sexta-feira, 20 de junho de 2025

COLONIALIDADE

 


Este traço humano precípuo,

Lídimo manifesto conspícuo,

Revela na obsessão humana,

Algo que choca e desengana.

 

Abrange modo de ser e saber,

Ornado por ambição de poder,

Tanto em relações subjetivadas,

Como em ações incrementadas.

 

Parece que a ontologia humana,

Só permite tal noção doidivana,

Da fé e da política para mandar,

E dos congêneres se aproveitar.

 

Assim, um vetusto colonialismo,

Perpassa a história com cinismo,

Sem desleixo em ser explorador,

Do humano e natural esplendor.

 

Antiga procura de terras férteis,

Para obter os lucros interférteis,

Gestou o fito olhar expansionista,

Para ampliar e alargar conquista.

 

Mudam as formas colonizadoras,

Mas, não as ações exploradoras,

De países que mais acumularam,

Sobre outros que abocanharam.

 

Segue o colonialismo espoliador,

Que extrai com severo impudor,

Impõe a venda de seus produtos,

E os onera com pesados tributos.

 

Ambição invade distintos povos,

Elimina-os com os projetos novos,

Que suprimem toda a cultura local,

E impõem sua prescrição doutrinal.

 

Para obtenção do produto desejado,

Arruma-se argumento esfarrapado,

De que a cultura invadida é inferior,

E carece da sabedoria do dominador.

 

Povos são declarados infra-humanos,

E nada valem para superiores planos,

Porque qualquer colono insubmisso,

É eliminado como um ignóbil remisso.

 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

ENSEJO DE PASSEAR

 

 

Traço de antiga ancestralidade,

Alarga tão desejada dignidade,

Acolhendo presença de pessoas,

Para conversas animadas e boas.

 

O belo tempo do vínculo familiar,

Socializador num modo de amar,

Criava nas visitas de parentesco,

Rico modo de interagir burlesco.

 

No lúdico em meio à sobriedade,

Alargava-se translúcida amizade,

E se voltava contente para casa,

Enriquecido na motivação rasa.

 

A cordialidade fruída e recebida,

Deixava vida leve e enternecida,

E motivada para nova visitação,

Para conviver com boa emoção.

 

Rumo da colonização capitalista,

Encampou a visitação benquista,

Para privilegiada fonte de lucro,

Com deleite em ambiente pulcro.

 

Deslocou o velho entretenimento,

Com a viagem longa de fomento,

Para turismo planejado e rentável,

Em lugar mui aprazível e agradável.

 

Ao invés de passear, vai-se turistar,

Sob o comando para um turistificar,

Para os tão poucos lugares do Terra,

E, os polui numa verdadeira guerra.

 

No impacto sobre o meio-ambiente,

O turismo, meio altamente poluente,

Impulsiona renda de poucos países,

E não produz resultados tão felizes.

 

Maioria dos humanos sem recursos,

Sequer frui dos turísticos percursos,

Mas, é vitimada pelos gases tóxicos,

Produzidos por poucos seres lúdicos.

terça-feira, 17 de junho de 2025

SUMIÇO DA COMPAIXÃO

 

 

Com grandes líderes mundiais sádicos,

Perante gestores humanitários fadigos,

Surpreende prazer que alguns sentem,

No que, em sua malvadeza consentem.

 

                                                       A longa demora humana para avançar,

Sobre obstinada vontade de se vingar,

Ainda sem chegar ao patamar mínimo,

Estacionou sem elevar tom semínimo.

 

O sinal abundante com sobeja razão,

Encontrável numa mórbida emoção,

Alegra-se e festeja sofrimento alheio,

Em sarcástico e deplorável saracoteio:

 

Que os humilhados sofram e morram,

E os outros na prepotência se aferram,

No prazer de ampliar poder e domínio,

E bem felizes, por alargar o extermínio.

 

Afinal, o que lucram no ódio cultivado,

Para que todo diferente seja eliminado?

A violenta perseguição a grupos étnicos,

Não gera mínimos processos sintéticos.

 

Como poder não é determinista e linear,

Além de não conseguir a fome abrandar,

Encontrará imprevista reação das vítimas,

A arrostar as suas necessidades legítimas.

 

Violentos gângsters do crime organizado,

Na instância do poder tirano e malfadado,

Valem-se do agir despótico na governança,

Para intimidar na brutalidade da lambança.

 

Nada liberam que permita diminuir a fome,

Mas, tudo autorizam por arma que consome,

No grande lucro da venda de armas mortais,

Para matança com requintes os mais brutais.

 

Compaixão já sumiu de olhares arrogantes,

Que aos gritos soltam ofensivos berrantes,

E ainda roubam as minguadas esperanças,

Dos que anelam por solidárias governanças.

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

TECNOLOGIA INVOLUTIVA

  

Crescimento hipersônico da tecnologia,

Fantástica superação da paleontologia,

Versátil numa inteligência desvirtuada,

Gera insanidade doentia em disparada.

 

Quando se frui de apenas um mundo,

E de vida curta no conviver iracundo,

Já não reina esperança do bem-viver,

Mas, larga incapacidade de conviver.

 

Claro indício de retorno ao passado,

De milenares tempos de um legado,

Reativa vetusto mecanismo de ódio,

Por elevação de boa fama no pódio.

