quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Encantamentos e resistências



            Em nossos dias, como no tempo de Jesus de Nazaré, cultiva-se um verdadeiro fascínio em torno da grandeza, do poder e da capacidade superior de ações milagrosas. Dá-se a impressão de que tudo quanto é fácil, rápido e favorável aos interesses imediatos gera um verdadeiro e exacerbado encantamento. Simultaneamente desenvolve-se ojeriza e resistência a tudo quanto implica em projetos e perspectivas de mudança.
            Até mesmo o discurso relativo a Jesus Cristo, quando foge da dimensão milagreira, curandeira e de satisfação intimista, enfrenta explícita resistência. Sobretudo quando o ponderar sobre algo que envolve justiça, desconcentração de riqueza e formas legitimadas de acumulação de poder político e econômico, parece despertar uma nítida incompatibilidade em torno do que Jesus Cristo aponta.
Nas andanças pelos caminhos, Jesus foi bem recebido em sua terra natal, um pequeno povoado. Rapidamente desencantou aquelas pessoas e as moveu à tentativa de linchamento, porque frustrara suas expectativas de vantagens fáceis de autoafirmação.  Ele, no entanto, não se intimidou com o fracasso.
            Pelo texto evangélico de Lucas (4,21-30), pode-se deduzir que tal narrativa tinha um significado especial para as comunidades daquela época, mergulhadas em múltiplas dificuldades que indicavam a iminência do fracasso, para que lembrassem a determinação explicitada por Jesus Cristo diante da contrariedade.
Apesar do fracasso diante dos seus conhecidos, que tentaram matá-lo, Ele prosseguiu andando pelo caminho. Não gastou tempo para vingança ou retaliação e, nem se entregou à inércia diante da falta de mínimo sucesso no seu anúncio profético!
            Continuar o caminho, também em nossa contingência, requer tanto de uma condição interior de humildade, quanto de sólida determinação para buscar algo novo e mais valioso. Não se pode ficar simplesmente em passiva espera para que um redentor paternalista venha fazê-lo por nós e em nosso lugar.
            Apesar das intensas buscas de ajuda divina, as vozes proféticas tendem a ser caladas enquanto se desnudam escancaradas, cada dia mais, a indiferença diante das graves situações sociais, e a acomodação para que nada seja mudado: nem a prática religiosa, nem a piedade exterior e formalista, e, menos ainda, o falso ideário de um “Jesus Cristinho” que resolve tudo! E, se por acaso, não resolve, basta apelar para sua mãe, assimilada como ainda mais dadivosa e portentosa para perpetrar a mesmice de uma vida sem graça. Certamente não é este o caminho que ela aponta para o itinerário de fé!

            

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