Advindo de uma beira social,
Da realeza, apenas marginal,
Interpretou sofrido contexto,
Vítima do religioso pretexto.
Sua marca original e genuína,
Criticou mazela da triste sina,
Dos fiéis auto-atribuídos bons,
Estabelecidos em ilusórios tons.
Interpretavam-se os superiores,
Privilegiados de divinos favores,
Pelo seu código ético-religioso,
Orgulho dum povo prodigioso.
Pelos seus frutos de vida real,
Revelavam contradição fulcral,
Pois viviam da baixeza humana,
Da espoliação e guerra insana.
Crença religiosa, apenas formal,
Articulava estrutura institucional,
Que em nome do mero legalismo,
Organizava a fé em cruel cinismo:
A riqueza da injusta acumulação,
Atribuída a uma divina atribuição,
Justificava uma elite privilegiada,
E garantia sua posição aquilatada.
Pobres espoliados, na eira da voz,
Ficavam passivos ante ação algoz,
Do poder político-religioso devasso,
De fruto social pifiamente escasso.
João Batista, sujeito simples e reto,
Pobre, mas de um espírito inquieto,
Não desejava riqueza com honraria,
Mas, na vida humana uma melhoria.
A sociedade injusta e empedernida,
Sustentada na imagem construída,
Orgulhava-se de ter Deus presente,
Como o parceiro de ação eficiente.
Mesmo suposta morada no templo,
Deus não constituía bom exemplo,
Porque estimulava o ódio da guerra,
E toda perversidade que ela encerra.
Era o Deus dos privilégios de ricos,
A justificar a pobreza dos nanicos,
E culpa-los por degradada situação,
Bem merecida pela sua ingratidão.
Na diagnose do disparate social,
João Batista intuiu a ação de ira,
De Deus ante tamanha mentira:
Estaria na eira para uma limpeza,
Desta legalista e aparente pureza,
Da religião dum controle austero,
Nesta vida sob um regime severo.
Nesta ótica a fala de João Batista,
Pressupunha uma necessária vista:
Conversão para outra convivência,
Sem aquela Lei e religiosa vigência.
Batismo como sinal de conversão,
Seria carimbo para apontar reação,
À injusta realidade de vida vigente,
Que deixava pequena elite contente.
Desagradou tanto os pobres passivos,
Quanto os ricos, em fitos defensivos,
Embora, sem visar poder e conquista,
Representava uma subversão malvista.
Silenciado pela vingativa
decapitação,
Sua voz causou a estupenda irritação,
Mas, tornou-se novo caminho aberto,
Para acolher Jesus em projeto liberto.
Não confirmou nenhum Deus vingativo,
Mas, o Deus bom de auspicioso
lenitivo,
Para fazer irromper Reino
diferenciado,
Sem o pobre explorado e rico dourado.
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