 

Na imagem de Caim que mata Abel,

Transparece o humano traço cruel,

Dos ódios de vinganças cultivadas,

Por razões estúpidas e desandadas.

 

Elevação da consciência ético-moral,

Propiciou o progresso todo triunfal,

Da regência para estabelecer justiça,

Sem matar pela vingança ou cobiça.

 

Enquanto tecnologia cresce e avança,

Senso de respeito humano sem fiança,

Cresce a crença de que matar pessoas,

Constitui ação altruísta das mais boas.

 

As guerras crescentes e ameaçadoras,

Feminicídios de violências aterradoras,

E, inteligência artificial a veicular ódios,

Só ampliam mortais e cruéis episódios.

 

Investida humana em arma de morte,

Sem uma edificação da humana sorte,

Aponta para o fim derradeiro sinistro,

Do bom-senso humano ambissinisto.

 

A tecnologia não mata os mosquitos,

Sequer inclina os corações contritos,

Para a reatância respeitosa pela vida,

Mas incita à alta destruição imerecida.

 

Os inocentes, dominados e espoliados,

Tem sonhos interrompidos e roubados,

Por governantes brutais e ambiciosos,

Vorazes pela fama e domínios valiosos.

 

Orações, e as cúpulas de organizações,

Nada movem consciências e corações,

Para tratar os conflitos e mágoas reais,

Sem armamento das destruições letais.

 

 

 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

ÓLEO DE RÍCINO - O TERROR

 

Na história dos primeiros tempos de Cunhataí não existiam farmácias com aqueles milhares de tipos de medicação. Praticamente toda enfermidade era tratada com medicação caseira. Não faltavam conhecedores de plantas para indicar mais remédio do que era necessário para algum sintoma de dor ou de enfermidade.

Enquanto as indicações permaneciam nos chás, tudo ia bem, pois, se eram muito amargos, acrescentava-se açúcar até que ficassem bem tragáveis.

Naqueles idos tempos, o que também não faltava nas casas, era multiplicação de pulgas, bichos de pé e piolhos, pois, cachorros, gatos e galinhas, tornavam-se hospedeiros, dos melhores, para estes minúsculos animais. Sua passagem para os humanos era facilitada devido à proximidade com estes animais domésticos.

Nas histórias dos que retornavam do serviço militar dos quartéis, comentava-se muito a respeito das infestações de percevejos e uma série de outros animaizinhos difíceis de serem eliminados, como sarna, mas, que sequer eram conhecidos na região de Cunhataí.

Ao lado das lidas para não sentir aumento da minúscula bicharada nos cabelos e outras partes do corpo, existia um outro pavor: ter que eliminar os helmínteos, - para os ricos, - e, para os pobres, os temidos vermes.

Pelo fato de crianças brincarem com gatos, cachorros e ficarem sujos de terra o dia inteiro, adaptavam seu organismo para apropriar-se de grande variedade de anticorpos, mas, também ficavam barrigudas a cada pouco de tempo, por excesso de vermes e parasitas intestinais que roubavam os nutrientes do seu organismo.

Muito diferente dos dias atuais, os tratamentos para combater verminoses, ainda não contavam com múltiplos tipos de comprimidos, fáceis de serem ingeridos e totalmente suaves nos efeitos.

Quando uma criança apresentava feição pálida, os pais já falavam que se tratava de vermes. Mesmo que elas respondessem que não eram vermes, pois, temiam tomar o remédio, único e largamente usado para tal combate, que era o temido óleo de rícino.

Não existiam crianças que não achassem ruim tomar óleo de rícino, mas, a cada pouco tempo, não tinham jeito de se livrar da obrigatória ingestão deste óleo tóxico. Feito a partir do óleo de mamona, era conhecido como limpador de estômago e de tripas. Os gozadores comentavam que era bom tomar, de vez em quando, uma boa dose de óleo de rícino, pois, não deixava qualquer resquício de algum fiapo preso nos intestinos. Como era altamente tóxico, este óleo fazia as crianças despachar até a mucosa intestinal.

Certamente não se encontrava criança que gostasse de ingerir este óleo. O normal, eram dias de birra e resistência, mas, quando ia ao limite, os pais seguravam a criança, alguém deles apertava o nariz da criança e a outra pessoa, -  ou o pai, ou a mãe, - metia um frasco de óleo goela abaixo. Isso dava um mal-estar enorme e, sem demora, uma disenteria, sem freios no caminho da evacuação. Muitas crianças começavam a vomitar imediatamente após a ingestão do aterrorizante óleo de rícino.

Para os mais sortudos, sobravam dois a três dias de diarreia bem desandada, que os obrigava a reservar-se um canto atrás das bananeiras ou no mandiocal, pois, a chamada “capunga”, ficava exclusiva para uma única pessoa. As reações peristálticas vinham rápidas e sequer deixavam tempo para procurar bom lugar de evacuação. Para não acontecer alguma desandada indesejada pelas pernas, ajeitavam-se na proximidade do local escolhido para evacuação.

Nas chamadas de presença na escola, era quase cotidiana a resposta de alguém que informava a ausência de irmão, irmã, ou de colega vizinho, de que estava em casa, com muita diarreia por causa do remédio contra verme.

Nas conversas dos intervalos, o assunto “óleo de rícino” ocupava muita narrativa sobre o terror deste líquido temido e desprezado. No entanto, devido a múltiplos fatores de pouca higiene, e, acima de tudo, de água infestada de coliformes e sujeiras, porque os poços, - geralmente rasos, - serviam tanto para tirar água para beber, quanto para tirar água com latões sujos a fim de tratar água aos porcos e outros animais. Normalmente localizados a céu aberto, onde facilmente entrava água que escorria pelo solo, tais poços constituíam fontes especiais para muitos tipos de vermes assegurar sua posteridade.

Constituía, também, praxe normal tomar água em córregos, quer na beira de estradas, ou nos matos, e como ali, outros animais silvestres e domésticos também bebiam água, era muito fácil absorver parasitas intestinais, como ameba, entanoeba e tantos outros.

Não poucas crianças, quando não lhes ocorria uma disenteria difícil e dolorosa com a ingestão do óleo de rícino, precisavam ser levadas ao médico devido à obstrução intestinal com a morte dos vermes, espalhados em grande quantidade no interior dos intestinos.

Nos dias atuais, o temido óleo de rícino das amargas recordações, é largamente usado como cosmético e até para uso tópico com vistas a eliminar dores articulares ou de músculos. Como uso externo ao corpo, o dito óleo, não gera mais temores e nem horripilantes terrores.

 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

REMÉDIO CONTRA FUMO

 

Há cinco ou seis décadas atrás, encontrar rapazes a partir de doze anos e demais homens adultos sem fumar, era algo incomum e estranho aqui, na região de Cunhataí. Os eventuais não fumantes, constituíam um grupo de ex-fumantes com os pulmões já definhados por excesso de cigarro.

Praticamente todos fumavam palheiros. Cigarros de palha e fumo não implicavam em grandes custos financeiros, pois, cada morador plantava fumo e fazia os grandes rolos do chamado fumo de corda, pretos com o cozimento de folhas, cujo líquido era derramado sobre aquelas cordas enroladas como meio de conservação.

Mesmo que praticamente todos faziam fumo, ainda sobravam alguns “mãos-de-vaca”, “pães-duros” e chamados de “pussucas”, mesquinhos, pois, só fumavam cigarros pedidos aos outros.

Muitos fumantes, para ostentar uma certa etiqueta em bailes e idas à Igreja, compravam cigarros industrializados e enrolados por papel branco. Aí, sim, parecia que o charme da fumaça encantava ainda mais as mulheres e moças. No entanto, não faltava “pussuca” para fazer parte do esnobe.

O Pedro Knapp tinha um tio, que morava na comunidade de São Roque, interior de Cunhataí, chamado de João. Bem casado, com boas condições econômicas, mas, como não teve filhos, sobrava mais tempo para ele e sua esposa trabalharem intensamente e acumular boas reservas em dinheiro. Não se sabia qual dos dois era mais “pão-duro”. Tudo era muito simples na casa deles, apesar de ser notável a limpeza e a ordem. O fato de não terem podido ter filhos, facilitava a boa apresentação do ambiente da casa.

O pai do Pedro, a cada poucos dias, falava para o Pedro:

- Vai fazer uma visita ao tio João! Ele anda tão só e isolado e, como não tem filhos, trabalha demais. Vai distraí-lo um pouco.

Pedro até gostava de ir lá, mas, sabia de uma coisa: de cara, ao chegar lá, já o tio pedia um cigarro para fumar. Além de não servir algum petisco ou convidar para o jantar, ou almoço, ainda “pussucava” mais alguns cigarros. Por isso, Pedro, resolveu dar um trote no tio para ver se parava de ser tão mesquinho. Foi na loja, em Cunhataí, comprou um charuto dos bons, de odor especial, e, mais um outro, daqueles chamados de “mata-rato”, feito a partir dos refugos das folhas de fumo e que, impreterivelmente, ou causava vômito ou diarreia desandada.

Pedro chegou na casa do tio fumando seu charuto, vistoso e cheiroso. A primeira coisa que o tio fez, foi pedir se não tinha mais um charruto na reserva. Pedro disse:

- Tenho, sim! E, já puxou aquele charuto de aparências: por fora, envolvido por uma folha de fumo amarelinho, mas, por dentro, veneno para rato. O tio pegou o charuto, deu algumas baforadas e, sem demora, deitou o charuto, ainda pela metade, na beira do fogão a lenha e saiu da cozinha. Aparentemente foi ao banheiro e demorou para retornar. Quando, enfim, chegou, pediu à esposa para fazer um bom chimarrão, pois, estava sentindo um pouco de indisposição na barriga.

A mulher preparou o chimarrão e passou a cuia para ele. Estava com feição um tanto estranha, tomou um gole e disse para a esposa, pegue a cuia, vou ter que ir no banheiro. Nem cruzou pela porta da cozinha e já deu para se ouvir uma eclosão de pufes, acompanhados de algo a mais.

Passou-se um bom tempo, e Pedro deu uma espiada para fora, pois, queria despedir-se do tio e ele demorava muito. Na deslumbrada dos olhares, viu o tio, sem roupa, dentro do tanque de lavar roupa e gritando para a mulher lhe trazer roupa limpa. Pedro aproveitou o lance, para não exultar numa gargalhada, e só falou um “até logo” e se mandou dali.

Dias depois, Pedro retornou a visitar o tio, e ele não pediu cigarro e nunca mais alguém o viu fumando. Afinal, o remédio aplicado foi de uma eficácia extraordinária.


segunda-feira, 9 de junho de 2025

CRIME BÁRBARO

  

            Naqueles tempos de muito bandidismo no oeste catarinense, a cidade de São Carlos foi surpreendida por um crime que deixou a pacata população profundamente abalada e largamente indignada com a morte cruel de duas pessoas muito estimadas e totalmente inofensivas.

            Criminosos entraram, numa noite, na casa de um casal de idosos e os matou com requinte de perversa crueldade. Além da matança do casal, do roubo e dos estragos nos móveis e equipamentos, não deixaram nenhuma pista. Era algo inominável, segundo as conversas. Muitas perícias e levantamentos de hipóteses não chegaram ao menor indício sobre quem poderia ter cometido crime tão hediondo e bárbaro.

As conversas, por longo tempo, não ficavam sem a centralidade deste assunto, mas, gradualmente, foram perdendo a importância, porque tudo continuava como um mistério. Os anos se passaram e o assunto caiu no esquecimento. No entanto, como nem todo mistério segue indesvendável para sempre, a pista dos criminosos se abriu por onde, certamente, nem eles mesmos poderiam suspeitar.

Em São Carlos, a Relojoaria do Senhor Rauber, era a única da cidade, mas, muito frequentada para consertos de relógios e, também, para compra de relógios, anéis e outras joias. Certo dia, alguém trouxe um relógio para conserto. Era relógio que o senhor Rauber tinha vendido, e ele, tinha um procedimento que praticamente ninguém sabia: colocava as iniciais do nome do comprador na parte interna da tampa do relógio. O que o homem que trouxe o relógio, provavelmente, não desconfiou por não saber do detalhe, é que o Senhor Rauber, quando abriu o relógio para o concerto, viu as iniciais do nome do legítimo comprador que tinha sido barbaramente assassinado junto com sua esposa.

Ao verificar aquelas letras iniciais, seu Rauber foi até a polícia e informou o que ocorrera diante de um pedido de conserto do relógio. Combinaram um horário para a entrega do relógio consertado, com quem o trouxe, e a polícia prendeu o sujeito naquela hora. No interrogatório policial, este confirmou o latrocínio e a matança do casal de idosos e ainda revelou a ajuda de um capanga que era seu vizinho. Em poucas horas, a polícia informou a prisão dos dois.

Presos na cadeia de São Carlos, a polícia temeu que os moradores iriam linchar os bandidos e os transferiu para Chapecó. Como a notícia do monstruoso crime repercutiu amplamente em toda a região e reacendeu a indignação profunda, em Chapecó, os dois bandidos, viveram por poucas horas. Uma grande multidão de pessoas invadiu a cadeia, onde os dois bandidos se encontravam, matou-os a pauladas, e, incendiou a cadeia como reação de vingança.

 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

A MOÇA QUE GOSTAVA DO CANAVIAL

 

 

            Nos primórdios de Cunhataí, as poucas famílias que ali residiam, seguiam um costume bem rígido no culto religioso, pois, todos frequentavam todas as celebrações e eram legalistas na observância das regras ético-morais e autoritárias, extremamente rigorosas, pelo menos no que concernia às aparências e exterioridades.

            A família do seu Caetano Barroso, uma das primeiras a se estabelecer em Cunhataí, contava com três moças adultas, bonitas e bem apresentáveis, além de perto de uma dúzia de crianças menores. Neste lugar, onde se comprava apenas sal, café e erva, tudo o mais era produzido na lavoura e também se plantava de tudo quanto poderia produzir alimentos. Era comum, sobretudo, na entrada de inverno cortar muita cana para fazer melado, a fim de abastecer o consumo de melado para o ano inteiro. Fazia-se muita rapadura, muito pé de moleque e o conhecido “puxa-puxa” que, cortado em pequenos pedaços, constituía o cardápio das balas da época.

            Era normal que alguém entrasse no canavial para escolher canas bonitas e de longos gomos para masca-los e deglutir o caldo destas canas. Dizia-se que era o melhor creme dental, pois deixava os dentes limpos e brilhantes. Tratava-se de rotina ver gente entrando e saindo de canaviais. Até mesmo para necessidades fisiológicas não previstas, os canaviais eram tidos como bom recurso.

A filha mais velha do seu Caetano, a Sulmira, era uma dessas pessoas que ia muito ao canavial. Um dia alguém reparou, que ela entrou no canavial e demorou mais de hora para sair de lá. Com a desconfiança atiçada, comentou o caso com seus dois colegas e estes ajudaram na espionagem do que acontecia no entorno do canavial, nos domingos, depois do almoço.

