, no ar autossuficiente,

Destruíram jardim tão decente.

 

Sem colaborar com sua expansão,

Produziram o fogo da destruição,

E matam as plantas tão apreciadas,

E suas condições vitais e sagradas.

 

Resolveram buscar mais felicidade,

Na acumulação para sua saciedade,

Sem dó e, sem a ética de respeito,

Mas, causaram relação de despeito.

 

Esta obsessão doentia por acúmulo,

Faz com que fogo os leve ao túmulo,

E o superaquecimento mate a Terra,

Mãe que não os gestou para guerra.

 

Na falsa felicidade da acumulação,

O frenético avanço pela ambição,

Produziu tantos pobres relegados,

A inalar ares fétidos e acalorados.

 

Sem olhar para a velha corcunda,

Sequer refrescam a sua cacunda,

E não encontram um hidratante,

Nos gemidos do calor sufocante.

 

Cegos ante alterações climáticas,

Fazem guerras em ações erráticas,

E espalham tanto veneno mortal,

Que acaba com toda inalação vital.

 

Ainda resta meio de ajudar a Terra,

Com zelo pela rica vida que encerra,

Para que a saúde e alegria de viver,

Ensejem festa da criação a antever.

 

Não pode seguir a inércia de ação,

Diante desta fragorosa destruição,

Que produz as vítimas injustiçadas,

Em ambientes e vidas já colapsadas.

 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

SOB UM SISTEMA IMPLOSIVO

 

 

Tantos alertas de colapso iminente,

Não repercutem no sistema vigente,

Que cria uma cegueira generalizada,

E fere vida em declinação acelerada.

 

No útil e exitoso mito de progresso,

Tudo deve ser produtivo no sucesso,

E exibicionismo do ótimo resultado,

Gera o mundo humano desandado.

 

O extraordinário consumo induzido,

Em fenomenal publicidade e alarido,

Produz a ânsia voraz pela novidade,

E desmonta as regras da sociedade.

 

Ao fenomenal processo de produção,

Atrela-se tirânico poder de destruição,

A inchar a Terra com veneno de morte,

Produzindo agrotóxicos de toda sorte.

 

Como toda atividade precisa dar lucro,

Até guerra é adorada pelo sobrelucro,

Mesmo ocultando fome e sofrimento,

E ceifando seres por motivo birrento.

 

Ouvidos surdos da indústria poluidora,

Soltam veneno de forma devastadora,

E fechados ante o colapso planetário,

Matam um valioso projeto societário.

 

Mesmo sob o colapso em andamento,

Divino agronegócio do arrebatamento,

Preenche pobres mentes estupefatas,

Com publicidade que as torna ingratas.

 

Se o clima já torra rica biodiversidade,

E confirma a cada dia sua voracidade,

Impacta em nossa condição humana,

Com inoperância de projeção insana.

 

Uma teimosia na intoxicação sistêmica,

Insensível à condição terrena endêmica,

Eterniza as indústrias de contaminação,

E aposta só nas armas para conciliação.

 

Morte das organizações democráticas,

Com aumento das ordens dogmáticas,

Favorece um consumismo adoentado,

Sob a lógica de um lucro disparatado.

 

Não conta o esgotamento de recursos,

Ocultado por hiperfalaciosos discursos,

Mas vale a obsessão por muita posse,

Que nada agrega para morte precoce.

 

 

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

LIBERDADE E DESEJO

 

 

Tão marcados pela ideologia produtivista,

Já não sobra boa alternativa de conquista,

No campo da fraternidade e da convivência,

Pois tudo vale como objeto de preferência.

 

Os desejos criados e estimulados ao infinito,

Revelam insondável mundo ansioso e aflito,

Pelo que promulga sentido e gosto na vida,

Na dura bipolaridade de amor e ódio na lida.

 

A montanha de desejos da condição humana,

Tornou-se a inesgotável fonte que promana,

Luta por conquista com uma paixão violenta,

Sem simples cultivo de emoção que acalanta.

 

Então, sonhada liberdade é apenas o direito,

De cultivar o ilimitado desejo de preconceito,

Para garantir saciedade de posse e conquista,

Longe da benevolência que em nada contrista.

 

Sob uma ostensiva fala do direito à liberdade,

Justifica-se ação da dominadora superioridade,

Para praticar todo e qualquer maldoso negócio,

Como direito inalienável para um rendoso ócio.

 

Múltiplas persuasões disfarçadas e sugeridas,

Tornam-se critério para as mercantilistas lidas,

Onde se avalia pela utilidade e desempenho,

E o interlocutor é tratado com frio desdenho.

 

No processo de socialização atrelada a desejos,

O “pensamento único” dos capitalistas ensejos,

Já não deseja superar o mundo das maldades,

Porque estas gestam a essência das atividades.

 

Quando os males alheios também são pessoais,

A liberdade pressupõe atos bem exponenciais,

Que diminuam maldades sólidas e arraigadas,

Nas relações humanas, já vis e desrespeitadas.

 

Se o horizonte dos desejos não vê boas relações,

Seres humanos, meros objetos para aberrações,

Servem para a hedionda indústria da destruição,

Onde o poder bélico e guerreiro rege a educação.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O LOUCO AJUIZADO

 

 

            Nos idos tempos em que ainda funcionava, a plenos vapores, o Hospício São Pedro, no bairro Partenon de Porto Alegre, ocorreu um episódio interessante. Ali estavam confinados muitas e muitas centenas de homens e mulheres, internados como pessoas loucas.

            Quando alguém virava a “ovelha negra da casa” e todos descarregavam raivas e culpas sobre esta pessoa, ela acabava psiquicamente transtornada. Outros vinham de predisposições psicopáticas, maníacas, neuróticas, psicóticas, paranoicas e tantas outras morbidades insanas do seu ambiente familiar. A solução automática era a de encaminhar tais pessoas ao Hospício São Pedro, um império imenso de gente desvairada, andando por todo lado, entre muitos prédios. Uns andavam sem roupa, outros faziam cocô na porta de entrada do dormitório e assim por diante. Era um fenômeno que interpelava o juízo de quem se considerava lúcido e normal. Pessoas com transtornos psíquicos de todo Estado do Rio Grande do Sul eram internadas neste famoso Hospício São Pedro.

            Num dia destes, do alto de um dos prédios, pessoas da direção olhavam através de uma enorme janela a movimentação das pessoas internadas, andando para lá e para cá, nos imensos pátios arborizados. Um pouco adiante, via-se um lago majestoso, com entorno romântico de flores e arbustos, e uma movimentação deslumbrante de pássaros.

            Observaram que um dos internados, conversava com outros, ao lado do lago, e segundo informação posterior dos que ali se encontravam, este internado falou que iria suicidar-se. Sem muita cerimônia, jogou-se no lago, quando sequer sabia nadar. Um dos homens que estava ao seu lado, ao perceber o colega já estava se afogando, saltou imediatamente na água e conseguiu agarrar o pretendente do suicídio pelo cabelo e o trouxe para fora do lago.

            Sem demora, um dos funcionários foi até lá e chamou o socorrista para elogiar sua conduta e o seu gesto ajuizado e de bom-senso. Falou que já estava progredindo tão bem, que poderia ser liberado para sair do hospício muito em breve.  Lamentou, no entanto, que apesar do seu empenho edificante pela salvação do vivente, ele acabou morrendo por enforcamento, pois, estava ali perto, pendurado num galho de árvore.

            Foi, então que o ajuizado socorrista respondeu: não, ele não se enforcou! Eu apenas o pendurei no sol para que pudesse secar a sua roupa.

            Verificou-se, então, que a normalidade de juízo ainda estava muito aquém do nível suficiente para que o dito socorrista pudesse ser devolvido ao seu ambiente familiar.

 

<center>COLONIALIDADE</center>

  Este traço humano precípuo, Lídimo manifesto conspícuo, Revela na obsessão humana, Algo que choca e desengana.   Abrange modo ...