Um filho bastardo de Zeus divino,
E de Alcmena do mundo humano,
Chamado Hércules, o viril e forte,
Foi contraditório na divina sorte.
Sem ser deus poderoso como o pai,
Em nada se sentiu um bom Adonai;
Sem ser um mero homem humano,
Teve que viver a lida do desengano.
O semideus de nascença ambígua,
Norteou a sua vida como o nígua,
Nesta contingência frágil, terrena,
Com alta rejeição na corte divina.
Hera, esposa de Zeus, no seu ódio,
Sempre o perseguiu, pelo episódio,
De ser fruto do ato da infidelidade,
Nesta vil condição da humanidade.
A Igreja católica em sua trajetória,
Efetuou um simulacro da inglória,
Ao gestar uma figura intermediária,
Entre Deus e a nossa vida ordinária.
Gestou padre no perfil tridentino,
Sujeito frágil, humano, feito divino,
Como mediador de divina salvação,
E instrumento augusto da redenção.
Redoma da formação presbiteral,
No tirocínio para um ser especial,
Produziu funcionários do sagrado,
Sem as virtualidades de iluminado.
Ideal do padre piedoso e afastado,
Relegou à história estranho legado,
Dum Hércules cheio de mil desejos,
Sem aprender a lida com remelejos.
Idealizado bom padre como clérigo,
Para iluminar no caminho esotérico,
Como ser, nem humano nem divino,
Não se adapta ao proposto destino.
Nunca formado para a sinodalidade,
Luta na sua denodada personalidade,
Para animar a fé dos fiéis no
caminho,
Sem amparo, nem o sinal de carinho.
É cobrado pelo que faz e que não faz,
E seu superpoder religioso não apraz,
Mesmo enlevado no centro do altar,
E dali, pouco consegue entusiasmar.
Na sua sensibilidade psíquica, capta,
O quanto a sua auto-estima impacta,
Por constituir-se o alvo de cobrança,
Para santidade de precípua bonança.
Ninguém quer saber o que ele sente,
Sob a sua veste simples ou reluzente,
Mas espera que seja um super-herói,
Que belas e faraônicas obras
constrói.
Não importa se está cansado e doente,
Mas, todos aguardam feição contente,
Na confirmação de todo pedido feito,
Sem nele reconhecer qualquer preito.
No fulgor dos semideuses venerados,
Sobrevivem frágeis solitários
isolados,
Que ouvem críticas ásperas e nocivas,
Como solteirões das quedas abusivas.
As cínicas e debochadas comparações,
A ironizar com denegridas ilustrações,
Os elevam como exímios pervertidos,
A esconder-se sob os panos coloridos.
Das raízes das convocações de Cristo,
Na Galiléia de pouco gesto benquisto,
Emergiu o seguimento de discipulado,
Que se desviou para poder exagerado.
Infelizmente a suposição onipotente,
Criou um clericalismo improcedente,
Dos metidos a Hércules trapaceiros,
Para agir como superiores loroteiros.
Sob a autoridade das capas douradas,
O detalhismo de ações ensimesmadas,
Em torno das rubricas e atos mágicos,
Leva-os a enaltecer poderes frásicos.
Propalam nas afirmações categóricas,
Verdades divinas nas formas
retóricas,
Para mapear com largas moralizações,
Toda a vida diária das cotidianas
ações.
Na sua longa e dispendiosa formação,
Aprenderam a ser elite da divina
ação,
A viver da teologia do pano colorido,
Que afirma poder superior instituído.
Como supostos semideuses especiais,
Criam os demorados e exóticos
rituais,
Rodeados pelos coroinhas e acólitos,
A auferir-lhes reverências e meneios.
Contra o mito da alta superioridade,
Do padre em sua ação na sociedade,
Existe elevado número de humildes,
Com perfil de ação de outros moldes.
Esmeram-se com discípulos do Senhor,
E oferendam a sua vida como penhor,
Para que o bom jeito de Jesus Cristo,
Ajude a criar mundo mais benquisto.
Bem distantes da Teologia das roupas,
E dos megalomaníacos guarda-roupas,
Vivem a simplicidade do seu ambiente,
E com ele levam vida muito relevante.
Homens retos, honestos e dedicados,
Na causa do Reino, bem apaixonados,
Que rezam e se cultivam na coerência,
Pela boa proximidade na convivência.
Mesmo captando os muitos não ditos,
Sentem-se, em sua fraqueza, benditos,
Porque esperam sinais de compaixão,
Da bondade divina em larga profusão.
Tateiam como tantas outras criaturas,
Buscam força nas sagradas escrituras,
No olhar focado aos sinais do tempo,
Sem o tédio do vaidoso passatempo.
Mesmo sentindo variadas cobranças,
Solidários com as sofridas andanças,
Partilham sua fé com o testemunho,
Duma mística de humanitário cunho.
Nem poderosos acima do bem e do mal,
E sem obsessão pelo simulacro
triunfal,
Movem-se como outros na contingência,
Sem os aparatos de gloriosa precedência.
Como discípulos movidos pela
esperança,
Esperam colaborar com Deus na
andança,
Da vida humana denegrida por
ambições,
Sem as solidárias e compassivas
missões.
Gestos pequenos e bem
despretensiosos,
Revelam os seus lídimos feitos
religiosos,
Que revelam o divino no ignóbil
humano,
Para que vida não se mova no
desengano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário