O profeta Isaías, quando tentou animar o povo que regressava do exílio,
valeu-se de uma imagem forte de um casamento efetivamente bom: ela (o povo) já
não seria mais chamada de abandonada, mas de predileta, a donzela que propiciaria
a alegria do noivo (Deus).
Os frutos
desejados pelo profeta, contudo, não se realizaram da forma esperada, porque a
relação do povo com Deus, nos séculos que antecederam a chagada de Cristo,
revelaram muito formalismo e pouco amor concreto por parte da donzela. O
profeta Oséias escreveu muito sobre esta situação do noivo desejar ardentemente
o convívio, mas a lamentável condição de ela preferir a prostituição. No
entanto, nem mesmo assim, o noivo teria deixado de apostar na possibilidade de
ela mudar de vida e reiniciar um processo estável de complementariedade.
O evangelho
de São João abordou um casamento com traços muito diversos daqueles mencionados
pelos profetas para destacar o aparecimento de Jesus Cristo. Do casamento de
Caná surgem destaques ao vinho abundante e gostoso, para indicar que um novo
casamento, o de Jesus com os discípulos, estava sendo o de talhas cheias. Em
outras palavras, Jesus deu uma razão e uma perspectiva para que o antigo anseio
dos profetas, finalmente pudesse viabilizar-se na comunidade de fé.
Enquanto que
as talhas vazias representavam o esvaziamento do cultivo da fé, porque o
formalismo legalista havia anulado o sentido da alegria, da festa e do
bem-estar, para festejar a presença do noivo (presença de Deus). Com o gesto de
Jesus, reinicia-se este novo tempo de festa da presença de Deus conosco (vinho
novo e mais gostoso).
Infelizmente,
em torno do que despertou a alegria do casamento de Caná, conseguimos, com o
passar do tempo, novamente esvaziar estas novas talhas com sacramentos e
discursos teológicos, devocionalismos sincréticos e intimistas. Nossa
argumentação religiosa pouco entusiasma e oferece poucas razões de alegria e
esperança para ratificar a celebração da presença do noivo: afinal, parece
constituir um enlace de poucas perspectivas e de pouca eficácia da memorável
presença de Jesus Cristo!
Quer-se um “Jesuscristinho” para
emoções, divino e meigo, para suprir desejos e necessidades subjetivas, mas, em
contrapartida, não se quer um Jesus Cristo que convida a agir positivamente na
vida a fim de que a alegria da festa não constitua um embriagar-se momentâneo
de vagos sensacionalismos e milagres vulgares.
No casamento de Caná iniciou-se um
difícil caminho de restauração, que nos move na esperança de que o aparecimento
de Jesus pode sim, nos apontar um caminho de aliança nupcial com ele e que
indica a plena glória de um tempo messiânico porque no rosto de Jesus revela-se
um rosto de um bom Pai do “noivo”.
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