Sem demora, perceberam que o vizinho, e muito amigo do Caetano, também andava pela roça nos domingos de tarde, quando outros iam passear nas casas. De repente, viram ele entrar no mesmo canavial onde Sulmira costumava entrar, e o trio já pensou numa malandragem: no domingo seguinte, se observassem os dois entrar no canavial, iriam dar-lhes um trote. Ajeitaram tochas para meter fogo naquele canavial, rapidamente, e, de acordo com projeto bem delineado: os três rapazes definiram qual lado cada um iria incendiar e deixaram o quarto lado apenas parcialmente aberto sem fogo. Com ventos favoráveis, o fogo se espalhou numa rapidez impressionante e soltou estalos que parecia um grande foguetório de festa. Depois de alguns minutos, puderam, enfim, assistir um filminho de pornografia, ao olhar a corrida dos dois, para fora do canavial, pelados como Adão e Eva.

Aos gritos dos três incendiários, muitos outros vizinhos puderam ver, de longe, o cenário da nudez de Suzana e do vizinho, homem casado com meia dúzia de filhos. Os desnudos correram uns trinta metros e se adentraram num mandiocal. Para não serem muito sádicos com eles, os estragadores da hora do amor, deixaram-nos em paz naquele mandiocal, do qual não saíram antes do escurecer.

O evento se constituiu numa similaridade ao de furo de reportagem que permitiu comentários e gozações, de todo tipo, sobre o fato que quebrou os rotineiros temas das conversações em Cunhataí, durante algumas semanas. Só não sugiram outras novidades sobre eventuais movimentações da dupla flagrada no himineu do amor, porque as duas famílias se mudaram rapidamente de Cunhataí, sem deixar informação de paradeiro. Possivelmente ocorreram muitos conflitos e tensões nas casas dos envolvidos no amor da cana-de açúcar.

 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

O BANDIDÃO DO OESTE

 

 

            Entre setenta e oitenta anos atrás, a região do oeste catarinense constituía lugar de muito bandidismo. Fugitivos do Rio Grande do Sul, além dos que se criavam na região de Chapecó, encontravam nesta região, sobretudo no trajeto entre Chapecó e Campo Erê, já na divisa com o Estado do Paraná, o espaço perfeito para proteção, refúgio e continuidade nas lidas, onde a Lei era regida pelo revólver.

            Chapecó, nos seus primeiros, era região de muito crime e de violências bárbaras. De um lado, perseguições e vinganças com índios, tanto Xoklengs, quanto Guaranis; e de outro lado, pelos bandidos que se apossavam de terras e ninguém mais os tirava dali.

            Entre Chapecó e São Carlos, que na época era distrito de Chapecó, distante a quarenta quilômetros, moradores que tinham que ir a Chapecó, só tinham um meio de locomoção possível: no lombo de burro, e ninguém se arriscava a ir sozinho. Combinavam-se para ir em grupos, e todos armados de revólver para eventual auto-defesa diante de assaltantes.

            No trajeto entre São Carlos e Chapecó, morava o bandidão famoso, chamado Augusto Schaeffer, que espalhava terror até Campo Erê. Homem baixo, troncudo, sempre usava uma espécie de ponche para disfarçar o colete à prova de bala que usava por baixo, e nunca foi visto sem dois revólveres na cintura. Quando se deslocava de São Carlos a Campo Erê, andava rodeado por alguns capangas e ainda, um rifle pendurado nos ombros.

            Na sua casa, perto de São Carlos, os que por ali passavam, comentavam a respeito de diversas mulheres andando de lá para cá, mas, ninguém conseguiu saber se eram familiares ou amantes do Augusto. No entanto, o que se via, era pelo menos uma dúzia de crianças. Na área de terra invadida por ele, além do rancho, via-se uma pequena área de pasto, com diversas mulas e cavalos e uns roçados de capoeira, onde o gruo de capangas plantava milho para o trato dos animais. O resto dos meios de manutenção, provavelmente, provinha dos roubos.

            Quanto mais o Augusto roubava e matava, mais aumentavam as histórias sobre suas façanhas e o pavor de ter que defrontar-se com ele. Naqueles tempos, ainda não se pensava em roubo de banco ou de empresas, mas, os roubos mais comentados a respeito do Augusto, sempre envolviam apropriações de mulas e de cavalos. Tinha, sem dúvidas, as melhores e mais bonitas mulas da região. Bem tratadas para longas andanças, caso encontrasse alguma outra mula bonita e grandona, simplesmente a levava junto.

            Como o conhecido bandidão morava na beira da estrada, entre São Carlos e Chapecó, o medo dos que se deslocavam a Chapecó, era o de serem assaltados e roubados. Muitos, ao passarem ao lado da sua casa, o viam fazendo treino de tiro. Os capangas alinhavam uma porção de caixinhas pequenas de fósforo e ele espatifava uma após outra, com tiros certeiros. Na verdade, era um cangaceiro temido e sem medo. O local da sua moradia era de terra escriturada e com dono, mas ninguém se arriscava confrontar-se com ele, nem os poucos soldados estabelecidos em São Carlos.

            Augusto deslocava-se seguidamente de São Carlos a Campo Erê e neste trajeto existia uma estrada bem precária e uma imensa floresta de mato nativo. Especialmente, na região do atual município de Saltinho, ocorriam muitas mortes nas disputas entre bandidos. Seu Augusto, entrava na casa de pobres agricultores, recolhia milho para seus burros e os moradores, e estes, temendo serem mortos, até fugiam ou se escondiam para não se confrontar com ele. Assim como tirava milho, pegava cavalos e burros e abatia bovinos.

