Desde muito
cedo somos induzidos, pelos ambientes sociais do nosso entorno, a pressupor que
tudo possa ser negociável: qualquer feito, serviço, ou gesto, deve corresponder
a um poder de barganha com vistas a obter algum benefício ou alguma vantagem.
Até mesmo nas relações afetivas do ambiente doméstico, o jogo implica em
expectativas de recompensa por qualquer préstimo ou favor que venha a ser
feito.
Este cotidiano
do “tudo comercializável” facilmente interfere nos modos de vivência na
comunidade cristã. Assim, qualquer ajuda ou colaboração em favor da comunidade
implica em alguma perspectiva de retorno. Para muitos, até mesmo a exposição
mais notável em celebrações os leva a esperar recompensa, se não de elogios e
benemerências, pelo menos, muitos votos para cargos políticos.
Como o
dia-a-dia é de comercialização, não custa passar ao atributo de que Deus esteja
envolvido no mesmo jogo. Suplica-se, pede-se, implora-se, mas sempre em favor
de uma intercessão, vista como merecida. E ai de Deus se não for muito rápido
na concessão do que lhe fora pedido! E quanta conversa de gente a se lamentar
contra a ineficiência de Deus!
Numa
historinha contada por Jesus transparece o jeito de Deus totalmente distinto no
modo de agir (Mt 20,1-16): os contratados para trabalhar na vinha foram
recebendo o salário combinado, e, mesmo os últimos, que trabalharam apenas um
pouquinho, receberam pagamento similar ao daqueles que foram pagos por terem
trabalhado muitas horas antes, e, a mais.
A
meritocracia presente nas comunidades em torno dos eventuais serviços em favor
do bem comum chega a ser notável em nossos dias. Em primeiro lugar, já são
muito reduzidos os membros de uma comunidade que ainda se dispõem a efetuar
algum serviço gratuito. E quando o aceitam, geralmente, por curto espaço de
tempo, costumam declarar com um ar de superioridade moral: eu fiz minha parte!
Agora é a vez de outros também mostrarem gratuidade e suar um pouco pela
comunidade.
A historinha
contada por Jesus Cristo certamente visava membros do seu discipulado, que
gestaram as comunidades cristãs, porque já manifestavam traços desta conduta de
espera de retribuição por eventuais ações em favor do bem comum. Parece que
Jesus Cristo lhes deu a entender que se deve trabalhar sempre, e por puro dom
numa comunidade. Assim, os novos membros que a ela se agregam, mesmo tendo
feito pouco ou nada, são levados em conta por Deus da mesma forma como são
levados em conta os que já atuam há muitos anos ou décadas.
Por
conseguinte, os méritos de quaisquer atos ou gestos em favor da comunidade não
devem visar recompensas e nem mesmo a espera de especiais vantagens da parte de
Deus. Devem ser feitos, por gratuidade, como resposta ao amor de Deus.
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