quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Quando o coração se fecha



            Bem sabemos que a comparação alegórica do “coração fechado” não se refere ao órgão propulsor do sangue, mas a um modo afetivo de se relacionar com familiares e demais pessoas da convivência. São muito variados os fatos que levam alguém a sentir mágoas diante de certas pessoas: podem ser agressões verbais, gestos de desconsideração, modos de ser e de conversar, e, especialmente, os modos dos “não ditos”, ou seja, silêncios, olhares ou desvio de olhares. Estes costumam ferir mais o âmago dos sentimentos do que ofensas verbais.
            Na sutileza destas pequenas coisas nascem sentimentos de perda e de mágoa, capazes de romper a comunhão, quer com pais, irmãos ou outras pessoas. Mesmo sem maior gravidade de fatos, muitas pequenas decepções podem levar a uma autodefesa que pode ser identificada e comparada ao “coração fechado”.
            Dos Evangelhos sabemos que Jesus Cristo teve que lidar com muita gente magoada, ressentida, e, com rancor devido a dissonâncias na convivência. No Evangelho do Mateus, capítulo 18, versículos quinze a vinte, por exemplo, mostra-se que Jesus deu uma orientação importante às comunidades: o caminho do diálogo é muito melhor e muito mais eficaz do que ficar acumulando raivas decorrentes de desencontros ou de idéias ou de sentimentos.
            A tentação natural de reação, quando nos sentimos vítimas de variadas formas interpretadas como agressivas, é a de romper a conversa e a comunhão com estas pessoas. Bem sabemos que tal procedimento não resolve nada para superar o desencontro. Jesus indicou uma tarefa que, em primeiro lugar, exige humildade: conversar. Se não dá sozinho, sugeriu levar alguém para mediar o entendimento e, se assim mesmo nada resolver, que se proceda pedido ajuda à comunidade.

            Em nossos dias as comunidades passam por dificuldades de agregação, mas, mesmo assim, estão imbuídas de importante papel mediador para que seus membros se entendam e se respeitem. Elas também estão encarregadas de reaproximar quem dela se afastou. Tal responsabilidade precisa ser cultivada e coloca os membros de uma comunidade na missão de levar mais pessoas a integrar-se num projeto de comunhão. No caminho do discipulado de Cristo, o importante é ir e agir e não ficar  encalusurado em si mesmo.

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