De fato, não era possível que alguém com uma espingarda “espera um pouco” quisesse enfrentar o Augusto, bem armado, protegido e ainda acompanhado de capangas, ostensivamente armados.

Numa primeira tentativa da polícia de Chapeco que veio para prender ou matar o bandidão Augusto, na aproximação do seu rancho, viram que ele vinha ao seu encontro, montado numa mula, e trazendo mais duas mulas amarradas nos arreios. Sob a ordem de prisão, ele começou a trocar tiros e saltou pelo lado esquerdo da mula e sumiu no mato, sem que os policiais o encontrassem.

            Durante décadas, o bandidão reinava solto e a seu bel-prazer, entre Chapecó e Campo Erê. Entre medo, pavor e pressão, a polícia militar de Chapecó, um dia, se equipou com o melhor que possuía, e enfrentou o Augusto na estrada, andando com seus capangas perto do rio Chapecó. No intenso tiroteio com Augusto e seus capangas de cangaço, a polícia levou vantagem, pois, um dos soldados acertou tiros que atingiram diversas partes do corpo de Augusto. Mesmo com colete à prova de balas, ficou incapaz para resistir e acabou sendo dominado. Os policiais resolveram tentar recurso médico em São Carlos, e, leva-lo ao incipiente hospital daquele distrito tiveram que atravessar o rio Chapecó numa canoa. No percurso da travessia do rio, com o Augusto gravemente ferido, aparentemente moribundo, ele ainda tentou uma última reação, mas, que acabou como proeza derradeira: numa certa altura da travessia, conseguiu fazer um jogo na canoa e ela virou, jogando todos na água. Ele ficou por baixo da canoa e acabou morrendo afogado. Os soldados, bem treinados, conseguiram nadar até a margem.

            Assim, o longo reinado do cangaceiro do Oeste terminou, e permitiu que aumentasse a segurança da população.

 

quarta-feira, 4 de junho de 2025

O DIABO NO CONVENTO DE FREIRAS

 


            Em meados do século passado, em São Carlos, SC, surgiu uma notícia alarmante que se prestou para incontáveis interpretações. O foco das informações veio do lugar mais insuspeito e inesperado: do convento das Irmãs Religiosas. Quatorze jovens estavam ali, estudando e sendo formadas a fim de serem futuras freiras. Naqueles tempos, muitas moças, em torno de dezoito a vinte anos resolviam ser freiras. A figura de uma irmã religiosa desfrutava de elevado status na sociedade, e elas, pelo cultivo da vida cristã, eram agradáveis, simpáticas e benquistas.

            Neste convento, bem edificado e próprio para morada segura para irmãs religiosas e as candidatas a serem freiras, a comunidade colaborou efetivamente com muitas doações e festas para aquela construção. Tratava-se de um orgulho ter irmãs religiosas em São Carlos, a fim de atuarem na escola e no hospital. O prédio de dois pisos, era amplo, confortável e seguro.

            As candidatas a freira dormiam na parte superior, num dormitório espaçoso e, pela lógica normal, não tinha como alguém de fora poder entrar naquele espaço. Mesmo assim, num domingo de noite, quando todas já estavam deitadas, foi ligada a luz e apareceu o diabo. Feio, todo de preto, com uma feição terrível e ameaçadora. Foi aquela gritaria desesperada das jovens correndo de um lado para outro e, de repente, uma delas conseguiu abrir a fechadura da porta, e todas correram para o primeiro pavimento. Nenhuma se arriscou a voltar ao dormitório. Passaram a noite, apavoradas e trancadas, na sala de aula.

            No clarear do dia, perceberam que faltava uma das colegas e já ficaram invocadas com a hipótese de que o diabo a levou junto consigo para o inferno. No outro dia, encontraram esta colega em outra sala e ainda ficou alegando que trancaram a porta, antes que ela chegasse a entrar.  O pânico tomou conta de todas as moças e algumas, já naquele dia, juntaram suas tralhas e sumiram do convento.

            Entre opiniões de autoridades policiais, as do pároco, e de muitos amigos das religiosas, ponderou-se sobre tudo quanto era possível nas fartas imaginações. Foi encaminhado uma vistoria em todos os espaços do convento e foram instaladas algumas trancas para maior segurança nas aberturas.

 Na mesma semana, eis que o diabo apareceu novamente naquele dormitório entre as poucas candidatas a freira que ainda estavam no convento. O mesmo pânico, o mesmo desespero, a mesma gritaria e a mesma debandada escada abaixo. Uma delas, no entanto, percebeu que a mesma colega, que ficou para trás na outra vinda do diabo, estava calma e pouco alterada. Desconfiou da coragem da colega Marciana.

            Já no outro dia a conversa sobre a nova aparição do diabo, se espalhou rapidamente pelo município. Vinha gente para ver, muitos duvidando, literalmente, que pudesse o chifrudo ter aparecido ali. Antes mesmo que o assunto da conversa geral sobre o diabo se amainasse, as freiras conseguiram desvendar parte do misterioso aparecimento do diabo, naquele ambiente, meigo, puro e supostamente santo. Com evidentes suspeitas sobre a participação de Marciana no episódio, conseguiram um esclarecimento: ela abria uma janela, amarrava dois lençóis e os deixava pendurados rente à parede, na parte dos fundos do dormitório, onde tinha um belo arvoredo de frutíferas.

