quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Autoridade e compaixão



            Um assunto que com certeza mobiliza a conversa de muitos milhões de brasileiros está sendo o da indignação diante da forma como pessoas lidam com os bens públicos, e, como governantes, em nome da democracia, roubam não somente os bens, mas também a honra do povo. Revelam-se, literalmente insensíveis aos seus problemas.
            A insensibilidade produzida pela ambição é, sem dúvida, uma manifestação nitidamente diabólica, pois divide e marginaliza pessoas, mesmo que cultivem belos e bons sonhos, ou sentimentos humanitários para a vida. Na verdade, acabam relegadas e ainda deixadas em níveis de desprezo, jogadas à própria sorte.
            Da Bíblia podemos lembrar duas situações em que uma lida humanitária transformou a experiência de pessoas. Uma, é narrada em 2 Rs 5, 9-14; e, a outra, em Mc 1, 40-45.
            O primeiro texto descreve a atenção do profeta Eliseu ao estrangeiro, rico e poderoso, chamado Namaã. A doença levara este homem ao desespero e, ao ser informado de que em Israel, um profeta de Deus despertava transformação na vida das pessoas, foi procurá-lo, com muitos presentes, para demonstrar o status da recompensa de uma eventual cura.
Em nossos dias, quem tem muito dinheiro também alcança melhores tratamentos de doenças do que os espoliados. Embora o rico Namaã considerasse a terapêutica de banhar-se no rio Jordão (simbólico pela capacidade de regeneração através do batismo como sinal de discipulado) muito banal para sua doença, aceitou a tarefa mediante insistência dos servos e acabou curado da sua doença de pele. Para aquele homem rico, um grave problema de pele, iria, sem dúvida, ferir a auto-estima, desbancar a honra, o status, e relativizar a ostentação da riqueza.
Do agir de Jesus Cristo o evangelista Marcos salientou um gesto de outra perspectiva: não foi ao encontro dos que poderiam dar fama e muita fartura de recompensa econômica (precípua da ótica teológica da prosperidade, em que o enriquecer-se é interpretado como bênção!), mas foi ao encontro dos que estavam marginalizados. No meio destes, ele, como o profeta Eliseu, viu-se diante de um leproso, com um traço muito marcante: pobre e excluído!
Também este excluído desejou a inserção social. Jesus manifestou compaixão, venceu o tabu do distanciamento prescrito diante de leprosos, e revelou autoridade no jeito de Deus: mesmo contra a Lei oficial, valorizou o caminho e viabilizou o desejo do pobre, que era o de evadir-se da doença que o deixara à margem da sociedade.
Em nossos dias, grupo considerável de ricos, similares a Naamã, empina o nariz da auto-suficiência e busca comprar o que deseja. Descer à condição humilde de acolher um procedimento mais humanitário e de efetiva partilha, certamente os levaria a veementes resistências. No entanto, do caminho da compaixão, revelado num dia comum de Jesus Cristo, além do indicativo eficaz para a socialização, emergiu a clara interpelação que pode fazer muito bem para os quase incontáveis excluídos e relegados da sociedade. Dar-lhes atenção seria um passo, não uma sociedade de discursos democráticos, mas de ações efetivas em favor do bem-estar de todo seu povo!

            

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