terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O TOCO VELHO

 


Fruto de um tronco decepado,

Está ali na eira, todo esfalfado,

Sem a memória da mutilação,

E, mudo na grandiosa função.

 

Impregnou corpo majestoso,

Elegante, forte e todo vistoso,

Solidário com o seu contorno,

Auferia sombra e belo adorno.

 

Longa história de vida efusiva,

Na virtualidade comunicativa,

Soltava sentido e razão de vida,

E captava boa lida enternecida.

 

Esfalfou sua casca com tombos,

De outros troncos com rombos,

Que caíram em estrondos fortes,

Sem amparo de firmes suportes.

 

Vitimadas pela ambição humana,

Em sua agressividade doidivana,

Árvores da tão pródiga natureza,

Esmorecem golpeadas na dureza.

 

Da exploração da madeira nobre,

Permaneceu apenas o toco pobre,

Eivado pelas cinzas causticantes,

Das cruéis queimadas rasantes.

 

O toco velho está ali silenciado,

E seu coração bem dilacerado,

Ainda suga do subsolo dadivoso,

A seiva para recomeço exitoso:

 

Pequeno broto emerge da raiz,

E teimosamente fecha a cicatriz,

Para sobreviver mesmo solitário,

E anelar por sonho comunitário.

 

Vitimado pela serra e machado,

Sente-se todo dia importunado,

Pelos xixis uréicos de cachorros,

E o desdém de larápios gatorros.

 

Já não atrai atenções afetuosas,

Nem o amor de lidas carinhosas,

E, sem a memória da fase vivida,

Não encontra interação querida.

 

Já não é mais árvore imponente,

Com seu histórico proeminente,

Da seiva tirada do solo profundo,

E elevada ao ornamento fecundo.

 

 

Já não acolhe pássaros e insetos,

Nem enseja olhares circunspetos,

Pois foi precocemente silenciada,

E teima para não ser postergada.

 

Distante de receber bons abraços,

E seu corpo sem oferecer regaços,

Resta-lhe só a solitária resistência,

No desprezo da sua benemerência.

 

Seu coração, outrora tão sensível,

Agora na apatia de feição sofrível,

Reflete a dureza do agir humano,

A produzir seu próprio desengano.

 

Derradeiro clamor do velho toco,

Contra doentio e obcecado foco,

Grita pela interação de mais vida,

Cegamente pisoteada e esquecida.

 

Crescera amparado e escorado,

Num solidário espaço acostado,

Da floresta cheia de vitalidade,

Com nutrientes para saciedade.

 

Agora, já isolado e desamparado,

Sem voz a falar do exitoso legado,

Fala, apenas, sob o silêncio triste,

Que integra vida que ainda existe.

 

 

 

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