As Irmãs chegaram a ter certeza de que se tratou dum conluio entre a Marciana e algum homem, que se vestia com a máscara, subia, com a ajuda dos lençóis até o dormitório, entrava pela janela e apavorava as meninas. No entanto, quem seria este homem?

Passaram-se meses e anos e nenhuma evidência foi confirmada sobre a entrada de alguém mascarado para assustar as meninas. Enquanto nada se delineava, todas as meninas desistiram do convento. A falação relativa ao diabo foi esmorecendo e, com o passar das décadas, o assunto ficou esquecido. As freiras foram embora de São Carlos, e ficou aquele sentimento de perda, porque elas eram estimadas e muito prestativas, sobretudo para a boa formação das crianças.

Quando pouca gente ainda lembrava o caso, da forma mais inesperada possível, pedreiros, contratados pelo ex-prefeito da cidade, daquela época, - para reforma no telhado, - ao começaram a tirar as telhas, encontraram, ali no sótão, a máscara daquele conhecido e apavorante capeta. Finalmente, elucidou-se o caso: o diabo que entrava no dormitório era o prefeito da cidade de São Carlos, e a Marciana, jovem aparentemente propensa a ser freira e que facilitou a sua entrada no convento, era uma de suas amantes. Enquanto as demais jovens nem dormiam de pavor, a Marciana aproveitava o dormitório para intimidades com o prefeito.

 

 

terça-feira, 3 de junho de 2025

O PODER DA PINGA

 

 

            O senhor Antônio Mesadre e sua esposa Judite moravam na beira da estrada de chão que ia de Catuípe, RS, ao primeiro distrito de Colônia das Almas. Como era comum, para quem não conseguia comprar área de terra ou um lote urbano, o casal se estabeleceu na faixa de reserva da estrada. O rancho de chão batido era contornado por algumas árvores de sombra que se emendavam a uma área de capoeira, na beira de um penhasco.

            Com o passar dos anos, o rancho teve que receber umas emendas de aumento porque a filharada foi aumentando e crescendo. Como seu Mesadre era diarista, não sobrava muito dinheiro para comprar tábuas bonitas e bem aplainadas. Valia-se de costaneiras que podia ajuntar à vontade nas serrarias.

Quando já estavam com onze filhos, ocorreu um imprevisto. A filha mais velha começou a dar sinais de que estava grávida. Seu Mesadre, não se conformava com a ocorrência e começou a compensar-se na cachaça. Quando andava bem turbinado, falava para todo mundo que sua filha era uma cadela que estava esperando cria.

Um dia, bem embalado pela pinga, ao invés de ir para o serviço, foi para a cidade, com seu enorme facão três listras. Andava pela avenida principal, caía, levantava, e batia o facão contra poste de luz, contra os muros e grades de ferro, e gritava a mesmas palavras: eu mato este filho da p (***)!

Como ninguém sabia quem era este sujeito, e, com medo de que entrasse nas casas ou lojas, alguém ligou para a polícia. Rapidamente veio a viatura com quatro policiais: saíram, e logo cada um ocupou suas duas mãos: uma, para segurar o cassetete e a outra para fazer um mimo com afagos no revólver pendurado na cintura. Com muito cuidado, rodearam o Mesadre; e o comandante o indagou:

- Quem é o cidadão que você está querendo matar?

Respondeu o Mesadre:

- Aquele filho da p (***) que fez “catatá” na minha filha!

Entendida a razão das batidas de facão para todo lado, os policiais recolheram o dito facão, e como o Mesadre estava altamente embriagado, sequer o levaram preso. Na verdade, conheciam bem seu Antônio Mesadre. Sem a cachaça, era homem simples, honesto e muito trabalhador.

Alguns dias depois, quando já estava curado do porre, já tomando o chimarrão da tardezinha na frente do rancho, veio um carro e parou ali. Saíram duas mulheres e um homem e vieram até o pátio do rancho. Informaram que estavam fazendo o recenseamento. Seu Mesadre e a esposa Judite arrumaram uns cepos para que se sentassem e depois de diversas questões preenchidas, veio a pergunta sobre o número de filhos.

Seu Mesadre falou que eram onze; e debulhou o nome dos onze; e já soltou um grito para que todos viessem para junto dos visitantes. Eles contaram os presentes e uma das senhoras falou: mas são só dez filhos!

Seu Mesadre, logo respondeu:

- É, falta a cadela, a mais velha, a Raimunda! Quando viu vocês chegar, fugiu para o mato.

Como tudo começou a piorar na vida do seu Mesadre, semanas depois, teve a triste notícia de que um de seus filhos, com 9 anos, estava com leucemia. Tal fato deu motivo para uma novena de porres de intensas romarias ao bar.

A Secretaria da Saúde fez os procedimentos para que o menino fosse levado a Porto Alegre e ser submetido a sessões de quimioterapia, no hospital Santa Casa. Como o menino era menor, seu Mesadre foi junto. Chegando lá, teve que informar alguns dados para a ficha de entrada. A atendente pediu:

- É solteiro ou casado?

