Não é recente a noção de que Deus
recompensa e abençoa a quem estima, e, que castiga quem é mau. Se assim fosse,
nem caberia nas manchetes a informação de castigos só dos corruptos do Brasil.
Muitos séculos antes de Cristo,
textos bíblicos em torno de Jó, já se inquietavam com esta problemática. Jó, um
homem justo, perdeu tudo, ficou muito doente e revoltou-se contra o sofrimento
que isso lhe causou.
Amigos próximos quiseram convencê-lo à força
de que tal situação decorria de um acerto de contas com Deus. Caso ele mesmo
não tivesse nenhuma situação de pecado, então estaria pagando o preço do
castigo pelo que algum dos antepassados teria feito contra os agrados de Deus.
Por isso, os presumidos amigos de Jó
queriam convencê-lo a reconhecer que era pecador a fim de reaver da parte de
Deus a bênção e prosperidade com os bens. Tal arrependimento poderia despertar
o olhar bondoso de Deus e levá-lo a tornar-se rico outra vez. Ao associar vida
feliz à prosperidade, queriam dar um salto mágico para livrar-se do sofrimento.
Jó não se conformou com a insinuação
e queria entender o sofrimento. Não aceitou de forma alguma que seu sofrimento
pudesse ser castigo por eventual impiedade e que, caso fosse justo, voltaria a
ser próspero.
Na revolta, Jó chegou a maldizer seu próprio
nascimento diante dos intensos sofrimentos, mas, reconheceu que escondiam uma
grandeza aos olhos de Deus; e assim Jó aceitou que no sofrimento se revela algum
mistério maior do amor de Deus e expressou a certeza de um dia visualizá-lo
face a face.
Séculos mais tarde, Jesus Cristo não
reafirmou a antiga teologia da retribuição do bem com o bem e do mal com o mal da
relação humana com Deus, mas mostrou solidariedade intensa e profunda com os
sofredores para ajudá-los a lidar com as limitações e levava-os a servir para
diminuir o sofrimento.
Pelo modo como Jesus assumiu o
enfrentamento das dores da condenação e morte, demonstrou responsabilidade e
não negou o sofrimento.
Passados mais de dois milênios do
testemunho e da ação de Jesus, volta com intensidade assustadora uma teologia
da prosperidade que explora doenças e momentos de sofrimento para subjugar
pessoas a agremiações religiosas e, de maneira ainda mais fanática e insistente
do que os amigos de Jó. No sofrimento precisamos de amparo e solidariedade, mas
em nada ajuda a chantagem para uma submissão com promessas falsas de cura, de
milagre e de resignação fatalista diante do que gera sofrimento. O que
carecemos nestas horas é o que Jesus tanto fez ao longo dos dias: ajudar as
pessoas a encontrar um significado para além do sofrimento e, sem nenhum rótulo
condenatório!
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