Ainda que
possa ser desconfortável e, até causar ímpetos de resistência, a lida com o
passado acaba insinuando que nem sempre agimos do melhor jeito; e, a
consciência logo nos aponta que poderíamos ter evitado muitas brigas, muitos
desencontros e inúmeras rupturas que em nada melhoraram a satisfação pessoal e,
nem tampouco, a boa convivência.
Admitir a
possibilidade de que a vida pode ser melhor do que foi é um pressuposto de muitas
boas conseqüências: uma delas é a da alegria da antecipação do que vai
melhorar. A condição de ser melhor, no entanto, requer reconciliação com o
passado. E quanta gente sofre ao longo de décadas e, até pela vida inteira,
porque não aceita e nem perdoa fatos que ocorreram no passado, com culpa ou sem
culpa.
Bem sabemos
que o passado não muda mais, porém, nós podemos mudar a interpretação do que
nele se manifestou e do que dele está registrado em nosso psiquismo. Entender
doenças, dificuldades e marcas traumatizantes é condição básica para que este
passado não seja determinante das mesmas reações diante de outros e novos
acontecimentos parecidos. Aceitar, perdoar e brincar com o passado, pelo modo
como se desencadeou, torna-se, por conseguinte, uma salutar terapia para viver
melhor.
A condição
de confiança de que possamos viver dias melhores já nos predispõe para
harmonizar o passado, a convivência e a auto-estima. Na Igreja católica temos
uma longa tradição de um período cronológico forte e especial para esta
motivação. E se este tempo – chamado de quaresma - quer constituir-se numa boa
preparação da grande e significativa festa de Páscoa, nada melhor do que
lembrar o mundo simbólico desta passagem a fim de efetuar outra passagem que leve
a mais qualidade de vida!
Quando tanta
conversa, mesmo do âmbito religioso explora o medo em torno da satanização do
mal, pois vê “diabo” em tudo, convêm lembrar a “Boa Notícia” de Jesus Cristo:
não foi de barganha para submissão religiosa, nem da ameaça de malefícios, mas,
foi precipuamente o da revelação de que Deus sempre dá chances para que
possamos redimir-nos e ser melhores. Assim, mesmo vivendo em situações que
fazem muito mal à nossa vida, podemos antever outras chances que, no modo de
ser de Jesus Cristo, nos apontam um itinerário messiânico, isto é, um caminho
que nos redime e nos salva.
Se tantos
ambientes humanos se transformam em ambientes de feras vorazes, ameaçadoras e
vingativas, a “Boa Notícia” de Cristo nos aponta mais do que os noticiários –
que nos bombardeiam com notícias ruins – uma postura leve e lúdica, do viver
sob o olhar atencioso de um Deus bom. Nesta condição, as grandes tentações da
ascensão social pela fama, poder e autoridade, deixam de ocupar a centralidade
da vida e abrem espaço para uma convivência alegre e confiante.
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