Ele respondeu num jeito bem convencido: que nada! Eu sou casado com a Judite!

- A atendente também pediu sobre o número de filhos. Ele disse que eram onze, mas, só citou dez. Ela perguntou sobre a décima primeira:

- Ah! Sim: esqueci a cadela!

- Uai, respondeu ela: você conta cadela como filha?

- Que nada, respondeu ele: é a Raimunda, a mais velha, que está barriguda porque um cara fez “catatá” nela.

Apesar do desempenho médico, o menino veio a falecer depois de algumas aplicações de quimioterapia. Seu Mesadre, ao saber do ocorrido não conseguia conformar-se com a morte do filho. Quando trouxeram o corpo de Porto Alegre, para o velório, o velho não parava de chorar compulsivamente. Para tentar acalmá-lo, os amigos começaram a dar-lhe alguns goles de pinga. Aos poucos, ele foi se acalmando e pedindo mais e sempre mais, até que o dito velório triste acabou numa festança com muita cachaça. A uma certa altura da noite, com todos os amigos presentes em elevado grau de embriagues, deixaram o menino morto sozinho no caixão e dançavam no lado da capoeira e pisotearam um eito de arbustos mais baixos com as danças.

Sob o comando da pinga, o seu Mesadre nem mais se abalou com as orações fúnebres e o enterro do menino. Dois dias depois, ele foi para a cidade, a fim de ajeitar a papelada relativa à morte do filho e, perto do cartório, encontrou seu irmão Jorge.

- Meu “ermão” Jorge! Disse Mesadre: anteontem tivemos uma farra muito bonita. Pena que você não estava presente.

- Mas o que aconteceu, perguntou o Jorge!

- Ué, falou o Mesadre, você não ficou sabendo que morreu meu filho Marquinhos. Foi uma farra e chegamos a tomar seis garrafões de cachaça.

- Oh! Que pena ter perdido esta festa, mas, faz o seguinte: quando morrer outro, pelo menos me avise, para que eu não perca a chance de tomar uma pinga gostosa de graça.

 

 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

PROJETOS INACABADOS

 


Tanto na dimensão pessoal,

Quanto na projeção grupal,

E também na ordem social,

Reina a característica fulcral:

 

Muito projeto programado,

E pouco trabalho devotado,

Para o desejo ser realidade,

E suprir anelo da ansiedade.

 

Até longa história humana,

Prometeu muito e engana,

E faz o itinerário no tempo,

Mas, vive de contratempo.

 

Obras valiosas e inacabadas,

Refletem palavras relegadas,

E a mudança de prioridades,

Nas escolhas de celeridades.

 

Encantamentos repentinos,

Mudam rumos e seus atinos,

Atribuídos ao agir do tempo,

Ou, ao supino contratempo.

 

Desejo de sucesso imediato,

E o esmorecimento do trato,

Nas promessas descumpridas,

Produzem as queixas alaridas.

 

Falta da sonhada estabilidade,

Nesta buliçosa mutabilidade,

Rouba a tolerância necessária,

Para a estabilidade ordinária.

 

Incompletude e mutabilidade,

Características da humanidade,

Nos tornam seres de mudança,

Que pouco confirmam a fiança.

 

Quando todo novo é provisório,

Qualquer prognóstico aleatório,

Desconstrói interesses e planos,

E induz a frustrados desenganos.

 

 

sábado, 24 de maio de 2025

ORDEM PARA INOVAR

 

 

As palavras mágicas para consumo,

Como macio, suave, e supra-sumo,

Remetem às da alta sugestão: novo,

E, com ele, “inovar” para o renovo.

 

Promessa boa associada ao inovar,

Produz obcecado culto ao renovar,

Seja na política, indústria ou culto,

Ou agropecuária pelo poder oculto.

 

Inovar, a ordem dada a incorporar,

Faz quebrar a anterioridade do lar,

Sob a promessa de facilitar a vida,

Com uma novidade engrandecida.

 

Até a convocação de ato religioso,

Agrega a magia de algo prodigioso,

Porque será novo, belo e inovado,

A fim de atrair um grande legado.

 

No recurso da tecnologia inovada,

Faz-se poderosa oferta motivada,

Com sorte, lucro, dinheiro e poder,

Para o contínuo auto-transcender.

 

A alta voracidade pelo que é novo,

Oculta o passado cultural do povo,

Sob o sonho do benefício inovador,

E relega valioso processo agregador.

 

Quando tudo deve mover inovação,

A ordem onipresente é contradição,

Porque na grande oferta açucarada,

Oculta-se o lixo da vida descartada.

 

Inovação, a ordem inquestionável,

Leva a deslize do quanto é estável,

E sem a memória da história vivida,

Futuro vegeta como verme suicida.

 

Conduzidos pelo culto à novidade,

Os passivos reféns da efemeridade,

Revelam-se evasivos e superficiais,

Sem interioridade de dotes naturais.

 

<center>COLONIALIDADE</center>

  Este traço humano precípuo, Lídimo manifesto conspícuo, Revela na obsessão humana, Algo que choca e desengana.   Abrange modo ...