quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Renovação da vida



            Ainda que possa ser desconfortável e, até causar ímpetos de resistência, a lida com o passado acaba insinuando que nem sempre agimos do melhor jeito; e, a consciência logo nos aponta que poderíamos ter evitado muitas brigas, muitos desencontros e inúmeras rupturas que em nada melhoraram a satisfação pessoal e, nem tampouco, a boa convivência.
            Admitir a possibilidade de que a vida pode ser melhor do que foi é um pressuposto de muitas boas conseqüências: uma delas é a da alegria da antecipação do que vai melhorar. A condição de ser melhor, no entanto, requer reconciliação com o passado. E quanta gente sofre ao longo de décadas e, até pela vida inteira, porque não aceita e nem perdoa fatos que ocorreram no passado, com culpa ou sem culpa.
            Bem sabemos que o passado não muda mais, porém, nós podemos mudar a interpretação do que nele se manifestou e do que dele está registrado em nosso psiquismo. Entender doenças, dificuldades e marcas traumatizantes é condição básica para que este passado não seja determinante das mesmas reações diante de outros e novos acontecimentos parecidos. Aceitar, perdoar e brincar com o passado, pelo modo como se desencadeou, torna-se, por conseguinte, uma salutar terapia para viver melhor.
            A condição de confiança de que possamos viver dias melhores já nos predispõe para harmonizar o passado, a convivência e a auto-estima. Na Igreja católica temos uma longa tradição de um período cronológico forte e especial para esta motivação. E se este tempo – chamado de quaresma - quer constituir-se numa boa preparação da grande e significativa festa de Páscoa, nada melhor do que lembrar o mundo simbólico desta passagem a fim de efetuar outra passagem que leve a mais qualidade de vida!
            Quando tanta conversa, mesmo do âmbito religioso explora o medo em torno da satanização do mal, pois vê “diabo” em tudo, convêm lembrar a “Boa Notícia” de Jesus Cristo: não foi de barganha para submissão religiosa, nem da ameaça de malefícios, mas, foi precipuamente o da revelação de que Deus sempre dá chances para que possamos redimir-nos e ser melhores. Assim, mesmo vivendo em situações que fazem muito mal à nossa vida, podemos antever outras chances que, no modo de ser de Jesus Cristo, nos apontam um itinerário messiânico, isto é, um caminho que nos redime e nos salva.
            Se tantos ambientes humanos se transformam em ambientes de feras vorazes, ameaçadoras e vingativas, a “Boa Notícia” de Cristo nos aponta mais do que os noticiários – que nos bombardeiam com notícias ruins – uma postura leve e lúdica, do viver sob o olhar atencioso de um Deus bom. Nesta condição, as grandes tentações da ascensão social pela fama, poder e autoridade, deixam de ocupar a centralidade da vida e abrem espaço para uma convivência alegre e confiante.




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