Em nossos
dias, como no tempo de Jesus de Nazaré, cultiva-se um verdadeiro fascínio em
torno da grandeza, do poder e da capacidade superior de ações milagrosas. Dá-se
a impressão de que tudo quanto é fácil, rápido e favorável aos interesses
imediatos gera um verdadeiro e exacerbado encantamento. Simultaneamente
desenvolve-se ojeriza e resistência a tudo quanto implica em projetos e
perspectivas de mudança.
Até mesmo o
discurso relativo a Jesus Cristo, quando foge da dimensão milagreira,
curandeira e de satisfação intimista, enfrenta explícita resistência. Sobretudo
quando o ponderar sobre algo que envolve justiça, desconcentração de riqueza e
formas legitimadas de acumulação de poder político e econômico, parece despertar
uma nítida incompatibilidade em torno do que Jesus Cristo aponta.
Nas andanças pelos caminhos, Jesus
foi bem recebido em sua terra natal, um pequeno povoado. Rapidamente
desencantou aquelas pessoas e as moveu à tentativa de linchamento, porque
frustrara suas expectativas de vantagens fáceis de autoafirmação. Ele, no entanto, não se intimidou com o
fracasso.
Pelo texto
evangélico de Lucas (4,21-30), pode-se deduzir que tal narrativa tinha um
significado especial para as comunidades daquela época, mergulhadas em
múltiplas dificuldades que indicavam a iminência do fracasso, para que
lembrassem a determinação explicitada por Jesus Cristo diante da contrariedade.
Apesar do fracasso diante dos seus
conhecidos, que tentaram matá-lo, Ele prosseguiu andando pelo caminho. Não
gastou tempo para vingança ou retaliação e, nem se entregou à inércia diante da
falta de mínimo sucesso no seu anúncio profético!
Continuar o
caminho, também em nossa contingência, requer tanto de uma condição interior de
humildade, quanto de sólida determinação para buscar algo novo e mais valioso.
Não se pode ficar simplesmente em passiva espera para que um redentor
paternalista venha fazê-lo por nós e em nosso lugar.
Apesar das intensas
buscas de ajuda divina, as vozes proféticas tendem a ser caladas enquanto se
desnudam escancaradas, cada dia mais, a indiferença diante das graves situações
sociais, e a acomodação para que nada seja mudado: nem a prática religiosa, nem
a piedade exterior e formalista, e, menos ainda, o falso ideário de um “Jesus
Cristinho” que resolve tudo! E, se por acaso, não resolve, basta apelar para
sua mãe, assimilada como ainda mais dadivosa e portentosa para perpetrar a
mesmice de uma vida sem graça. Certamente não é este o caminho que ela aponta
para o itinerário de fé!
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